quarta-feira, 3 de julho de 2019

Falta convencer 68% presidente!


Semana de 24 a 30 de junho de 2019

Rosângela Palhano Ramalho [i]

Caro leitor, crescem, tardiamente, os argumentos óbvios de que a reforma da Previdência não vai produzir um milagre econômico. Afinal, seus efeitos são contracionistas! Segundo os pesquisadores Armando Castelar, Lívio Ribeiro e Silvia Matos do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre/FGV), a não aprovação da reforma da Previdência traria problemas à economia, mas a tal reforma por si só não provocaria uma “aceleração significativa do crescimento”, pois apenas “reduziria as incertezas”. Os analistas recomendam que é preciso mais! É necessário simplificar o sistema tributário, para melhorar o ambiente de negócios, e aumentar a previsibilidade. 
Como os argumentos reformistas são mais facilmente tolerados em tempos de crise, a debilidade econômica torna o ambiente “mais propício” para que a sociedade aceite “certos sacrifícios.” Tomemos como exemplo a aprovação do teto para os gastos públicos e a Reforma Trabalhista que prometeu gerar empregos “automaticamente”. Mesmo confirmado que tais medidas não surtiram os efeitos prometidos, o atual governo continua a repetir o clichê: “Menos Estado, mais mercado” e a atividade continua desacelerando. Medidas de estímulo como por exemplo a queda da taxa de juros só virão, diz o Copom (Comitê de Política Monetária), se a Reforma da Previdência for aprovada. Portanto, o que já está ruim pode e vai piorar.
Segundo dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), o mercado de trabalho criou 32.140 empregos com carteira assinada, em maio, comparado a abril. O número é decepcionante, pois as estimativas apontavam para a criação de 70 mil vagas. E a taxa de investimento do Brasil alcançou nível baixíssimo de acordo com levantamento dos dados trimestrais feito pelo Ibre/FGV. Em média, nos últimos quatro anos, a formação bruta de capital fixo (FBCF), que mede os investimentos em máquinas e equipamentos, construção civil e inovação fechou em 15,5% do PIB. Tal número é tão medíocre que só foi atingido uma única vez: na média dos quatro anos até 1967.
Os resultados negativos logo se refletem nas estimativas de crescimento anual. O Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) revisou de 2% para 0,8% a taxa de crescimento do PIB para 2019. A revisão segue tendência corroborada pelo Boletim Focus que apresentou como projeção mais recente crescimento de 0,87%.
Com desempenho econômico insignificante e muito a fazer, o governo termina seus primeiros seis meses tuitando muito e realizando quase nada. O povo está perdendo a paciência. Pesquisa encomendada pela Confederação Nacional da Indústria (CNI) ao Ibope apurou que 32% dos entrevistados consideram o governo ruim ou péssimo, aumento de cinco pontos percentuais em relação à sondagem realizada em abril. O percentual que considerava o governo bom/ótimo era de 35%, em abril, mas caiu para 32%. Comparada à pesquisa do Ibope Inteligência, de janeiro, com metodologia semelhante, a popularidade do presidente caiu 17 pontos em seis meses. Passou de 49% para 32%.
A queda da popularidade, a falta de avanços e os escândalos em seu entorno, não impediram que Bolsonaro se lançasse como candidato à reeleição. E o pior: na esteira das “manifestações” em favor do parcial ex-juiz Sérgio Moro ocorridas no dia 30 de junho, o presidente disparou no Twitter: “Parabéns a todos que foram às ruas nesse 30/06. A mensagem de vocês é para todas as autoridades: ‘não parem o Brasil, combatam a corrupção, apoiem quem foi legitimamente eleito em 2018.’ Respeito todas as Instituições, mas acima delas está o povo, meu patrão, a quem devo lealdade.”
Há seis meses, o presidente demonstra que odeia a democracia. Quer governar via decretos (por vezes inconstitucionais) e seus anseios ditatoriais são externados quando afronta o Legislativo e o Supremo Tribunal. É preciso que o presidente contenha seus arroubos golpistas, pois a conta é simples: falta o apoio de 68% da população, ou seja, dois terços!

[i] Professora do Departamento de Economia da UFPB e pesquisadora do Progeb – Projeto Globalização e Crise na Economia Brasileira. (www.progeb.blogspot.com.br) Contato: rospalhano@yahoo.com.br

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