Semana de 15 a 21 de julho de 2019
Rosângela Palhano Ramalho
[i]
Caro leitor, não há grandes novidades em relação à
conjuntura econômica internacional, pois o mundo continua a desacelerar. A
Europa, os Estados Unidos e alguns países da Ásia cogitam reduzir os juros e
lançar um novo pacote de expansão monetária para estimular o crescimento. A
conjuntura brasileira também mantém o ritmo de desaceleração. O Índice de
Atividade Econômica do Banco Central (IBC-Br) apresentou alta de 0,54% em maio
em relação a abril, mas não foi comemorado, pois a prévia dos indicadores de
junho mostra que caminhamos para a recessão técnica caracterizada pela queda
consecutiva do PIB em dois trimestres.
Há algum tempo, a nossa coluna lança duras críticas
à Reforma da Previdência. Criticamos a forma como foi concebida, o cálculo do
tal déficit, os interesses que atende e a falácia de que ela salvaria a nossa
economia. Agora recordemos o comentário do ministro Paulo Guedes, em 31 de maio
deste ano, diante da retração de 0,2% no PIB no primeiro trimestre: “Com a
reforma da Previdência teremos um horizonte fiscal de 15, 20 anos de
estabilidade e os investimentos privados serão retomados.”
Nosso leitor assíduo jamais acreditou neste conto da
carochinha. Pois bem. Aqueles que são os responsáveis pelas decisões de
investimento e que defenderam ferrenhamente a aprovação da reforma admitem
agora, só depois que a aprovação aconteceu em primeiro turno na Câmara dos Deputados,
que a “mágica” não acontecerá.
Em reportagem elucidativa publicada em 17 de julho
pelo jornal Valor Econômico de título “Previdência não traz investimento”,
apenas a JCB, fabricante de máquinas de construção e agrícolas ratificou um
plano de investimentos de R$ 100 milhões, para os próximos três anos. Nenhum
dos demais empresários ou organizações ouvidas pelo jornal, confirmou o aumento
dos seus investimentos. Para estes, a reforma aprovada é apenas uma “injeção de
ânimo” que pode reduzir a alta capacidade ociosa industrial que gira em torno
de 25%. Foram ouvidos Walter Schalka, presidente da Suzano, maior produtora
mundial de celulose de eucalipto; João Carlos Brega, presidente da Whirlpool
América Latina, maior fabricante da linha branca na região; Rubens Menin,
fundador e presidente do conselho da MRV, segunda maior construtora residencial
do país; Alexandre Schmidt, diretor comercial da Brametal, maior fabricante de
estruturas metálicas do país para o setor de energia; Paulo Prignolato, diretor
financeiro do grupo Randon, maior fabricante de reboques e semirreboques da
América Latina; Eduardo Ribeiro, presidente da Companhia Brasileira de
Metalurgia e Mineração (CBMM); Hector Gusmão, presidente da Fábrica de Startups
do Brasil; Márcio Utsch, presidente do conselho da Cemig; Humberto Barbato,
presidente da Associação Brasileira da Indústria Elétrica e Eletrônica (Abinee)
e Marcelo Silva, presidente do Instituto para o Desenvolvimento do Varejo
(IDV), que reúne as maiores redes varejistas do país. O discurso dos citados
acima é o mesmo: a reforma tem que ser feita, mas... recuperar os
investimentos, reduzir o desemprego, aí já é uma outra história.
Cresce o clamor empresarial de que agora são
necessárias “outras microrreformas” e que novos investimentos só virão após
recuperação da demanda. O setor financeiro já adiou a recuperação para 2021. E
enquanto marchamos para o buraco, o governo aprofunda o “austericídio”. Gustavo
Henrique Montezano, novo presidente do BNDES, comprometeu-se em continuar o desmonte
da instituição, abrindo a tal “caixa preta” do banco, em dois meses, acelerando
a venda da carteira de ações do banco e devolvendo R$ 126 bilhões este ano ao
Tesouro Nacional. Também a Caixa Econômica Federal se comprometeu a devolver R$
20 bilhões este ano.
E para quem caiu no conto do vigário, mais um grande
número. No fechamento desta análise, registro o número mais recente apurado no
Boletim Focus do Banco Central. As previsões de crescimento finalmente voltaram
a crescer em 2019. Após 20 semanas consecutivas de queda, a previsão aumentou
de 0,81% para (pasmem...) 0,82%! Será este o primeiro grande feito da Reforma
da Previdência?
Viva o 0,01% de crescimento!
[i] Professora
do Departamento de Economia da UFPB e pesquisadora do Progeb – Projeto Globalização
e Crise na Economia Brasileira. (www.progeb.blogspot.com.br)
Contato: rospalhano@yahoo.com.br
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