quinta-feira, 24 de dezembro de 2020

Haverá luz no fim do túnel?

Semana de 14 a 20 de dezembro de 2020

 

Nelson Rosas Ribeiro[i]

           

A análise dos dados econômicos confirma o processo de recuperação da economia. Só a anunciada recuperação em V, do sinistro da economia Paulo Guedes, não pode ser verificada por mais que torçam os números. Mas, que história é essa de V? Já vimos várias vezes nesta coluna que a economia se move em ondas de crescimento e desaceleração. É um movimento cíclico conhecido como ciclo econômico ou crise cíclica de superprodução. Mesmo as teorias oficiais que negam este ciclo usam as expressões “políticas anticíclicas” ou “pro-cíclicas”. O próprio Guedes e seus fanáticos de vez em quando escorregam e fazem estas afirmações.

Há várias maneiras de verificar o ciclo com dados estatísticos, mas a mais usual é utilizar as taxas de crescimento do PIB ou da produção industrial. Estas taxas nos permitem construir um gráfico com o qual podemos verificar visualmente este movimento de sobe e desce. Quando a linha está descendo, em algum momento ela voltará a subir. É a reversão. A linha apresentará a forma de uma letra. Se a subida é rápida, teremos o vértice de um V. Se a subida é lenta, a forma será de um U. Se há uma sucessão de sobe e desce teremos um W ou mesmo o tal serrote (vários Ws emendados).

O que significa estarmos em recuperação? Significa que a economia voltou a crescer pois o volume da produção industrial começou a aumentar impulsionando o aumento do emprego embora os indicadores do desemprego continuem a mostrar crescimento por um problema de critério de mensuração usado pelo IBGE. Só é considerado desempregado quem procura emprego. Quem fica em casa (os desalentados) e os que fazem bicos (subempregados) não são contados.

A retomada da produção industrial pode ser observada pela falta de matérias-primas (aço, por exemplo) e pelo IBC-Br, índice calculado pelo Banco Central (BC), que mostra um crescimento de 0,85%, em outubro, em relação a setembro. Este crescimento está desacelerando. Com efeito, nos meses anteriores foi: junho 5,23%, julho 2,42%, agosto 1,62%, setembro 1,68% e agora outubro 0,85%. Não é crescimento em V. Esta desaceleração é confirmada pelo Índice de Confiança Empresarial (ICE) que caiu 1,7 pontos e pelo Índice de Confiança do Consumidor (ICC) que caiu 4,1 pontos, ambos em relação a novembro. Os dois Índices são calculados pela Fundação Getúlio Vargas (FGV) que constatou também a existência, em outubro, de 13,8 milhões de desempregados. A economista da FGV Viviane Seda afirmou ainda que há “uma clara desaceleração da indústria” e que “até o momento não vemos cenário promissor, não vemos luz no fim do túnel”. Estamos assim em recuperação, mas esta não tem a forma de V e o futuro é muito incerto. Serão difíceis grandes melhoras em 2021.

Há dois fatores que não são de ordem econômica e dificultam a marcha da economia e as análises e previsões. O primeiro deles é a covid-19. Estamos em plena segunda onda e a euforia das festas de final do ano e a irresponsabilidade das pessoas estimulada pela ação homicida do governo vão provocar o agravamento da situação com risco de colapso do sistema de saúde. Acrescentemos ainda a estupidez da política genocida do general intendente, executada pelo Ministério da Saúde, entupido de milicos, a mando do louco presidente. O agravamento da pandemia afetará a economia. O segundo fator é a política econômica do sinistro da Economia com sua cegueira ideológica que quer administrar um país como um agiota.

Estes dois fatores estão contribuindo para dificultar o natural movimento de recuperação e podem trazer consequências desastrosas.

 Se a situação interna é difícil e nebulosa externamente continuamos a colecionar dissabores. O Brasil foi excluído da cúpula da Ambição Climática da ONU que reúne os 77 estados mais importantes do mundo. Ficou fora também da cúpula da Organização Mundial da Propriedade Intelectual (OMPI) apesar de ter apoiado o candidato de Trump. Foi ainda classificado entre os 3 últimos lugares no relatório do Fórum Econômico Mundial (WEF) entre os 37 países analisados, considerando os critérios de educação, princípios de governança, índice de corrupção e confiança no governo.

2021 promete ser mais um no difícil, infelizmente.


[i] Professor Emérito da UFPB e Vice-Coordenador do Progeb – Projeto Globalização e Crise na Economia Brasileira; nelsonrr39@hotmail.com; (www.progeb.blogspot.com). Colaboraram os pesquisadores: Daniella Alves, Guilherme de Paula, Ingrid Trindade e Monik H. Pinto.

Share:

0 comentários:

Postar um comentário

Novidades

Recent Posts Widget

Postagens mais visitadas

Arquivo do blog