Semana de 24 a 30 de junho de 2019
Rosângela Palhano Ramalho
[i]
Caro leitor, crescem, tardiamente, os argumentos
óbvios de que a reforma da Previdência não vai produzir um milagre econômico.
Afinal, seus efeitos são contracionistas! Segundo os pesquisadores Armando
Castelar, Lívio Ribeiro e Silvia Matos do Instituto Brasileiro de Economia da
Fundação Getulio Vargas (Ibre/FGV), a não aprovação da reforma da Previdência
traria problemas à economia, mas a tal reforma por si só não provocaria uma
“aceleração significativa do crescimento”, pois apenas “reduziria as incertezas”.
Os analistas recomendam que é preciso mais! É necessário simplificar o sistema
tributário, para melhorar o ambiente de negócios, e aumentar a
previsibilidade.
Como os argumentos reformistas são mais facilmente
tolerados em tempos de crise, a debilidade econômica torna o ambiente “mais
propício” para que a sociedade aceite “certos sacrifícios.” Tomemos como
exemplo a aprovação do teto para os gastos públicos e a Reforma Trabalhista que
prometeu gerar empregos “automaticamente”. Mesmo confirmado que tais medidas
não surtiram os efeitos prometidos, o atual governo continua a repetir o
clichê: “Menos Estado, mais mercado” e a atividade continua desacelerando.
Medidas de estímulo como por exemplo a queda da taxa de juros só virão, diz o
Copom (Comitê de Política Monetária), se a Reforma da Previdência for aprovada.
Portanto, o que já está ruim pode e vai piorar.
Segundo dados do Cadastro Geral de Empregados e
Desempregados (Caged), o mercado de trabalho criou 32.140 empregos com carteira
assinada, em maio, comparado a abril. O número é decepcionante, pois as
estimativas apontavam para a criação de 70 mil vagas. E a taxa de investimento
do Brasil alcançou nível baixíssimo de acordo com levantamento dos dados
trimestrais feito pelo Ibre/FGV. Em média, nos últimos quatro anos, a formação
bruta de capital fixo (FBCF), que mede os investimentos em máquinas e
equipamentos, construção civil e inovação fechou em 15,5% do PIB. Tal número é
tão medíocre que só foi atingido uma única vez: na média dos quatro anos até
1967.
Os resultados negativos logo se refletem nas
estimativas de crescimento anual. O Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada
(Ipea) revisou de 2% para 0,8% a taxa de crescimento do PIB para 2019. A
revisão segue tendência corroborada pelo Boletim Focus que apresentou como
projeção mais recente crescimento de 0,87%.
Com desempenho econômico insignificante e muito a
fazer, o governo termina seus primeiros seis meses tuitando muito e realizando
quase nada. O povo está perdendo a paciência. Pesquisa encomendada pela
Confederação Nacional da Indústria (CNI) ao Ibope apurou que 32% dos
entrevistados consideram o governo ruim ou péssimo, aumento de cinco pontos
percentuais em relação à sondagem realizada em abril. O percentual que
considerava o governo bom/ótimo era de 35%, em abril, mas caiu para 32%.
Comparada à pesquisa do Ibope Inteligência, de janeiro, com metodologia
semelhante, a popularidade do presidente caiu 17 pontos em seis meses. Passou
de 49% para 32%.
A queda da popularidade, a falta de avanços e os
escândalos em seu entorno, não impediram que Bolsonaro se lançasse como
candidato à reeleição. E o pior: na esteira das “manifestações” em favor do
parcial ex-juiz Sérgio Moro ocorridas no dia 30 de junho, o presidente disparou
no Twitter: “Parabéns a todos que foram às ruas nesse 30/06. A mensagem de
vocês é para todas as autoridades: ‘não parem o Brasil, combatam a corrupção,
apoiem quem foi legitimamente eleito em 2018.’ Respeito todas as Instituições,
mas acima delas está o povo, meu patrão, a quem devo lealdade.”
Há seis meses, o presidente demonstra que odeia a
democracia. Quer governar via decretos (por vezes inconstitucionais) e seus
anseios ditatoriais são externados quando afronta o Legislativo e o Supremo
Tribunal. É preciso que o presidente contenha seus arroubos golpistas, pois a
conta é simples: falta o apoio de 68% da população, ou seja, dois terços!
[i] Professora
do Departamento de Economia da UFPB e pesquisadora do Progeb – Projeto Globalização
e Crise na Economia Brasileira. (www.progeb.blogspot.com.br)
Contato: rospalhano@yahoo.com.br
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