quarta-feira, 29 de janeiro de 2020

Depois de Davos


Semana de 20 a 26 de janeiro de 2020

Nelson Rosas Ribeiro[i]

            
Estamos vivendo a ressaca do Fórum Econômico Mundial em Davos na Suíça. As duas grandes questões que se destacaram foram a desigualdade na distribuição da riqueza e os problemas ambientais. Para ambos os temas o Brasil chegou com a mala vazia.
O fundador do Fórum, o alemão Klaus Schwab, apresentou um novo manifesto, o “Manifesto de Davos 2020” em que propôs uma reforma do capitalismo, pois o modelo atual não é mais sustentável. O novo modelo deveria partir das premissas seguintes: pagamento justo dos impostos, tolerância zero com a corrupção, proteção do meio ambiente, qualificação dos empregados, uso ético das informações, vigilância dos direitos humanos, remuneração responsável dos executivos. Tudo que o Brasil não faz. Para aumentar a vergonha, o Brasil não se fez representar na sessão “Assegurar um Futuro Sustentável para a Amazônia”.
Causou grande impacto o relatório da Oxfam, rede de organizações não governamentais. O relatório mostrou que a desigualdade está fora de controle. Apenas 2.153 bilionários possuem mais riqueza que 60% da população mundial (4,5 bilhões de pessoas). 22 desses bilionários possuem mais dinheiro que todas as mulheres da África
O Fundo Monetário Internacional (FMI) também não foi otimista sobre a situação mundial. Reduziu todas as suas previsões. A economia foi fraca em 2019 e continuará pelo menos até 2021. O crescimento será inferior aos 3,6% registrados em 2018. As reduções foram: de 3% para 2,9%, em 2019; de 3,4% para 3,3% em 2020; de 3,6% para 3,4% em 2021. Todos os ajustamentos foram negativos. O FMI classificou a situação como de “estabilidade provisória e recuperação lenta”.
Estes dados confirmam as afirmações que temos feito sobre a situação da economia mundial e como a recuperação da economia interna não poderá contar com nenhum apoio externo.
Claro que esta situação econômica geral tem consequências para o emprego e a situação dos trabalhadores. Coincidindo com o início do Fórum, a Organização Internacional do Trabalho (OIT) publicou um relatório com dados assustadores. O relatório constata que em 7 das 11 regiões do mundo fracassaram as tentativas de conseguir um crescimento sustentável. Como consequência, se espalharam as turbulências sociais. Por outro lado, a proporção da renda do trabalho em relação à renda do capital caiu de 54%, em 2004, para 51%, em 2017. Para a OIT a “desigualdade é inaceitável e insustentável”. No mundo há 180 milhões de desempregados, 165 milhões de subempregados e 120 milhões marginalmente empregados. No total 470 milhões de pessoas não conseguem trabalho digno. Além disso, 630 milhões de trabalhadores vivem na pobreza extrema.
As más notícias não pararam por aí. A consultoria Pricewaterhouse Copers (PwC) entrevistou 1.581 CEOs de 83 países e divulgou seu termômetro do humor empresarial, o que faz sempre em Davos. A percentagem dos CEOs que achavam que a economia mundial vai melhorar caiu de 42%, em 2019, para 22%, em 2020. Os que achavam que a economia vai piorar subiu de 29% para 53% nos mesmos anos. Contribuindo para o pessimismo geral, a diretora-gerente do FMI, Kristina Georgieva afirmou que os países devem ficar com o dedo no gatilho para reagir a uma eventual desaceleração: “Estejam preparados para agir”.
Este é o panorama mundial após Davos.
Enquanto isso, o nosso sinistro da economia Guedes voltou de mãos abanando, mas confirmando a “desaceleração sincronizada da economia mundial” e que a América Latina está estagnada. A preocupação do presidente do Banco Central foi outra. Passou a admitir que mesmo os fluxos financeiros estão se ligando aos problemas ambientais. Grandes investidores internacionais começam a exigir dos países uma espécie de “selo ambiental”, como por exemplo a gestora americana Black Rock. Mais essa: com desmatamento não há investimento estrangeiro. Que tristeza!

[i] Professor Emérito da UFPB e Vice-Coordenador do Progeb – Projeto Globalização e Crise na Economia Brasileira; nelsonrr39@hotmail.com; (www.progeb.blogspot.com).

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