Semana de 24 a 30 de agosto de 2020
Nelson Rosas Ribeiro[i]
Os nossos leitores já sabem que a atual
crise não é a crise da Covid-19, mas uma nova manifestação da crise econômica
que afeta todas as economias capitalistas a cada 10 anos, aproximadamente. Como
estudiosos do assunto nós já havíamos previsto e vínhamos acompanhando sua
gestação e amadurecimento desde meados do ano passado. A novidade desta
manifestação atual é que a crise estava demorando a ser deflagrada. O processo
se acelerou no final de 2019 e nossa economia começou a precipitar-se nele a
partir de fevereiro, quando o Coronavirus ainda não estava por cá.
Para nossa infelicidade o vírus nos atingiu
em março e o processo de crise se acelerou. Temos então uma crise econômica
agravada pelo Coronavirus de tal modo que assumiu o nome da enfermidade: a
crise do Coronavirus.
De fato, este é um fenômeno novo e o “wild
card” nos modelos de análise de conjuntura, que se tornaram muito mais
imprecisos. Como afirma a Organização Mundial do Comércio (OMC) “a natureza
repentina e inesperada da crise do Covid-19 pode ter alterado profundamente o
comportamento dos padrões econômicos”. A própria OMC sente grandes dificuldades
em suas previsões sobre o comércio mundial. Não sabe se a recuperação do
comércio mundial será em V, rápida e acelerada, ou em L, lenta, arrastada,
refletindo a situação geral da economia.
Com efeito, a economia mundial mostra
sinais contraditórios que obrigam os Bancos Centrais (BCs) a manter suas
políticas de estímulos fiscais e monetários. Isto tem ocorrido com o Banco
Central Europeu (BCE), com o Federal Reserve, BC dos EUA, com o BC inglês, que
continuam a despejar dólares e euros nas economias e manter a política de
subsídios aos trabalhadores. O BCE, por exemplo, preocupado com a lentidão da
retomada sinaliza com mais estímulos além dos US$3 trilhões já gastos desde
março. A economia da União Europeia (EU) contraiu-se 12,1% em 3 meses, até
junho. Não há sinais de recuperação do emprego e a estagnação tem consequências
para o comércio mundial e provocado conflitos como o conflito EUA x China. Por
outro lado, surge a ameaça da segunda onda da Covid-19 que está obrigando à
retomada das restrições ao contato social e a prorrogação dos subsídios aos
desempregados. Há mesmo quem defenda que esta é a solução mais barata pois os
trabalhadores conseguem consumir, pagam impostos e mantêm as empresas a
produzir.
Com este panorama o BC no Brasil publicou o
IBC-Br, indicador antecedente do PIB, que mostrou um crescimento em junho, em
relação a maio, de 4,89%. Com isto reviram a queda no ano para -5%. Na direção
contrária a Fundação Getúlio Vargas (FGV), divulgou seu Monitor do PIB
apontando uma queda recorde de -8,7% no segundo trimestre apesar do crescimento
de 4,2%, em junho, sobre maio. O economista Cláudio Considera vê uma
recuperação, mas, muito lenta. O dado preocupante continua a ser o desemprego
que subiu de 12,4% para 13,1% em julho totalizando 12,3 milhões de pessoas. Em
sentido contrário a arrecadação federal caiu 17,7% sendo o pior julho em 11
anos.
Apesar destes dados não muito animadores e do número de mortos pela pandemia, que já ultrapassa os 110.000 em 5 meses, uma pesquisa do Datafolha mostrou uma recuperação da imagem do governo na população, entre junho e 15 de agosto. A aprovação do governo que era de 32% subiu para 37% e a reprovação que era de 44% caiu para 34%. Os analistas atribuem esta recuperação aos auxílios emergenciais que beneficiam milhões de trabalhadores. Preocupado com a reeleição o governo passou a apostar todas as suas fichas nos auxílios que contribuem para aumentar o déficit orçamentário. Criou-se um choque com a equipe econômica e particularmente com o sinistro da economia Paulo Guedes. A disputa por verbas no orçamento aumentou e grandes manobras são preparadas para não estourar o teto dos gastos. Guedes tenta desesperadamente abraçar o Pró-Brasil e o Renda Brasil alterando o conteúdo e as verbas. Não se pensa nos interesses do país. Bolsonaro quer votos e Guedes quer o teto. E o povo aguarda passivo o resultado desta queda de braços.
[i] Professor
Emérito da UFPB e Vice-Coordenador do Progeb – Projeto Globalização e Crise na
Economia Brasileira; nelsonrr39@hotmail.com; (www.progeb.blogspot.com). Colaboraram
os pesquisadores: Ingrid Trindade, Guilherme de Paula, Matheus Quaresma e Monik
H. Pinto