Semana de 07 a 13 de dezembro de 2020
Lucas Milanez de Lima
Almeida [i]
No
mesmo dia em que permaneceu dez minutos inteiros à beira de uma rodovia de
Porto Alegre acenando para os que passavam, todos ouviram o que o Presidente
Jair Bolsonaro anunciou: “estamos vivendo um finalzinho de pandemia”. Decretado
foi, então, o fim da Covid-19 no país. Simples assim! O Messias disse, está
feito. A imprensa que pare de mentir, dizendo que a média de novos casos
diários está subindo. Mentiroso também é o dado que diz que no Brasil já
morrem, novamente, mais de 600 pessoas por dia.
Talvez,
o Presidente tenha afirmado isso tendo em conta um secreto Plano Nacional de
Imunização. Este Plano, que deve ter sido elaborado pelos agentes secretos do
Ministério da Logística (também conhecido como Ministério da Saúde) garantiria
que dezembro de 2020 marcaria o fim da pandemia no Brasil. Ele é tão secreto
que sequer se sabe a data para começar ou terminar. Mesmo que diversos países
já estejam preparados para a vacinação da sua população.
Isso
só pode ser verdade. Os fatos obscuros esclarecem... Tanto que o ministro da
Logística (digo, da Saúde), general da ativa e cantor de karaokê, Eduardo
Pazuello, foi a uma festa celebrar o fim da pandemia. Ela foi dada pelo
governador do Distrito Federal, Ibaneis Rocha, e contou até com Zezé Di
Camargo, sem o Luciano. Todos sem máscara, mostrando à população brasileira que
tudo faz parte de um Plano.
O
Plano é tão eficiente que estão até sendo bonzinhos com o Instituto Butantã e
com o Governo de São Paulo. Através da Anvisa, o governo federal tem feito o
que pode para impedir o desenvolvimento e o uso da Coronavac. Já é uma
quantidade de recursos que deixam de ser aplicados pelos paulistas, uma baita
ajuda para garantir que não sejam despendidos à toa, já que o Messias tem um
Plano. Quem sabe até o Governador de SP não siga os passos de Jair e Michelle
Bolsonaro e use o dinheiro economizado numa cerimônia oficial de lançamento dos
trajes de gala das festas de fim de ano...
Saindo
um pouco do campo do delírio e das ironias, o Itaú fez projeções acerca do
futuro da economia brasileira. Com o fim da pandemia, o PIB do Brasil cresceria
cerca 4% em 2021, podendo chegar até a 5,7%. Caso o pior acontecesse e a
segunda onda de mortes chegasse ao patamar da primeira, a economia cresceria
apenas 1,4% em 2021. Por sua vez, se a média de mortes diárias ficar em 400 nos
três primeiros meses do ano que vem, a projeção diz que o país cresceria 0,2%
no primeiro trimestre de 2021. Caso a média de mortos fosse igual à que temos
hoje, de 600 por dia, o PIB do Brasil cairia 1,2% no primeiro trimestre de
2021.
A
situação parece não estar muito favorável à economia brasileira. Fora toda
desgraça que nos acomete, o clima não está ajudando a lavoura. Apesar de ser um
setor constantemente aclamado pelo Presidente, o campo está sofrendo com a seca
e com as consequências da pandemia. Por exemplo, apesar de ainda ser esperado
um recorde na colheita de 2020/21, a estimativa é de que sejam colhidas 3
milhões de toneladas de grãos a menos em relação às previsões iniciais. Isto
porque “La Niña” afetou mais duramente o regime de chuvas, que prejudicou a
produção de diversas culturas no Centro-Sul do país: milho e arroz no Rio
Grande do Sul, soja em Mato Grosso, laranja em São Paulo e Minas Gerais, cana
de açúcar em Mato Grosso do Sul, Goiás e São Paulo, além do café nas regiões do
Triângulo Mineiro e Mogiana Paulista. Soma-se a isso o fato de que o abate de
bovinos no terceiro trimestre de 2020 apresentou queda de 9,5% em relação ao
mesmo período de 2019. Para finalizar, as exportações de soja e seus derivados
recuaram em novembro a tal ponto de reduzir em 1,5% as exportações totais do
campo em novembro de 2020, quando comparado com novembro de 2019.
Só um louco não percebe que nós brasileiros estamos completamente perdidos na solução dos problemas da pandemia. O nosso poder público é uma piada (literalmente) de mau gosto. Negou a pandemia na primeira onda. Está a negar na segunda. De fato, o brasileiro não tem um dia de paz mesmo...
[i] Professor
do Departamento de Economia da UFPB e Coordenador do PROGEB – Projeto
Globalização e Crise na Economia Brasileira. (www.progeb.blogspot.com; lucasmilanez@hotmail.com).
Colaboraram os pesquisadores: Ingrid Trindade, Guilherme de Paula, Monik H.
Pinto e Daniella Alves.
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