Semana de 27 de abril a 03 de maio de
2020
Nelson Rosas Ribeiro[i]
Mais uma semana com intensa agitação
política. Ainda na ressaca da demissão do ministro da Saúde, o governo resolve
derrubar mais um: o todo poderoso supersinistro da Justiça Sergio Moro, o
paladino da luta contra a corrupção. Bolsonaro precisava demitir a direção da
Polícia Federal (PF) no Rio que comandava as investigações contra sua família e
não foi atendido pelo Diretor Geral da PF Maurício Valeixo, então ameaçado de
demissão. Moro se opôs à mudança e jogou pesado. Levou a pior. Foi ele próprio
demitido juntamente com o diretor Valeixo. Moro decidiu sair atirando e a
confusão está armada prometendo muitos seguimentos nas próximas semanas. O novo
ministro nomeado, André Luiz Mendonça (terrivelmente evangélico), discursou na
posse jurando ser um servo de Bolsonaro classificado como “Profeta”.
A segunda bronca da semana foi a nomeação
do substituto do delegado Valeixo como Diretor Geral da PF. O escolhido foi
Alexandre Ramagem, amigo da família Bolsonaro. A nomeação foi vetada pelo
ministro do STF Alexandre de Moraes, através de uma liminar. O mundo quase veio
abaixo.
Tudo isto enquanto o covid-19 se espalha e
faz mais vítimas. Na sexta-feira passada, em 24 horas, o número de casos
confirmados subiu de 101.17 para 105.222 infectados e o de mortes, de 7.025
para 7.288, com uma letalidade de 6,9%. O novo ministro da Saúde anda como
barata tonta a fazer discursos para nada dizer. Em alguns estados já se chegou
ao ponto de ruptura do sistema de saúde pública e a tendência é piorar com a
ajuda do presidente que continua a fazer propaganda contra o distanciamento
social e apelando para a reabertura das atividades econômicas.
Na economia a situação continua a
agravar-se. As estimativas para o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB)
são revistas para baixo. De -3% já está em -5% e há piores previsões. O dólar
disparou já superando os R$5,53 apesar da intervenção do Banco Central (BC)
que, só na terça feira, injetou US$50 bilhões no mercado. Em relação à 2019, os
pedidos de seguro desemprego aumentaram 150 mil, e 52% das famílias não
conseguirá pagar suas contas.
Preocupados com a situação econômica, a ala
militar do governo lançou o programa Pró-Brasil, um programa para a recuperação
da economia pós-covid-19. O general Walter Braga Netto, ministro-chefe da Casa
Civil, cercado por outras autoridades, apresentou um grande programa de
investimentos em infraestrutura visando relançar a economia e gerar empregos.
Entre os participantes não havia ninguém do Ministério da Economia. Os rumores
de um racha dentro do governo levou Bolsonaro a fazer uma declaração de que na
economia quem manda é o Guedes e em seguida em uma conferência de imprensa,
Guedes e Braga Netto trocaram elogios tentando mostrar que tudo estava na
completa paz.
Mas o Índice de Incerteza da Economia,
calculado pela Fundação Getúlio Vargas (FGV), atingiu um novo recorde de 210,5
pontos superando o anterior que era de 136,8 pontos, em setembro de 2015. As
causas apontadas para este aumento são as demissões dos ministros da Saúde e da
Justiça e as atitudes do presidente e seus filhos que têm provocado atritos com
o Congresso, com o poder judiciário e com a imprensa.
Como consequência, uma pesquisa da
Consultoria Atlas Político, nos dias 24 a 26 de abril, mostrou que 49% dos
entrevistados apontaram o governo como ruim ou péssimo e apenas 21% como bom ou
ótimo. Em pesquisa anterior esta percentagem era de 26%. Em relação ao
impeachment de presidente, 54,1% foram favoráveis e apenas 36,6% foram contra.
Esta possibilidade, porém, ainda parece remota, pois o presidente da Câmara,
Rodrigo Maia, está sentado sobre um grande pacote de pedidos que alcança quase
3 dezenas e declarou que a prioridade agora é o coronavírus.
Parece que o presidente é que não está de
acordo pois, no domingo, participou em uma nova manifestação contra o
isolamento social, o STF, o Congresso, a imprensa etc. Mais um apelo à ditadura
e intervenção militar. Continua testando os limites.
[i] Professor
Emérito da UFPB e Vice-Coordenador do Progeb – Projeto Globalização e Crise na
Economia Brasileira; nelsonrr39@hotmail.com; (www.progeb.blogspot.com). Colaboraram
os pesquisadores: Daniella Alves, Ingrid Trindade, Matheus Quaresma e Monik H. Pinto.
É uma tristeza assistir esta convulsão no Brasil. Mas é verdade que não foi por falta de avisos que vieram de todas as partes do mundo. Mas nada impediu a corrida para o matadouro. Agouramos melhores dias.
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