Semana de 20 a 26 de maio de 2019
Lucas Milanez de Lima
Almeida [i]
Na semana passada, o leitor viu uma análise
mostrando que a situação da economia era desalentadora. Infelizmente, as
notícias só pioram.
Segundo pesquisa divulgada pela Fundação Getúlio
Vargas, a desigualdade de renda no Brasil aumenta desde o quarto trimestre de
2013. De lá para cá, já são 68 meses de piora na apropriação da renda dos
trabalhadores brasileiros. Naturalmente, a crise é a grande responsável por
isso.
O desalento, por sua vez, vem batendo recorde. Não
era de se esperar outra coisa: diante da não superação da crise iniciada em
fins de 2014, as pessoas desistem de buscar emprego.
Outro dado preocupante vem de um comparativo internacional
que mostra como a população brasileira vai ficando para trás em relação a
outras economias do planeta. Caso o caro leitor não esteja familiarizado com o
conceito econômico de PIB per capita, aí vai uma breve explicação e
interpretação dele. O Produto Interno Bruto (PIB) de uma economia é a soma de
todos os bens e serviços finais produzidos em um período de tempo. Por sua vez,
o PIB per capita é a divisão do PIB anual pelo total da população nesse mesmo
ano. Assim, temos uma “medida” do quanto cada pessoa produziu de riqueza em um
país em determinado ano.
Obviamente que esta é uma estimativa simplista, pois
não considera as particularidades de cada pessoa e a posição que ela ocupa na
sociedade (se trabalhadora ou empresária, de qual ramo, qual nível de
qualificação, idade, etc.). Alguns autores interpretam o PIB per capita como
uma medida de renda de um país: quanto maior o PIB per capita, maior sua renda.
Contudo, por sua própria definição, essa é uma medida que não mostra a
apropriação da riqueza em si ou como esta é feita pelas distintas classes
sociais, mas o que foi produzido por pessoa. Por isso, esta medida serve muito
mais para comparar o diferencial de produtividade entre os países do que a
renda propriamente dita.
Por exemplo, em 1980, o PIB per capita do Brasil
correspondia a 39% do PIB per capita dos EUA. Isto quer dizer que um brasileiro
produzia, em média, o equivalente a 39% do que um norte-americano produzia em
1980. Esse valor caiu para 29,2% em 1990, caiu mais ainda em 2000, para 25,1%,
e subiu para 29,7% em 2010. Contudo, em 2018, o PIB per capita brasileiro
voltou a representar 25,8% do PIB per capita estadunidense. Isto mostra que
nossa economia andou para trás em termos de produção por pessoa durante os
últimos 40 anos, perdendo, inclusive, os ganhos da década de 2000.
E a economia ainda não dá sinais de melhora em 2019.
Em abril os estoques da indústria brasileira eram “excessivos” pelo terceiro
mês consecutivo, segundo a Confederação Nacional da Indústria (CNI), mesmo
diante de uma fraca produção industrial e uma elevada ociosidade. Por sua vez,
segundo o presidente do Bradesco, o crédito bancário no segundo trimestre de
2019 está pior do que no primeiro. Soma-se a isso a perspectiva de queda do PIB
do agronegócio de 0,46% no primeiro trimestre de 2019, segundo pesquisa da
Confederação Nacional da Agricultura e Pecuária do Brasil.
A confiança dos empresários da indústria e da
construção civil, medida pela CNI, caiu para 56,5 em maio de 2019, depois do
pico de 64,7 de janeiro, ainda sob a influência do início do governo Bolsonaro.
Coisa semelhante se vê para o consumidor, que teve o índice medido pela FGV
reduzido em 10 pontos na mesma comparação, de 96,6 em janeiro para 86,6 em
maio. Dentre os que têm renda superior a R$ 9.600 a queda foi de 6,9 pontos
apenas entre abril e maio. Para piorar, o investimento público no primeiro
trimestre de 2019 foi o menor em 13 anos, representando apenas 0,35% do PIB.
Isso soma míseros R$ 6,9 bilhões. Como resultado, pela 12ª vez consecutiva, a
estimativa de crescimento da economia brasileira caiu, segundo a pesquisa
semanal do Banco Central. Agora é esperado um crescimento de 1,2% do PIB.
Mas essa situação é surpresa para poucos. O que se
poderia esperar desse presidente? Alguma capacidade de gerir um país?
Disso (e de tantas outras coisas) ele tem se
mostrado completamente incapaz.
[i] Professor
do Departamento de Economia da UFPB e coordenador do PROGEB – Projeto
Globalização e Crise na Economia Brasileira. (www.progeb.blogspot.com;
lucasmilanez@hotmail.com)