Semana de 15 a 21 de abril de 2019
Nelson Rosas Ribeiro[i]
Quem trabalha com Análise de Conjuntura tem
inevitavelmente de ser repetitivo. Nós analisamos a evolução dos fenômenos
econômicos e estes ocorrem com muita lentidão. No curto prazo, as mudanças às
vezes são pouco perceptíveis, embora sejam indicadoras de acontecimentos
importantes. Não se pode perder os mínimos detalhes para não perder o fio
condutor dos grandes movimentos. Há também que se ter uma boa teoria que
explique estes movimentos e nos forneça fundamentos para a seleção dos dados
relevantes e mais significativos. Por isso nós trabalhamos com a teoria dos
ciclos econômicos. Ela nos fornece o fio condutor para o nosso trabalho.
Como temos mostrado, a economia do país
encontra-se na fase de reanimação depois de enfrentar um período de crise e
depressão, nos últimos 3 anos. A fase que estamos atravessando era esperada e
obedece ao que é considerado normal no ciclo econômico. A particularidade do
nosso caso é que esta reanimação está se efetuando em ritmos muito lentos e os
últimos dados continuam a confirmar esta anomalia.
Os analistas estimavam que o Índice de
Atividade Econômica do Banco Central (IBC-Br), calculado pelo Banco Central
(BC), para o mês de fevereiro, mostraria uma queda de 0,29%. Para surpresa
geral o índice divulgado pelo BC mostrou uma queda na atividade de 0,73%, o
pior resultado desde maio do ano passado. Em janeiro a queda já havia sido de
0,31%.
Para março, os indicadores coincidentes de
várias consultorias mostram igualmente queda na produção. Segundo a LCA
Consultores houve queda no fluxo de caminhões (-1,2%); nas vendas de papelão
ondulado (-7,7%); nas vendas de motocicletas (-17,3%); na produção de veículos
(-18,3%); nas vendas de veículos (-16,8%) e a confiança da Indústria caiu 1,8%.
O Banco Itaú estimou uma queda de 0,7% no índice da Pesquisa Industrial
Mensal-Produção Física (PIM-PF). O Safra vê queda de 0,7% da Indústria e a LCA
calcula ainda que o IBC-Br de março cairá 0,2% e o do trimestre 0,7%.
O Monitor do PIB da Fundação Getúlio Vargas
(FGV) mostra uma queda de 0,4%, em fevereiro, sendo o pior resultado desde maio
de 2018. Cláudio Considera, pesquisador do Ibre/FGV declarou que “a economia
está paralisada” e que “aumentou a probabilidade de um PIB negativo no primeiro
trimestre”. Ainda segundo o Monitor do PIB, em fevereiro a agropecuária recuou
3%, a Indústria 1,3% e os Serviços 0,1%.
Diante deste quadro o Ministério da
Economia enviou ao congresso o Projeto de Lei de Diretrizes Orçamentárias de
2020 com uma previsão de déficit de R$124,1 bilhões, mesmo sem reajuste de
servidores e sem aumento real de salário mínimo. A previsão de receita caiu de
21,8% do PIB, em 2018, para 21,13%, em 2019.
Contribuindo para agravar o quadro de
desaceleração da economia, o governo se desintegra nos choques entre os 3
grupos de pressão que o constituem: os olavetes, os liberais do Guedes e os
militares. Os olavetes, dirigidos à distância pelo astrólogo Olavo de Carvalho
e capitaneados internamente pelos 3 raivosos filhotes do presidente, resolveram
atacar violentamente os militares e particularmente o vice-presidente Mourão. O
Guedes, na lateral do conflito, tenta enfiar a reforma da previdência, baseada
em documentos “secretos”, goela abaixo do Congresso e o sinistro Moro, por
enquanto, apenas mostra sua cara de bobo da corte pois nada tem a apresentar.
Contribuindo para aumentar a tensão, a
Petrobrás elevou em 5,7% o preço do diesel provocando a revolta dos
caminhoneiros e o pânico do presidente que se apressou em anular o aumento
fazendo o Guedes arrancar os cabelos. Depois de entendimentos o aumento foi
reduzido para 4,84% e anunciado um pacote de bondades para os caminhoneiros.
Coroando a semana o deputado Marco Feliciano, vice líder do governo na Câmara
protocolou um pedido de impeachment contra o vice-presidente Mourão.
Neste caos, acentua-se o sobe e desce da
bolsa de valores e do dólar, o “mercado” mostra-se inquieto e os “investidores”
se retraem.
Pobre país! Se não vai para trás, anda de
lado feito caranguejo.
[i] Professor
Emérito da UFPB e Vice-Coordenador do Progeb – Projeto Globalização e Crise na
Economia Brasileira; nelsonrr39@hotmail.com; (www.progeb.blogspot.com).