Semana de 14 a 20 de dezembro de 2020
Nelson Rosas Ribeiro[i]
A análise dos dados econômicos confirma o
processo de recuperação da economia. Só a anunciada recuperação em V, do
sinistro da economia Paulo Guedes, não pode ser verificada por mais que torçam
os números. Mas, que história é essa de V? Já vimos várias vezes nesta coluna
que a economia se move em ondas de crescimento e desaceleração. É um movimento
cíclico conhecido como ciclo econômico ou crise cíclica de superprodução. Mesmo
as teorias oficiais que negam este ciclo usam as expressões “políticas
anticíclicas” ou “pro-cíclicas”. O próprio Guedes e seus fanáticos de vez em
quando escorregam e fazem estas afirmações.
Há várias maneiras de verificar o ciclo com
dados estatísticos, mas a mais usual é utilizar as taxas de crescimento do PIB
ou da produção industrial. Estas taxas nos permitem construir um gráfico com o
qual podemos verificar visualmente este movimento de sobe e desce. Quando a
linha está descendo, em algum momento ela voltará a subir. É a reversão. A
linha apresentará a forma de uma letra. Se a subida é rápida, teremos o vértice
de um V. Se a subida é lenta, a forma será de um U. Se há uma sucessão de sobe
e desce teremos um W ou mesmo o tal serrote (vários Ws emendados).
O que significa estarmos em recuperação?
Significa que a economia voltou a crescer pois o volume da produção industrial
começou a aumentar impulsionando o aumento do emprego embora os indicadores do
desemprego continuem a mostrar crescimento por um problema de critério de
mensuração usado pelo IBGE. Só é considerado desempregado quem procura emprego.
Quem fica em casa (os desalentados) e os que fazem bicos (subempregados) não
são contados.
A retomada da produção industrial pode ser
observada pela falta de matérias-primas (aço, por exemplo) e pelo IBC-Br,
índice calculado pelo Banco Central (BC), que mostra um crescimento de 0,85%,
em outubro, em relação a setembro. Este crescimento está desacelerando. Com
efeito, nos meses anteriores foi: junho 5,23%, julho 2,42%, agosto 1,62%,
setembro 1,68% e agora outubro 0,85%. Não é crescimento em V. Esta
desaceleração é confirmada pelo Índice de Confiança Empresarial (ICE) que caiu
1,7 pontos e pelo Índice de Confiança do Consumidor (ICC) que caiu 4,1 pontos,
ambos em relação a novembro. Os dois Índices são calculados pela Fundação
Getúlio Vargas (FGV) que constatou também a existência, em outubro, de 13,8
milhões de desempregados. A economista da FGV Viviane Seda afirmou ainda que há
“uma clara desaceleração da indústria” e que “até o momento não vemos cenário
promissor, não vemos luz no fim do túnel”. Estamos assim em recuperação, mas
esta não tem a forma de V e o futuro é muito incerto. Serão difíceis grandes
melhoras em 2021.
Há dois fatores que não são de ordem
econômica e dificultam a marcha da economia e as análises e previsões. O
primeiro deles é a covid-19. Estamos em plena segunda onda e a euforia das
festas de final do ano e a irresponsabilidade das pessoas estimulada pela ação
homicida do governo vão provocar o agravamento da situação com risco de colapso
do sistema de saúde. Acrescentemos ainda a estupidez da política genocida do general
intendente, executada pelo Ministério da Saúde, entupido de milicos, a mando do
louco presidente. O agravamento da pandemia afetará a economia. O segundo fator
é a política econômica do sinistro da Economia com sua cegueira ideológica que
quer administrar um país como um agiota.
Estes dois fatores estão contribuindo para
dificultar o natural movimento de recuperação e podem trazer consequências
desastrosas.
Se a
situação interna é difícil e nebulosa externamente continuamos a colecionar
dissabores. O Brasil foi excluído da cúpula da Ambição Climática da ONU que
reúne os 77 estados mais importantes do mundo. Ficou fora também da cúpula da
Organização Mundial da Propriedade Intelectual (OMPI) apesar de ter apoiado o
candidato de Trump. Foi ainda classificado entre os 3 últimos lugares no
relatório do Fórum Econômico Mundial (WEF) entre os 37 países analisados,
considerando os critérios de educação, princípios de governança, índice de
corrupção e confiança no governo.
2021 promete ser mais um no difícil, infelizmente.
[i] Professor
Emérito da UFPB e Vice-Coordenador do Progeb – Projeto Globalização e Crise na
Economia Brasileira; nelsonrr39@hotmail.com; (www.progeb.blogspot.com). Colaboraram
os pesquisadores: Daniella Alves, Guilherme de Paula, Ingrid Trindade e Monik
H. Pinto.
0 comentários:
Postar um comentário