Semana de 16 a 22 de dezembro de 2019
Nelson Rosas Ribeiro[i]
Já estamos no Natal e o fim do ano se
aproxima. A euforia das comemorações ocupa todos os espaços. Poucos são os
acontecimentos econômicos pois todos entram em recesso e as atenções se voltam
para os presentes e as comemorações. O tempo das vacas magras, do desemprego,
dos baixos salários tira um pouco o brilho e a alegria das festividades, mas o
bom humor do povo esconde e disfarça as frustrações.
Assim caminhamos para um novo ano que não
se apresenta com bons prognósticos. O governo e os empresários usam todos os
canais para criar um clima de esperanças e euforia. Eles acreditam que as
expectativas criam a economia e a recuperação. Daí todo o empenho e exagero das
notícias positivas. Já não se pode nem confiar nas estatísticas fornecidas
pelos órgãos oficiais.
A nível internacional surgem algumas
esperanças. Todas estão baseadas em “sis”. Esperanças de que o “Brexit” (saída
do Reino Unido da União Europeia) seja feito com acordo. Esperança de que acabe
a briga comercial dos EUA com a China, que os chineses não invadam Hong Kong,
que os conflitos israelo-árabes se acalmem etc. Se tudo isso ocorrer e se os
Bancos Centrais (BCs) dos países do G20 continuarem com seus juros próximos a
zero e com os programas de “quantative easing” talvez a economia mundial não
entre em crise. Se tudo isso ocorrer, talvez o dólar se desvalorize e os
capitais especulativos voltem a chegar ao Brasil. Há alguns alertas, entretanto.
A dívida global está chegando aos US$ 255 trilhões. Nos EUA a dívida
corporativa ronda 45% do PIB, o maior nível desde a segunda guerra. Com os
atuais juros baixos ela é administrável. Se houver uma alta dos juros pode
tornar-se explosiva.
Em relação ao comércio mundial o diretor
geral da Organização Mundial do Comércio (OMC), Roberto Azevedo, não está muito
otimista diante da sabotagem dos EUA à entidade. Para ele o comércio continuará
em queda.
Há ainda dois acontecimentos importantes a
referir. No mercado dos automóveis surge um novo gigante com a fusão da
Fiat-Chrysler com a PSA (Peugeot) formando uma nova grande montadora. No setor
aeronáutico a má notícia vem da suspensão da produção do Boing737 Max. A linha
de produção foi paralisada e todos os Max 737 estão proibidos de voar. Isto
está provocando uma reação em série com paralisações e demissões de
trabalhadores em toda a cadeia de suprimentos o que atinge empresas em todo o
mundo.
Este panorama de final de ano não traz
nenhum novo indicador capaz de mudar os nossos prognósticos. A fase de crise do
ciclo econômico continua em preparação. Os paliativos da política econômica
apenas contribuem para adiar a eclosão. Não há outra solução. A crise terá de
vir para cumprir seu papel saneador da economia.
Dentro do país, o quadro também se mantém.
O IBC-Br do BC mostrou um crescimento de 0,17%, em outubro, uma desaceleração
quando comparado aos 0,47% de setembro. Diz o BC que a retomada gradual
prossegue muito lentamente. A ata de reunião do Copom alerta para o “atual
estágio do ciclo econômico” que “recomenda cautela na condução da política
monetária”. O comércio e o setor industrial declaram-se mais otimistas, mas as
perspectivas do aumento do emprego continuam modestas. Mais otimista ainda está
o secretário especial da Produtividade, Emprego e Competitividade, Carlos Da
Costa. Ele afirmou que o ciclo de reindustrialização da economia brasileira já
começou.
Toda essa euforia parece não contaminar a
população do país. A pesquisa CNI-IBOPE, apresentada no dia 20 passado, mostrou
que 41% aprovam a maneira de governar do presidente, mas 53% desaprovam. 41%
confiam nele, mas 56% não confiam. Apenas 29% acham o governo ótimo ou bom.
Entre os empresários 65% confiam no presidente e 64 % aprovam sua maneira de governar.
Este é o governo dos capitalistas e dos militares. Paga-se qualquer preço,
expõe-se o país ao ridículo internacional desde que sejam destruídos os
direitos e as conquistas dos trabalhadores. Esta é a nossa burguesia.
[i] Professor
Emérito da UFPB e Vice-Coordenador do Progeb – Projeto Globalização e Crise na
Economia Brasileira; nelsonrr39@hotmail.com; (www.progeb.blogspot.com).
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