quarta-feira, 6 de maio de 2020

A queda do superministro Moro


Semana de 27 de abril a 03 de maio de 2020

Nelson Rosas Ribeiro[i]
            
Mais uma semana com intensa agitação política. Ainda na ressaca da demissão do ministro da Saúde, o governo resolve derrubar mais um: o todo poderoso supersinistro da Justiça Sergio Moro, o paladino da luta contra a corrupção. Bolsonaro precisava demitir a direção da Polícia Federal (PF) no Rio que comandava as investigações contra sua família e não foi atendido pelo Diretor Geral da PF Maurício Valeixo, então ameaçado de demissão. Moro se opôs à mudança e jogou pesado. Levou a pior. Foi ele próprio demitido juntamente com o diretor Valeixo. Moro decidiu sair atirando e a confusão está armada prometendo muitos seguimentos nas próximas semanas. O novo ministro nomeado, André Luiz Mendonça (terrivelmente evangélico), discursou na posse jurando ser um servo de Bolsonaro classificado como “Profeta”.
A segunda bronca da semana foi a nomeação do substituto do delegado Valeixo como Diretor Geral da PF. O escolhido foi Alexandre Ramagem, amigo da família Bolsonaro. A nomeação foi vetada pelo ministro do STF Alexandre de Moraes, através de uma liminar. O mundo quase veio abaixo.
Tudo isto enquanto o covid-19 se espalha e faz mais vítimas. Na sexta-feira passada, em 24 horas, o número de casos confirmados subiu de 101.17 para 105.222 infectados e o de mortes, de 7.025 para 7.288, com uma letalidade de 6,9%. O novo ministro da Saúde anda como barata tonta a fazer discursos para nada dizer. Em alguns estados já se chegou ao ponto de ruptura do sistema de saúde pública e a tendência é piorar com a ajuda do presidente que continua a fazer propaganda contra o distanciamento social e apelando para a reabertura das atividades econômicas.
Na economia a situação continua a agravar-se. As estimativas para o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) são revistas para baixo. De -3% já está em -5% e há piores previsões. O dólar disparou já superando os R$5,53 apesar da intervenção do Banco Central (BC) que, só na terça feira, injetou US$50 bilhões no mercado. Em relação à 2019, os pedidos de seguro desemprego aumentaram 150 mil, e 52% das famílias não conseguirá pagar suas contas.
Preocupados com a situação econômica, a ala militar do governo lançou o programa Pró-Brasil, um programa para a recuperação da economia pós-covid-19. O general Walter Braga Netto, ministro-chefe da Casa Civil, cercado por outras autoridades, apresentou um grande programa de investimentos em infraestrutura visando relançar a economia e gerar empregos. Entre os participantes não havia ninguém do Ministério da Economia. Os rumores de um racha dentro do governo levou Bolsonaro a fazer uma declaração de que na economia quem manda é o Guedes e em seguida em uma conferência de imprensa, Guedes e Braga Netto trocaram elogios tentando mostrar que tudo estava na completa paz.
Mas o Índice de Incerteza da Economia, calculado pela Fundação Getúlio Vargas (FGV), atingiu um novo recorde de 210,5 pontos superando o anterior que era de 136,8 pontos, em setembro de 2015. As causas apontadas para este aumento são as demissões dos ministros da Saúde e da Justiça e as atitudes do presidente e seus filhos que têm provocado atritos com o Congresso, com o poder judiciário e com a imprensa.
Como consequência, uma pesquisa da Consultoria Atlas Político, nos dias 24 a 26 de abril, mostrou que 49% dos entrevistados apontaram o governo como ruim ou péssimo e apenas 21% como bom ou ótimo. Em pesquisa anterior esta percentagem era de 26%. Em relação ao impeachment de presidente, 54,1% foram favoráveis e apenas 36,6% foram contra. Esta possibilidade, porém, ainda parece remota, pois o presidente da Câmara, Rodrigo Maia, está sentado sobre um grande pacote de pedidos que alcança quase 3 dezenas e declarou que a prioridade agora é o coronavírus.
Parece que o presidente é que não está de acordo pois, no domingo, participou em uma nova manifestação contra o isolamento social, o STF, o Congresso, a imprensa etc. Mais um apelo à ditadura e intervenção militar. Continua testando os limites.


[i] Professor Emérito da UFPB e Vice-Coordenador do Progeb – Projeto Globalização e Crise na Economia Brasileira; nelsonrr39@hotmail.com; (www.progeb.blogspot.com). Colaboraram os pesquisadores: Daniella Alves, Ingrid Trindade, Matheus Quaresma e Monik H. Pinto.

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Um comentário:

  1. É uma tristeza assistir esta convulsão no Brasil. Mas é verdade que não foi por falta de avisos que vieram de todas as partes do mundo. Mas nada impediu a corrida para o matadouro. Agouramos melhores dias.

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