quarta-feira, 29 de maio de 2019

A economia brasileira só piora...


Semana de 20 a 26 de maio de 2019

Lucas Milanez de Lima Almeida [i]

Na semana passada, o leitor viu uma análise mostrando que a situação da economia era desalentadora. Infelizmente, as notícias só pioram.
Segundo pesquisa divulgada pela Fundação Getúlio Vargas, a desigualdade de renda no Brasil aumenta desde o quarto trimestre de 2013. De lá para cá, já são 68 meses de piora na apropriação da renda dos trabalhadores brasileiros. Naturalmente, a crise é a grande responsável por isso.
O desalento, por sua vez, vem batendo recorde. Não era de se esperar outra coisa: diante da não superação da crise iniciada em fins de 2014, as pessoas desistem de buscar emprego.
Outro dado preocupante vem de um comparativo internacional que mostra como a população brasileira vai ficando para trás em relação a outras economias do planeta. Caso o caro leitor não esteja familiarizado com o conceito econômico de PIB per capita, aí vai uma breve explicação e interpretação dele. O Produto Interno Bruto (PIB) de uma economia é a soma de todos os bens e serviços finais produzidos em um período de tempo. Por sua vez, o PIB per capita é a divisão do PIB anual pelo total da população nesse mesmo ano. Assim, temos uma “medida” do quanto cada pessoa produziu de riqueza em um país em determinado ano.
Obviamente que esta é uma estimativa simplista, pois não considera as particularidades de cada pessoa e a posição que ela ocupa na sociedade (se trabalhadora ou empresária, de qual ramo, qual nível de qualificação, idade, etc.). Alguns autores interpretam o PIB per capita como uma medida de renda de um país: quanto maior o PIB per capita, maior sua renda. Contudo, por sua própria definição, essa é uma medida que não mostra a apropriação da riqueza em si ou como esta é feita pelas distintas classes sociais, mas o que foi produzido por pessoa. Por isso, esta medida serve muito mais para comparar o diferencial de produtividade entre os países do que a renda propriamente dita.
Por exemplo, em 1980, o PIB per capita do Brasil correspondia a 39% do PIB per capita dos EUA. Isto quer dizer que um brasileiro produzia, em média, o equivalente a 39% do que um norte-americano produzia em 1980. Esse valor caiu para 29,2% em 1990, caiu mais ainda em 2000, para 25,1%, e subiu para 29,7% em 2010. Contudo, em 2018, o PIB per capita brasileiro voltou a representar 25,8% do PIB per capita estadunidense. Isto mostra que nossa economia andou para trás em termos de produção por pessoa durante os últimos 40 anos, perdendo, inclusive, os ganhos da década de 2000.
E a economia ainda não dá sinais de melhora em 2019. Em abril os estoques da indústria brasileira eram “excessivos” pelo terceiro mês consecutivo, segundo a Confederação Nacional da Indústria (CNI), mesmo diante de uma fraca produção industrial e uma elevada ociosidade. Por sua vez, segundo o presidente do Bradesco, o crédito bancário no segundo trimestre de 2019 está pior do que no primeiro. Soma-se a isso a perspectiva de queda do PIB do agronegócio de 0,46% no primeiro trimestre de 2019, segundo pesquisa da Confederação Nacional da Agricultura e Pecuária do Brasil.
A confiança dos empresários da indústria e da construção civil, medida pela CNI, caiu para 56,5 em maio de 2019, depois do pico de 64,7 de janeiro, ainda sob a influência do início do governo Bolsonaro. Coisa semelhante se vê para o consumidor, que teve o índice medido pela FGV reduzido em 10 pontos na mesma comparação, de 96,6 em janeiro para 86,6 em maio. Dentre os que têm renda superior a R$ 9.600 a queda foi de 6,9 pontos apenas entre abril e maio. Para piorar, o investimento público no primeiro trimestre de 2019 foi o menor em 13 anos, representando apenas 0,35% do PIB. Isso soma míseros R$ 6,9 bilhões. Como resultado, pela 12ª vez consecutiva, a estimativa de crescimento da economia brasileira caiu, segundo a pesquisa semanal do Banco Central. Agora é esperado um crescimento de 1,2% do PIB.
Mas essa situação é surpresa para poucos. O que se poderia esperar desse presidente? Alguma capacidade de gerir um país?
Disso (e de tantas outras coisas) ele tem se mostrado completamente incapaz.

[i] Professor do Departamento de Economia da UFPB e coordenador do PROGEB – Projeto Globalização e Crise na Economia Brasileira. (www.progeb.blogspot.com; lucasmilanez@hotmail.com)

Share:

0 comentários:

Postar um comentário

Novidades

Recent Posts Widget

Postagens mais visitadas

Arquivo do blog