Semana de 13 a 19 de janeiro de 2020
Lucas Milanez de Lima
Almeida [i]
É comum circular em correntes de e-mail ou redes
sociais a seguinte frase: “Insanidade é continuar fazendo sempre a mesma coisa
e esperar resultados diferentes”. Muitos atribuem tal frase a Albert Einstein.
Outros comprovam que isto não foi dito por ele. Existe até um site que, em
2017, resolveu buscar o pai desta célebre citação
(https://quoteinvestigator.com/2017/03/23/same/#more-15768).
Obviamente, esta não é a definição de insanidade. Os
psicólogos e psiquiatras jamais tratariam o tema com tal superficialidade.
Contudo, nós, de outras áreas do conhecimento, podemos afirmar: é insano e
estúpido esperar resultados diferentes mantendo-se as mesmas ações de sempre.
Já no final de 2014, no último ano do primeiro
mandato de Dilma Rousseff, foram adotadas medidas de política econômica que
visavam sanear os principais problemas da economia brasileira. Que problemas
eram esses? Excesso de gastos do governo e consequente interferência excessiva
do Estado sobre o mercado. Vale lembrar que a economia já vinha em processo de
desaceleração, iniciado em 2011 e aprofundado no início de 2014. O que
“maquiou” a economia nesse meio tempo foram as políticas anticíclicas adotadas
pela presidenta: redução do imposto sobre produtos industrializados (IPI) para
veículos, linha branca e material de construção; subsídio de crédito via BNDES
aos exportadores brasileiros e aos investimentos em máquinas e equipamentos; o
INOVAR-AUTO; Minha Casa Minha Vida 2; Minha Casa Melhor; PAC 2; etc.
Refrescando nossa memória, em 2015 um economista
liberal ligado ao setor financeiro assumiu o Ministério da Fazenda: Joaquim
Levy. Com ele veio um conjunto de medidas que desaqueceram ainda mais a
economia. Por exemplo, em julho de 2015 a taxa de juros Selic subiu a 14,25%,
maior valor desde agosto de 2006. Soma-se a isso o arrocho fiscal e a drástica
redução do consumo governamental. O resultado não poderia ser outro:
iniciava-se a pior crise da história recente do Brasil. A ideia era sanear os
principais problemas causados pelo inchaço do Estado sobre a economia.
Com o Golpe Parlamentar de 2016, só assumido em 2019
pelo vice-presidente, Michel Temer, as políticas de retração se aprofundaram.
Subiu ao posto de ministro da Fazenda outro economista liberal ligado ao
mercado financeiro: Henrique Meirelles. Quem não se lembra da PEC do fim do
mundo? Ela é aquela que congela quase todos os gastos governamentais por 20
anos, com exceção dos gastos ligados à parte da gestão financeira do Estado
(não há teto para o pagamento dos juros, por exemplo, mas há teto para os
gastos com saúde, educação, etc.). Novamente, a ideia era sanear os principais
problemas causados pelo inchaço do Estado sobre a economia.
Por sua vez, os anos de 2017 e 2018 passaram sem
maiores mudanças nessa política. O então presidente passou mais tempo se
livrando de acusações de corrupção do que qualquer outra coisa.
Iniciado o ano de 2019, como todos nós sabemos, Jair
Bolsonaro assumiu o posto máximo da república brasileira. No pacote, para além
de nazistas, fascistas, terra planistas, olavistas e extremistas religiosos,
veio mais um economista liberal originado do setor financeiro: Paulo Guedes.
Caros leitores, quais foram as medidas adotadas por ele? As mesmas de sempre:
arrocho para sanear os principais problemas causados pelo inchaço do Estado
sobre a economia. Somando-se a isso está a liquidação do patrimônio estatal
que, mesmo lucrativo e trazendo recursos ao Estado brasileiro, é considerado
desnecessário ao desenvolvimento da nação. Dentre eles: o filé mignon, a
picanha e o contrafilé da Petrobrás, a Eletrobrás, partes dos bancos estatais e
uma lista que só cresce.
Pergunto ao caro leitor, diante desses fatos, o que
seria insanidade? Se o caro leitor estiver na dúvida quanto ao que está
acontecendo com o Brasil, observe como os tão desejados investidores estão
reagindo a tudo isso. Se com todos esses anos de medidas iguais eles não se
mexeram, como esperar resultados diferentes daqui pra frente?
Além de insano seria estúpido.
[i] Professor
do Departamento de Economia da UFPB e coordenador do PROGEB – Projeto
Globalização e Crise na Economia Brasileira. (www.progeb.blogspot.com;
lucasmilanez@hotmail.com)
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