Semana de 25 de novembro a 01 de
dezembro de 2019
Nelson Rosas Ribeiro[i]
Cada novo dado divulgado representa um
golpe nas esperanças da reversão da desaceleração da economia mundial. Dessa
vez foi a publicação dos dados da CPB World Trade Monitor, da Holanda. Eles
mostram que o comércio mundial, em setembro, contraiu-se 1,3%, em relação a
agosto. No caso dos países emergentes asiáticos, excetuando-se a China, a
contração foi de 3,3%.
Em sentido contrário o Produto Interno
Bruto (PIB) dos EUA mostrou um crescimento de 2,1%, maior que o esperado, no
terceiro trimestre. A previsão anterior era de 1,9%. No entanto caíram os
lucros e os investimentos das empresas. Guy Miller, estrategista chefe global
do grupo segurador suíço Zurich, no entanto, prevê uma recessão moderada para a
economia americana em 2020 e uma diminuição do crescimento global o que deve
obrigar o Federal Reserve (Fed), banco central americano, a ações mais fortes e
novo corte de juros, o que já vem ocorrendo em 55% dos BCs do mundo.
Isso mostra que o ambiente internacional
continua adverso o que traz consequências negativas ao panorama interno.
Com efeito, durante a semana aumentaram
muito as tensões internas. O dólar disparou e a cotação atingiu a máxima
histórica de R$4,27. Os analistas apontam como causas os dados negativos da
balança de pagamentos, a queda da commodities, o fracasso do leilão dos campos
de petróleo, a saída sazonal de divisas, a queda dos juros, a especulação e as
declarações desastrosas do sinistro de economia Paulo Guedes. O pânico levou o
BC a fazer intervenção no mercado vendendo dólares e confirmando o que chamamos
de “flutuação suja” do câmbio. O BC declarou ainda estar disposto a continuar a
intervir, contrariando os preceitos liberais do governo, com o pretexto de
corrigir “disfuncionalidade” do mercado. Temos agora um “censor de mercados”
que vai classificar as “disfuncionalidades” e torrar as reservas do país para
“corrigi-las”.
Com esta instabilidade os especuladores
estrangeiros bateram em retirada. Só na segunda feira (25), retiraram da bolsa
R$2,07 bilhões, na terça feira US$1,8 bilhão e no ano o total já atinge R$38,12
bilhões.
Mas o super-sinistro da economia Paulo
Guedes não está satisfeito. Acompanhando o governo na preocupação com os
protestos na América Latina e saudoso dos seus bons tempos de governo Pinochet
no Chile, armou-se com o AI-5 para ameaçar a população. Ou “democracia responsável”
ou cacete na cabeça com o AI-5. Claro que o disparate provocou reações
generalizadas e possivelmente satisfação silenciosa do general Heleno, ansioso
por meter as garras na carne do povo.
Outro acontecimento importante foi a nova
ofensiva do BC contra os juros elevados dos financiamentos começando com os do
cartão de crédito que chegam a atingir 360% ao ano. Mais uma vez a crença
liberal levou um golpe sob protesto dos banqueiros, claro. Aliás a Febraban vem
enfrentando outra batalha com os bancários. Eles querem fechar um acordo para
manter a jornada de trabalho de 6 horas para todos e da proibição de trabalho
aos sábados, contrariando a legislação aprovada. Os bancários descobriram que
foram traídos pela Febraban que negociou secretamente com o governo as mudanças
na legislação. Vamos ver quem tem mais força
Por parte do governo continua a ofensiva
autoritária. Além da proposta administrativa que está tramitando e que retira
direitos dos funcionários, e das propostas do Sérgio Moro com o excludente de
ilicitude, promete agora uma ampliação da Garantia da Lei e da Ordem (GLO) para
o campo legalizando o uso das forças armadas na expulsão de invasores de terra.
Claro que não é para aplicá-la contra garimpeiros, grileiros e madeireiros
ilegais.
Com estas ações o governo ganha cada vez
mais o apoio das classes empresariais. Os aplausos vêm da Fiesp, da Firjan, da
Fecomercio-SP, da CNI, da Abit. Segundo Paulo Skaf, presidente da Fiesp, “O que
eu sinto no meio empresarial é um apoio ao governo Bolsonaro”. A reacionária
burguesia brasileira mostra sua verdadeira cara. É tempo de guerra. Acabou a
conciliação entre as classes.
[i] Professor
Emérito da UFPB e Vice-Coordenador do Progeb – Projeto Globalização e Crise na
Economia Brasileira; nelsonrr39@hotmail.com; (www.progeb.blogspot.com).
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