Semana de 18 a 24 de fevereiro de
2019
Nelson Rosas Ribeiro[i]
Acompanhar os movimentos da conjuntura
econômica às vezes torna-se monótono. É que os fenômenos da economia ocorrem
com muita lentidão exceto nos momentos de ruptura, o que não é a situação
atual. Estamos agora na fase ascendente do ciclo econômico, depois de nos
arrastarmos por alguns anos de crise. A novidade é que esta recuperação está
sendo muito lenta e instável, o que se observa pelo nível de desemprego de dois
dígitos (acima de 10%) e pelas baixas taxas de crescimento do PIB.
Os dados recentes confirmam esta tendência.
O Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (Ibre-FGV)
calcula que o crescimento do PIB do ano passado foi de 1,1% e, para este ano,
reduziu suas estimativas de 2,3% para 2,1%, considerada otimista. Cláudio
Considera, economista coordenador do Monitor do PIB da FGV, afirma que 2018 foi
um ano perdido, um “desastre” e que 2019 não apresenta bons sinais. O PIB de
dezembro do ano passado representou uma queda de 0,4%. O Instituto de Estudos
para o Desenvolvimento Industrial (IEDI) mostrou que, em 2018, a produção
industrial de baixa tecnologia, que inclui setores como alimentos, bebidas
têxteis, calçados, madeira, etc., recuou 2,3%. A pequena queda no desemprego
ocorreu com a oferta de empregos de baixa qualidade e salários reduzidos.
Portanto, a perda de fôlego da indústria foi geral.
Isto coincide com a deterioração da
situação internacional que temos acompanhado e que representa um agravante. Nos
EUA, em fevereiro, a atividade industrial vem caindo. O índice de gerente de
compras (PMI) caiu de 54,9 para 53,7. O Federal Reserve (Fed.), banco central
americano, divulgou que a produção das fábricas, serviços públicos e minas, em
janeiro, caiu 0,6%. O setor industrial recuou 0,9%. Para o primeiro trimestre a
estimativa do PIB agora é de apenas 1,1%, metade do que era esperado antes.
Na Europa, o Banco Central Europeu (BCE),
na ata da última reunião do Conselho Diretor, expôs as preocupações com a
situação da União Europeia, em conflito com os EUA, destacando que as
perspectivas econômicas se moveram para baixo. A zona do euro cresceu apenas
0,2% por dois trimestres consecutivos.
O Sudeste Asiático também apresentou
desaceleração. Segundo o Banco Asiático de Desenvolvimento o PIB das cinco
principais economias (Indonésia, Malásia, Filipinas, Cingapura e Tailândia)
desacelerou, de um crescimento de 6,7%, em 2017, para 6,2%, em 2018.
Com este ambiente econômico adverso o
governo Bolsonaro continua a enterrar-se em ações desastrosas. O escândalo da
semana foi a queda do ministro Bebiano, o primeiro a ser demitido em 50 dias de
governo. Foi uma briga de comadres desencadeada por um dos filhos do
presidente. Lembremos que os outros dois estão envolvidos em escândalos de
corrupção e o que é senador já recorreu ao direito de foro especial. O ministro
do Turismo, também acusado, já apelou para o mesmo recurso enquanto o paladino
da justiça, Moro, perdoou o crime de caixa 2, classificando-o como de menor
importância. A luta contra a corrupção do governo está indo pelo ralo enquanto
as trapalhadas continuam. Agora foi a vez do ministro de Educação, com sua
ordem para tocar o hino nacional e saudar o “Brasil acima de tudo e Deus acima
de todos”, além de filmar os alunos em posição de sentido nas escolas.
Tornou-se o novo bobo da corte.
No meio de todo o tumulto o presidente
finalmente apresentou algum serviço: entregou o projeto de lei com a proposta
de reforma da Previdência.
Agora sim, começa a briga de cachorro
grande. E começou mal, pois a proposta exclui os militares que ficaram à espera
de outro projeto.
Já começam a aparecer os primeiros
protestos e críticas ao documento que, saindo de onde veio, representará, com
certeza, um agravamento geral para todos os funcionários e trabalhadores com o
objetivo único de tapar um suposto rombo que sequer foi discutido ou
demonstrado. Certamente será objeto de nossas futuras análises.
[i] Professor
Emérito da UFPB e Vice-Coordenador do Progeb – Projeto Globalização e Crise na
Economia Brasileira; nelsonrr39@hotmail.com; (www.progeb.blogspot.com).