quarta-feira, 1 de janeiro de 2020

O que tivemos de bom na economia em 2019?


Semana de 23 a 29 de dezembro de 2019

Lucas Milanez de Lima Almeida [i]

É fim de ano. 2019 passou mais rápido do que imaginei. Ainda bem! 25% daquilo que deve ser o pior quatriênio da República Nova se passou. Resta fazermos um balanço do que ocorreu no período. Imagina a quantidade de páginas que seria preciso para falarmos de Ricardo Salles, Abraham Weintraub, Damares Alves, Ernesto Araújo e Tereza Cristina. Talvez, os únicos feitos que coubessem nas linhas do presente texto fossem os do Ministro astronauta, Marcos Pontes. Também, né!? Por isso, trataremos só de alguns fatos econômicos. Aqueles que a grande mídia considera os principais.
Sem dúvidas, o maior feito da equipe de Paulo Guedes foi aprovar a reforma da previdência. Apesar de não ter sido a dos sonhos do ministro da Economia, foi considerada adequada. Como sempre, o sistema civil público de seguridade social pagou a conta. Para começar, os militares não tiveram sua carne cortada. Ficaram com seu filé da maneira como estava. Apenas os futuros ingressantes nas Forças Armadas é que vão encarar alguma mudança nas suas aposentadorias.
Como foi dito antes, a reforma não foi a ideal, mas foi adequada aos “interesses da nação”. Isto porque deve trazer uma “economia” de R$ 800.000.000.000 ao sistema de seguridade. Significa que esse valor cheio de zeros não será destinado ao pagamento de aposentadorias aos brasileiros. O caro leitor pode pensar: se não será gasto, então não seria preciso mais pagar o que hoje se paga ao INSS. Se você é da classe trabalhadora, ledo engano. Apenas algumas faixas de salário terão redução no imposto, apenas quem recebe até um salário mínimo. O empresariado é que vai sair ganhando. Aliás, já ganha com as isenções que continuam a receber do governo (esse ponto fica pra depois).
O argumento por trás da ajuda que o Estado concede às empresas é que elas dão empregos aos brasileiros. Se elas deixarem de ser beneficiadas com subsídios e isenções, os empregos irão desaparecer. Isto nos leva ao segundo ponto da retrospectiva: a queda no desemprego em 2019.
No trimestre encerrado em novembro de 2019, a taxa de desemprego no país foi a menor desde o início de 2016. Isto seria uma ótima notícia, caso os empregos gerados não fossem o velho conhecido “bico”. Nos três primeiros meses do ano haviam 37,5 milhões de pessoas vivendo de “bico” no Brasil. No trimestre encerrado em novembro, o total cresceu para 38,8 milhões. São 19,6 milhões de pessoas trabalhando por conta própria e outros 11,8 milhões trabalhando no setor privado sem carteira assinada. Eis o resultado da reforma trabalhista de Temer. Os que estão em pior situação, que estão desocupados, somam 11,9 milhões de pessoas.
Ainda temos outras duas notícias positivas com causas negativas: as quedas na inflação e na taxa básica de juros. A situação econômica está tão ruim que a debilidade da demanda reduz as pressões sobre os preços dos produtos no Brasil. A exceção é a carne, que aumentou de preços depois que os produtores locais resolveram fazer, literalmente, um negócio da China. Com a economia desaquecida e com a inflação contida, as taxas de juros tiveram que cair. A esperança era gerar algum tipo de estímulo que tirasse a economia do buraco. Não conseguiu. Só serviu para ajudar o país a bater dois recordes: do índice Bovespa (com os juros baixos restou especular na bolsa) e da taxa de câmbio (com a queda nos juros o investimento estrangeiro aqui no país ficou menos atrativo e menos dólares entraram no nosso mercado).
Falar em tirar a economia do buraco, nada. Nem os saques do FGTS tiveram um efeito significativo. Já tínhamos visto em 2017, no governo Temer, que isso era uma medida com efeito limitado. O mesmo foi visto agora em 2019. No começo do ano, esperava-se que o PIB crescesse 2,55%. Novo engano. Se o país crescer 1% esse ano será bom.
Eis o quadro que foi pintado no último ano da década. A situação não foi nada boa. Talvez a torcida a favor tenha sido fraca. Ou a torcida contra muito forte. É esperar e ver quem ganha em 2020. Feliz ano novo e engrossemos a torcida contra o governo.

[i] Professor do Departamento de Economia da UFPB e coordenador do PROGEB – Projeto Globalização e Crise na Economia Brasileira. (www.progeb.blogspot.com; lucasmilanez@hotmail.com)

Share:

0 comentários:

Postar um comentário

Novidades

Recent Posts Widget

Postagens mais visitadas

Arquivo do blog