quarta-feira, 1 de julho de 2020

Ainda a falar de crise


Semana de 22 a 28 de junho de 2020

Nelson Rosas Ribeiro[i]
           
Há duas semanas falamos da crise atual rebatendo a afirmação que ela é a crise do Coronavírus. Para nossa surpresa, no final da semana passada, o CODACE (Comitê de Datação dos Ciclos Econômicos) do IBRE – FGV confirmou oficialmente nossa opinião ao informar que a crise teve início no primeiro trimestre do ano, quando o covid-19 ainda não havia iniciado sua ação. A crise, portanto, é anterior ao início da pandemia. Segundo o CODACE, o período de expansão do ciclo econômico no Brasil iniciou-se no primeiro trimestre de 2017 e prolongou-se até o quarto trimestre de 2019. Mas não foi a única instituição a reconhecer este fato por nós anunciado já em dezembro do ano passado. O Tribunal de Contas da União também afirmou que mesmo antes da manifestação do vírus as previsões de crescimento do PIB já eram pessimistas. Apenas o Banco Central e a quadrilha do sinistro da Economia Guedes não admitiam, nem podem admitir, tal realidade. Isto vai contra o receituário proposto pela sua ideologia econômica. Se antes a política econômica proposta por esta ideologia vinha contribuindo para enterrar a economia, com a emergência da “crise do covid-19” a situação foi empurrada para a catástrofe que estamos assistindo.
Como um louco fanático Guedes tranca a boca do cofre e não libera os recursos, mesmo os já aprovados, para combater a pandemia e suas consequências. Não é por acaso que o auxílio emergencial aos desempregados sai aos conta-gotas e os financiamentos às empresas até hoje chegam com dificuldades aos seus destinos. 70% dos pequenos e médios empresários afirmam que as medidas do governo não chegam a suas empresas. Mesmo os recursos para a saúde não são gastos e o general de plantão sentado sobre o respectivo ministério, cercado de milicos, desperdiça suas competências tratando de assuntos para os quais não recebeu nenhuma formação (Coitado!).
Enquanto isso as projeções para o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) do país pioram a cada dia. O Banco Central (BC) já admite uma queda de 6,4% para este ano. O Fundo Monetário Internacional (FMI) alterou sua estimativa de queda de -5,3% para -9.1%. Esta piora nas previsões está ligada ao avanço da pandemia. Enquanto o presidente continua suas ações irresponsáveis contrariando as recomendações sanitárias de seu próprio governo, participando e provocando aglomerações públicas, o número de mortos e infectados cresce causando o colapso do sistema de saúde em várias regiões. O escândalo já chegou a um tal ponto que um juiz aplicou uma multa diária de R$2.000 ao presidente que pretende convocar a Advocacia Geral da União para a sua defesa.
O agravamento da pandemia obriga os governos a intensificar as medidas de quarentena e restrição ao contato social o que piora ainda mais as condições das empresas que continuam a demitir, reduzir salários e jornadas de trabalho, a suspender contratos de trabalho e pagamento de impostos. O desemprego aumenta e, em maio, apenas 49,7% dos brasileiros em idade ativa estava empregado, 9,7 milhões de pessoas ficaram sem salário enquanto 1/3 das famílias estava endividado.
Para agravar a situação não se pode esperar nenhum refresco da situação mundial. O FMI elevou sua previsão para a desaceleração da economia mundial de -3% para -4,9%. Para vários países as previsões são igualmente más. Para a zona do euro -10,2%, para a Alemanha -7,8%, para a França -12,5%, Itália e Espanha -12,8%, Japão -5,8%, Rússia – 6,6%, México -10,5%, etc. O FMI estimou ainda que a crise custou aos governos do mundo o total de US$11 trilhões.
Agravando a crise econômica e sanitária a crise política mantém a sua marcha.  Há um general interino no ministério da Saúde, continua a pendenga em relação ao ministério da Educação depois da fuga desastrada para os EUA do Weintraub, o chanceler Araújo continua a destruir a imagem do país no exterior, e o Salles no meio Ambiente continua “passando a boiada” na destruição da Amazônia e espantando os investidores estrangeiros. A prisão do Queiroz e as outras ações do STF acabaram com a arrogância do presidente que resolveu baixar a bola ao perder apoio na caserna. Até quando?

[i] Professor Emérito da UFPB e Vice-Coordenador do Progeb – Projeto Globalização e Crise na Economia Brasileira; nelsonrr39@hotmail.com; (www.progeb.blogspot.com). Colaboraram os pesquisadores: Daniella Gonçalo, Ingrid Trindade, Matheus Quaresma e Monik H. Pinto.

Share:

0 comentários:

Postar um comentário

Novidades

Recent Posts Widget

Postagens mais visitadas

Arquivo do blog