quinta-feira, 5 de dezembro de 2019

Crise e democracia


Semana de 25 de novembro a 01 de dezembro de 2019

Nelson Rosas Ribeiro[i]

           
Cada novo dado divulgado representa um golpe nas esperanças da reversão da desaceleração da economia mundial. Dessa vez foi a publicação dos dados da CPB World Trade Monitor, da Holanda. Eles mostram que o comércio mundial, em setembro, contraiu-se 1,3%, em relação a agosto. No caso dos países emergentes asiáticos, excetuando-se a China, a contração foi de 3,3%.
Em sentido contrário o Produto Interno Bruto (PIB) dos EUA mostrou um crescimento de 2,1%, maior que o esperado, no terceiro trimestre. A previsão anterior era de 1,9%. No entanto caíram os lucros e os investimentos das empresas. Guy Miller, estrategista chefe global do grupo segurador suíço Zurich, no entanto, prevê uma recessão moderada para a economia americana em 2020 e uma diminuição do crescimento global o que deve obrigar o Federal Reserve (Fed), banco central americano, a ações mais fortes e novo corte de juros, o que já vem ocorrendo em 55% dos BCs do mundo.
Isso mostra que o ambiente internacional continua adverso o que traz consequências negativas ao panorama interno.
Com efeito, durante a semana aumentaram muito as tensões internas. O dólar disparou e a cotação atingiu a máxima histórica de R$4,27. Os analistas apontam como causas os dados negativos da balança de pagamentos, a queda da commodities, o fracasso do leilão dos campos de petróleo, a saída sazonal de divisas, a queda dos juros, a especulação e as declarações desastrosas do sinistro de economia Paulo Guedes. O pânico levou o BC a fazer intervenção no mercado vendendo dólares e confirmando o que chamamos de “flutuação suja” do câmbio. O BC declarou ainda estar disposto a continuar a intervir, contrariando os preceitos liberais do governo, com o pretexto de corrigir “disfuncionalidade” do mercado. Temos agora um “censor de mercados” que vai classificar as “disfuncionalidades” e torrar as reservas do país para “corrigi-las”.
Com esta instabilidade os especuladores estrangeiros bateram em retirada. Só na segunda feira (25), retiraram da bolsa R$2,07 bilhões, na terça feira US$1,8 bilhão e no ano o total já atinge R$38,12 bilhões.
Mas o super-sinistro da economia Paulo Guedes não está satisfeito. Acompanhando o governo na preocupação com os protestos na América Latina e saudoso dos seus bons tempos de governo Pinochet no Chile, armou-se com o AI-5 para ameaçar a população. Ou “democracia responsável” ou cacete na cabeça com o AI-5. Claro que o disparate provocou reações generalizadas e possivelmente satisfação silenciosa do general Heleno, ansioso por meter as garras na carne do povo.
Outro acontecimento importante foi a nova ofensiva do BC contra os juros elevados dos financiamentos começando com os do cartão de crédito que chegam a atingir 360% ao ano. Mais uma vez a crença liberal levou um golpe sob protesto dos banqueiros, claro. Aliás a Febraban vem enfrentando outra batalha com os bancários. Eles querem fechar um acordo para manter a jornada de trabalho de 6 horas para todos e da proibição de trabalho aos sábados, contrariando a legislação aprovada. Os bancários descobriram que foram traídos pela Febraban que negociou secretamente com o governo as mudanças na legislação. Vamos ver quem tem mais força
Por parte do governo continua a ofensiva autoritária. Além da proposta administrativa que está tramitando e que retira direitos dos funcionários, e das propostas do Sérgio Moro com o excludente de ilicitude, promete agora uma ampliação da Garantia da Lei e da Ordem (GLO) para o campo legalizando o uso das forças armadas na expulsão de invasores de terra. Claro que não é para aplicá-la contra garimpeiros, grileiros e madeireiros ilegais.
Com estas ações o governo ganha cada vez mais o apoio das classes empresariais. Os aplausos vêm da Fiesp, da Firjan, da Fecomercio-SP, da CNI, da Abit. Segundo Paulo Skaf, presidente da Fiesp, “O que eu sinto no meio empresarial é um apoio ao governo Bolsonaro”. A reacionária burguesia brasileira mostra sua verdadeira cara. É tempo de guerra. Acabou a conciliação entre as classes.

[i] Professor Emérito da UFPB e Vice-Coordenador do Progeb – Projeto Globalização e Crise na Economia Brasileira; nelsonrr39@hotmail.com; (www.progeb.blogspot.com).

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