Semana de 19 a 25 de outubro de 2020
Nelson Rosas Ribeiro[i]
Mal começa o movimento de recuperação das
economias capitalistas desenvolvidas e estoura a segunda onda do covid-19. Está
lançado o novo pânico. Os governos se reúnem e tomam novas decisões de
isolamento social o que vem provocando violentas manifestações populares.
Teme-se novo caos na saúde e nos hospitais. O problema está criado. A segunda
onda já se levanta em países como a Alemanha, França, Reino Unido, Itália,
Espanha e Holanda. A Bélgica e a Suíça já decretaram restrições. O Banco
Central Europeu anunciou que nova recessão é possível e determinou a liberação
de mais 500 bilhões de euros para compra de bônus. Christine Lagarde,
presidente do BCE, apelou para que os governos trabalhem em conjunto com o
banco para manter os estímulos. O Fundo Monetário Internacional (FMI) alertou
para uma recessão profunda no mundo e apelou para que os governos não retirem
as medidas de apoio às economias. Da mesma maneira que o covid-19 deixa
sequelas nos seres humanos também as deixa na economia. Fala-se na ameaça de “longa
covid econômica” de recuperação difícil. O monitor Fiscal do FMI calculou em
US$11,7 trilhões o custo da crise do covid-19, o que corresponde a 12% do PIB
global. mas considera que esta ajuda deve continuar.
Internamente, embora com certa dificuldade, a
economia continua a sua lenta e frágil recuperação. Um sinal desta fragilidade
é o aumento do número de empregos no setor de serviços. Dos 45,4 mil empregos
criados em agosto, com carteira assinada, neste setor, deveu-se ao aluguel de
mão de obra. A insegurança e a incerteza dos empresários impedem a contratação
de trabalhadores definitivos e apelam-se para terceirizados. Este setor é o
primeiro a desempregar, no período de crise e o primeiro a contratar, na recuperação.
Em relação ao emprego outro dado a ser contestado é o crescimento mostrado pela
Caged. Daniel Duque do Ibre/FGV verificou que há discrepâncias entre os dados
desta pesquisa e os divulgados pelo IBGE na PNAD Contínua e PNAD Covid-19.
Afirma Duque que os dados da Caged, que apresentam um maior número de
empregados, podem estar errados devido a subnotificação das demissões.
No entanto, alguns dados confirmam a
recuperação. A FGV divulgou que o Índice de Confiança Industrial (ICI) cresceu
4 pontos na prévia de outubro puxado pelas indústrias de Plásticos e
Metalurgia. O Nuci, índice que mostra o grau de utilização da capacidade
instalada, mostrou que 79,9% desta capacidade estava sendo utilizado, no mesmo
mês. Apesar destes indicadores, segundo a FGV, há sinais preocupantes dentro da
indústria. Para o PIB agropecuário, o Ipea elevou suas estimativas de alta de
1,6% (em setembro), para 1,9%. A Receita Federal divulgou a arrecadação de
R$119,825 bilhões no mês de setembro. Mostrou um crescimento de 1,97% em
relação a 2019, o melhor para o mês em 6 anos, embora o acumulado do ano seja o
mais baixo desde 2010. A mineração cresceu 29% puxada pelo ferro, com 37% de
crescimento e pelo ouro com 22%.
Apesar desses sinais, o capital estrangeiro
mantém sua desconfiança com a recuperação. O estoque de investimentos
estrangeiros (IDP) desabou 20% em 2020. As aplicações em ações caíram 39% e em
títulos 17,5%. No ano a fuga de capitais atingiu R$85,2 bilhões e no mercado de
câmbio foram retirados US$1,15 bilhões.
No meio de todas estas dificuldades o governo continua as suas ações insensatas. O presidente fez declarações contra as recomendações de prevenção do covid-19, desmoralizou seu ministro da Saúde, rasgando o protocolo de intenções assinado para a compra da vacina produzida pelo Butantã, levantou dúvidas sobre a vacina chinesa, insinuando sua ineficácia e declarando que não a compraria e opôs-se a obrigatoriedade da vacinação. Enquanto isso, o líder do governo na Câmara, dizendo-se porta voz do presidente, declarou-se contra todas as medidas de prevenção ao covid-19 e defendeu a volta imediata as aulas e abertura de todas as atividades. Declarou ser contra as soluções europeias de prevenção e defendeu a imunidade de rebanho afirmando que “Assim teríamos o fim da crise e uma retomada econômica consistente”. Esqueceu de acrescentar: sobre uma montanha de cadáveres e milhões de cidadãos sequelados.
[i] Professor
Emérito da UFPB e Vice-Coordenador do Progeb – Projeto Globalização e Crise na
Economia Brasileira; nelsonrr39@hotmail.com; (www.progeb.blogspot.com). Colaboraram
os pesquisadores: Daniella Alves, Guilherme de Paula, Ingrid Trindade e Monik
H. Pinto.
0 comentários:
Postar um comentário