Semana de 28 de setembro a 04 de outubro de 2020
Lucas Milanez de Lima
Almeida [i]
PIX é
o termo mais badalado no noticiário econômico na última semana. Esse foi o nome
dado pelo Banco Central à chegada ao Brasil de uma inovação já existente no
México, Índia, EUA e Europa. De maneira genérica, o PIX é um sistema de
pagamentos instantâneos criado pelo BC que promete realizar transações de forma
imediata, sem intermediários e mais barata que os tradicionais DOC, TED, Boleto
Bancário e Cartões. Dentre as empresas que mais se beneficiariam estão as
companhias de saneamento, telefonia e distribuição de energia, provavelmente as
que mais emitem boletos em bancos.
A
ideia é retirar dos grandes bancos e das bandeiras de cartão o quase exclusivo
poder de intermediar os pagamentos no país. Assim, além do que já foi dito, a
promessa é ampliar a concorrência no setor financeiro nacional. Isto porque os
bancos de pequeno e médio porte e as fintechs (as empresas financeiras que
operam a partir das novas tecnologias da informação) também poderão participar
do PIX.
Além
do PIX, há outra sigla com a qual espera-se dar um grande passo na direção do
aumento da concorrência na oferta de serviços financeiros no país: a tecnologia
da API (interface de programação de aplicativos, a sigla é em inglês). A API
nada mais é do que um conjunto de padrões de programação que permite a
interligação entre diferentes softwares/aplicativos e páginas da web.
Basicamente, é uma ponte que une os diferentes produtos e serviços digitais de
informação e comunicação. A título de exemplo, quem nunca utilizou seu login da
conta do Google para acessar serviços que não são da empresa Google, como Zoom,
Dropbox ou Globo? É a API que permite essa conexão.
A
partir da adesão do cliente ao PIX e aos serviços financeiros digitais em
geral, espera-se aumentar o leque de instituições com informações bancárias da
população. A estimativa do BC é que 30 milhões de pessoas sejam incluídas no
sistema financeiro via PIX. O passo seguinte deve ser a interligação das
informações de posse das instituições financeiras com empresas de outros ramos
via API. Com isso, será possível ao sistema financeiro brasileiro pôr em prática
o chamado Open Banking. Neste, o dono dos dados bancários, o cliente, escolhe
quais empresas terão acesso às suas informações bancárias, hoje de
exclusividade dos bancos tradicionais dos quais é correntista. Assim, o cliente
poderá abrir suas informações que estão fechadas em um banco.
Qual a
razão disso? A primeira delas é que se apenas um banco tem acesso ao histórico
do correntista, ele terá o monopólio das suas informações e o poder impor as
condições dos serviços prestados. Por outro lado, se vários bancos têm acesso,
há maior probabilidade da oferta de melhores serviços (por exemplo, empréstimos
com juros menores). Mas não para por aí. Seria possível às empresas do setor
financeiro compartilhar os dados bancários com quaisquer outras empresas que utilizem
os meios digitais em seus negócios. Por exemplo, a varejista Magazine Luiza
poderia utilizar, por um lado, o PIX para efetivar a venda de produtos. Por
outro, com o Open Banking, poderia verificar o histórico de crédito de um
cliente em todo sistema bancário e oferecer melhores condições de financiamento
de compras a prazo.
No
papel, o PIX parece ser, de fato, o início de uma nova era no sistema
financeiro brasileiro. Por um lado, tendo em vista a qualidade dos serviços
prestados pelos bancos comerciais no Brasil, quem seria louco de ser contra uma
ação que tire poder de mercado deles? Por outro, diante das novas
possibilidades, quem seria contra a maior concorrência na prestação de serviços
financeiros no Brasil?
Um dos “poréns”, e sempre tem pelo menos um, é que toda concorrência tende à concentração e à centralização do capital. Ou seja, em algum momento o mercado será dominado por poucas empresas novamente. Quando isso vai acontecer, não se sabe. O que sabemos é que os maiores bancos do país não vão ficar parados enquanto perdem seu poder de mercado. Não há qualquer dúvida que eles tentarão monopolizar esses novos instrumentos. Aguardemos as cenas dos próximos capítulos.
[i] Professor
do Departamento de Economia da UFPB e Coordenador do PROGEB – Projeto
Globalização e Crise na Economia Brasileira. (www.progeb.blogspot.com; lucasmilanez@hotmail.com).
Colaboraram os pesquisadores: Ingrid Trindade, Matheus Quaresma, Monik H. Pinto
e Daniella Alves.
Quantica
ResponderExcluir