Semana de 06 a 12 de julho de 2020
Nelson Rosas Ribeiro[i]
As notícias da semana apontam para uma
mudança na tendência da economia. Os mais otimistas já começam a soltar os
foguetes comemorando o início de uma recuperação. O otimismo foi deflagrado
pelo acréscimo de 19,6% das vendas no varejo ampliado, em maio, em relação a
abril. Apesar disso as vendas continuaram 15,4% abaixo do total de fevereiro.
Os analistas atribuem este aumento ao auxílio emergencial e à flexibilização do
isolamento social. Pesquisa da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro
(UFRRJ) mostrou que o Auxílio Emergencial mais o Bolsa Família injetaram
R$122,17 bilhões na economia até julho. Só o crescimento das vendas nos
supermercados foi de 5,2%. Eles calculam que estas ajudas contribuirão para um
acréscimo de 2% no Produto Interno Bruto (PIB). O estímulo às vendas, o aumento
do crédito e das medidas de proteção às indústrias contribuíram para a
recuperação neste setor. A indústria, em maio sobre abril, cresceu 7%. A
produção de veículos cresceu 244%, a de derivados de petróleo 16,2% e a de bebidas
65,5%. O monitor do PIB da Fundação Getúlio Vargas (FGV) mostrou um crescimento
de 4,2% em relação a abril. Isto não compensou as perdas de 26,3% de março
sobre abril e a produção ainda é 21,1% inferior à de fevereiro.
Estas notícias levaram o presidente do
Banco Central (BC) Roberto Campos Neto a falar eufórico em uma recuperação em
V. Teria sido mais sensato seguir os conselhos de Joerg Wuttke, presidente da
Câmara de Comércio da União Europeia na China que afirmou que a recuperação
mundial será mais lenta. Nem V nem W nem U. “... ela parece mais com as bordas
de um motosserra”. Além das letras conhecidas temos agora uma nova recuperação:
“recuperação serrote”.
O Ipea também divulgou um dado positivo. O
“Indicador Ipea mensal de Consumo Aparente” de bens industriais cresceu 3% em
maio sobre abril o que não compensou as quedas de -10,7% de abril sobre março e
de -15,8% de março/fevereiro.
Para o mundo a OCDE publicou os dados dos
Indicadores Compostos Avançados (CLI) da OCDE que mostraram uma subida de 95,3,
em maio, para 97,1, em junho. Para o Brasil esta subida foi de 96,4 para 98,9.
Em relação ao mercado de trabalho a
situação é mais grave. O número de desempregados no Brasil, no trimestre
março/maio, em relação ao trimestre anterior passou de 12,3 milhões para 12,7
milhões. O pequeno crescimento esconde a realidade. Diante da difícil situação
da pandemia muitos desempregados deixaram de procurar emprego saindo da
estatística. Eles aparecem no número de desalentados que subiu para 5,4 milhões
e de subempregados que atingiu 30,4 milhões. A população ocupada teve uma
redução de 7,8 milhões passando para 85,9 milhões de pessoas. Segundo o IBGE,
dos 173,6 milhões em idade de trabalhar 50,5% estão fora do mercado de trabalho.
Na nossa opinião, longe de uma recuperação
estamos diante de uma mudança de tendência e uma certa estabilização temporária
no fundo do poço. Tudo dependerá das medidas que foram adotadas e neste campo
as perspectivas não são boas. Continua o governo a mostrar sua incompetência na
condução da política econômica e a criar conflitos nas relações internacionais,
particularmente nos assuntos ligados ao meio ambiente. Como reação, 34 gestores
de fundos de investimentos que controlam US$4,6 trilhões realizaram uma
teleconferência com o vice-presidente Mourão e mais 6 ministros para cobrar
ações que controlem a destruição da Amazônia. 38 grandes empresas brasileiras e
estrangeiras enviaram uma carta ao Conselho Nacional da Amazônia Legal
preocupadas com o desmatamento no país. 32 instituições financeiras que
controlam US$4,5 trilhões manifestaram idêntica preocupação. Além disso o
Ministério Público entrou com uma ação para o afastamento do ministro do Meio
Ambiente Ricardo Salles e solicitou que o TCU investigue as ações do governo
sobre este tema. Enquanto gagueja desculpas furadas o governo prorrogou a
operação Verde Brasil 2, que através de uma GLO deslocou o exército para conter
os abusos na Amazônia e promete proibir as queimadas. Como vemos, Bolsonaro consegue
unir na oposição burgueses e proletários.
[i] Professor
Emérito da UFPB e Vice-Coordenador do Progeb – Projeto Globalização e Crise na
Economia Brasileira; nelsonrr39@hotmail.com; (www.progeb.blogspot.com). Colaboraram
os pesquisadores: Daniella Gonçalo, Edson da Paz, Guilherme de Paula, Ingrid
Trindade, Matheus Quaresma e Monik H. Pinto.
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