Semana de 22 a 28 de junho de 2020
Nelson Rosas Ribeiro[i]
Há duas semanas falamos da crise atual
rebatendo a afirmação que ela é a crise do Coronavírus. Para nossa surpresa, no
final da semana passada, o CODACE (Comitê de Datação dos Ciclos Econômicos) do
IBRE – FGV confirmou oficialmente nossa opinião ao informar que a crise teve
início no primeiro trimestre do ano, quando o covid-19 ainda não havia iniciado
sua ação. A crise, portanto, é anterior ao início da pandemia. Segundo o
CODACE, o período de expansão do ciclo econômico no Brasil iniciou-se no
primeiro trimestre de 2017 e prolongou-se até o quarto trimestre de 2019. Mas
não foi a única instituição a reconhecer este fato por nós anunciado já em
dezembro do ano passado. O Tribunal de Contas da União também afirmou que mesmo
antes da manifestação do vírus as previsões de crescimento do PIB já eram
pessimistas. Apenas o Banco Central e a quadrilha do sinistro da Economia
Guedes não admitiam, nem podem admitir, tal realidade. Isto vai contra o
receituário proposto pela sua ideologia econômica. Se antes a política
econômica proposta por esta ideologia vinha contribuindo para enterrar a
economia, com a emergência da “crise do covid-19” a situação foi empurrada para
a catástrofe que estamos assistindo.
Como um louco fanático Guedes tranca a boca
do cofre e não libera os recursos, mesmo os já aprovados, para combater a
pandemia e suas consequências. Não é por acaso que o auxílio emergencial aos
desempregados sai aos conta-gotas e os financiamentos às empresas até hoje
chegam com dificuldades aos seus destinos. 70% dos pequenos e médios
empresários afirmam que as medidas do governo não chegam a suas empresas. Mesmo
os recursos para a saúde não são gastos e o general de plantão sentado sobre o
respectivo ministério, cercado de milicos, desperdiça suas competências
tratando de assuntos para os quais não recebeu nenhuma formação (Coitado!).
Enquanto isso as projeções para o
crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) do país pioram a cada dia. O Banco
Central (BC) já admite uma queda de 6,4% para este ano. O Fundo Monetário
Internacional (FMI) alterou sua estimativa de queda de -5,3% para -9.1%. Esta
piora nas previsões está ligada ao avanço da pandemia. Enquanto o presidente
continua suas ações irresponsáveis contrariando as recomendações sanitárias de
seu próprio governo, participando e provocando aglomerações públicas, o número de
mortos e infectados cresce causando o colapso do sistema de saúde em várias
regiões. O escândalo já chegou a um tal ponto que um juiz aplicou uma multa
diária de R$2.000 ao presidente que pretende convocar a Advocacia Geral da
União para a sua defesa.
O agravamento da pandemia obriga os
governos a intensificar as medidas de quarentena e restrição ao contato social
o que piora ainda mais as condições das empresas que continuam a demitir,
reduzir salários e jornadas de trabalho, a suspender contratos de trabalho e
pagamento de impostos. O desemprego aumenta e, em maio, apenas 49,7% dos
brasileiros em idade ativa estava empregado, 9,7 milhões de pessoas ficaram sem
salário enquanto 1/3 das famílias estava endividado.
Para agravar a situação não se pode esperar
nenhum refresco da situação mundial. O FMI elevou sua previsão para a
desaceleração da economia mundial de -3% para -4,9%. Para vários países as
previsões são igualmente más. Para a zona do euro -10,2%, para a Alemanha
-7,8%, para a França -12,5%, Itália e Espanha -12,8%, Japão -5,8%, Rússia –
6,6%, México -10,5%, etc. O FMI estimou ainda que a crise custou aos governos
do mundo o total de US$11 trilhões.
Agravando a crise econômica e sanitária a
crise política mantém a sua marcha. Há
um general interino no ministério da Saúde, continua a pendenga em relação ao
ministério da Educação depois da fuga desastrada para os EUA do Weintraub, o
chanceler Araújo continua a destruir a imagem do país no exterior, e o Salles
no meio Ambiente continua “passando a boiada” na destruição da Amazônia e
espantando os investidores estrangeiros. A prisão do Queiroz e as outras ações
do STF acabaram com a arrogância do presidente que resolveu baixar a bola ao
perder apoio na caserna. Até quando?
[i] Professor
Emérito da UFPB e Vice-Coordenador do Progeb – Projeto Globalização e Crise na
Economia Brasileira; nelsonrr39@hotmail.com; (www.progeb.blogspot.com). Colaboraram
os pesquisadores: Daniella Gonçalo, Ingrid Trindade, Matheus Quaresma e Monik
H. Pinto.
0 comentários:
Postar um comentário