segunda-feira, 31 de dezembro de 2018

2019: O ano do mit... mico


Semana de 24 a 30 de dezembro de 2018

Rosângela Palhano Ramalho [i]

Nesta última semana do ano disponibilizamos a derradeira análise de conjuntura de 2018 agradecendo àqueles que nos acompanharam semanalmente. Nos despedimos do ano que finda desejando o melhor para o ano vindouro. Mas como temos consciência de que os nossos desejos nem sempre se tornam realidade, vamos aos fatos.
Embora a maioria dos prognósticos econômicos para 2019 sejam positivos, com média de crescimento para o PIB de 3%, os últimos dados da conjuntura não permitem afirmar que este número será real. A Associação Brasileira de Lojistas de Shopping (Alshop) apurou que as vendas dos lojistas em shopping centers cresceram nominalmente 5,5% neste Natal em relação ao mesmo período do ano passado. A alta foi menor 0,5 ponto percentual que a apresentada em 2017. Se a inflação do período for considerada, a queda é mais clara: o crescimento real nas vendas das lojas de shoppings fechou em 1,8% quando a elevação de 2017 foi de 3%.
Quanto ao emprego, os últimos números da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua do IBGE (Pnad contínua) mostram que a taxa de desocupação fechou em 11,6% no trimestre móvel encerrado em novembro de 2018. Houve queda de 0,5 ponto percentual em relação ao trimestre de junho a agosto de 2018 e, em relação ao mesmo trimestre móvel de 2017, a queda foi de 0,4 ponto percentual. O número de trabalhadores desalentados, que ainda é muito alto (4,7 milhões), ficou estável em relação ao trimestre junho a agosto de 2018 e subiu 9,9% em relação ao mesmo trimestre de 2017. O número de empregados no setor privado com carteira assinada foi de 33 milhões mantendo-se estável. 11,7 milhões é o total de empregados sem carteira assinada e 23,8 milhões representa o total de trabalhadores por conta própria, ambos apresentando o maior contingente da série histórica. É uma tragédia. A resiliência do mercado de trabalho brasileiro mostra que o problema não reside apenas nas questões políticas. A saída de Dilma e dos “petistas” do poder, o desmonte de algumas políticas econômicas e a aprovação da reforma trabalhista não salvaram o Brasil do desemprego, nem produziram grandes prodígios econômicos.
Portanto, o que esperar em 2019? Indicadores econômicos já apresentados em análises anteriores mostram que o milagre esperado, com a ascensão de um novo presidente da República ao Planalto, não irá acontecer. A análise pragmática da realidade nos apresenta uma economia com alta capacidade ociosa, níveis baixíssimos de investimento público, baixa taxa de juros, baixa inflação e alto desemprego. São enormes os desafios da próxima gestão mesmo sem considerar as ameaças externas.
Os prognósticos ficam ainda piores se olharmos para os diferentes interesses dos grupos que formatam o governo Bolsonaro: além da prole do presidente temos os liberais, militares, evangélicos e ruralistas. Desengessar, desmontar, reduzir o tamanho do Estado, desregulamentar, são as palavras de ordem dos integrantes do novo governo.
O discurso soa fácil. E daí, se o Estado perder a sua função social? E daí, se o mercado de trabalho estiver cada vez mais próximo da informalidade? E daí, se o sistema S for liquidado? Quem liga para o Mercosul? E daí, se os trabalhadores sem-terra forem tratados como terroristas? E daí, se fecharmos o supremo apenas com um soldado e um cabo? E daí, se a posse de arma de fogo for liberada ao cidadão comum? E daí, se as relações com Israel forem estreitadas e desagradarem alguns “árabes”? E daí, se eliminarmos os “vermelhos”?
O que mais assusta é o desinteresse em relação às consequências destes atos, caso se concretizem. Parece que se ignora que elas recairão sobre uma sociedade formada por pessoas, seres humanos.
Neste cenário tudo leva a crer que o tal mito, figura alegórica criada por alguns e encampada por seguidores em redes sociais (que representam apenas 3,92% da população brasileira), terá que descer do seu pedestal artificial e reduzir-se a sua verdadeira pequenez sabendo que governará para 209,2 milhões de brasileiros.
Será 2019 o ano do mito ou do mico?

[i] Professora do Departamento de Economia da UFPB e pesquisadora do Progeb – Projeto Globalização e Crise na Economia Brasileira. (www.progeb.blogspot.com.br) Contato: rospalhano@yahoo.com.br

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