quinta-feira, 26 de dezembro de 2019

Natal de dúvidas


Semana de 16 a 22 de dezembro de 2019

Nelson Rosas Ribeiro[i]

           
Já estamos no Natal e o fim do ano se aproxima. A euforia das comemorações ocupa todos os espaços. Poucos são os acontecimentos econômicos pois todos entram em recesso e as atenções se voltam para os presentes e as comemorações. O tempo das vacas magras, do desemprego, dos baixos salários tira um pouco o brilho e a alegria das festividades, mas o bom humor do povo esconde e disfarça as frustrações.
Assim caminhamos para um novo ano que não se apresenta com bons prognósticos. O governo e os empresários usam todos os canais para criar um clima de esperanças e euforia. Eles acreditam que as expectativas criam a economia e a recuperação. Daí todo o empenho e exagero das notícias positivas. Já não se pode nem confiar nas estatísticas fornecidas pelos órgãos oficiais.
A nível internacional surgem algumas esperanças. Todas estão baseadas em “sis”. Esperanças de que o “Brexit” (saída do Reino Unido da União Europeia) seja feito com acordo. Esperança de que acabe a briga comercial dos EUA com a China, que os chineses não invadam Hong Kong, que os conflitos israelo-árabes se acalmem etc. Se tudo isso ocorrer e se os Bancos Centrais (BCs) dos países do G20 continuarem com seus juros próximos a zero e com os programas de “quantative easing” talvez a economia mundial não entre em crise. Se tudo isso ocorrer, talvez o dólar se desvalorize e os capitais especulativos voltem a chegar ao Brasil. Há alguns alertas, entretanto. A dívida global está chegando aos US$ 255 trilhões. Nos EUA a dívida corporativa ronda 45% do PIB, o maior nível desde a segunda guerra. Com os atuais juros baixos ela é administrável. Se houver uma alta dos juros pode tornar-se explosiva.
Em relação ao comércio mundial o diretor geral da Organização Mundial do Comércio (OMC), Roberto Azevedo, não está muito otimista diante da sabotagem dos EUA à entidade. Para ele o comércio continuará em queda.
Há ainda dois acontecimentos importantes a referir. No mercado dos automóveis surge um novo gigante com a fusão da Fiat-Chrysler com a PSA (Peugeot) formando uma nova grande montadora. No setor aeronáutico a má notícia vem da suspensão da produção do Boing737 Max. A linha de produção foi paralisada e todos os Max 737 estão proibidos de voar. Isto está provocando uma reação em série com paralisações e demissões de trabalhadores em toda a cadeia de suprimentos o que atinge empresas em todo o mundo.
Este panorama de final de ano não traz nenhum novo indicador capaz de mudar os nossos prognósticos. A fase de crise do ciclo econômico continua em preparação. Os paliativos da política econômica apenas contribuem para adiar a eclosão. Não há outra solução. A crise terá de vir para cumprir seu papel saneador da economia.
Dentro do país, o quadro também se mantém. O IBC-Br do BC mostrou um crescimento de 0,17%, em outubro, uma desaceleração quando comparado aos 0,47% de setembro. Diz o BC que a retomada gradual prossegue muito lentamente. A ata de reunião do Copom alerta para o “atual estágio do ciclo econômico” que “recomenda cautela na condução da política monetária”. O comércio e o setor industrial declaram-se mais otimistas, mas as perspectivas do aumento do emprego continuam modestas. Mais otimista ainda está o secretário especial da Produtividade, Emprego e Competitividade, Carlos Da Costa. Ele afirmou que o ciclo de reindustrialização da economia brasileira já começou.
Toda essa euforia parece não contaminar a população do país. A pesquisa CNI-IBOPE, apresentada no dia 20 passado, mostrou que 41% aprovam a maneira de governar do presidente, mas 53% desaprovam. 41% confiam nele, mas 56% não confiam. Apenas 29% acham o governo ótimo ou bom. Entre os empresários 65% confiam no presidente e 64 % aprovam sua maneira de governar. Este é o governo dos capitalistas e dos militares. Paga-se qualquer preço, expõe-se o país ao ridículo internacional desde que sejam destruídos os direitos e as conquistas dos trabalhadores. Esta é a nossa burguesia.

[i] Professor Emérito da UFPB e Vice-Coordenador do Progeb – Projeto Globalização e Crise na Economia Brasileira; nelsonrr39@hotmail.com; (www.progeb.blogspot.com).

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