sexta-feira, 11 de dezembro de 2020

O PIB “fantástico” da recuperação em “V”

Semana de 30 de novembro a 06 de dezembro de 2020

 

Nelson Rosas Ribeiro[i]

           

Os dados divulgados na semana, pelo IBGE e FGV, levaram a “equipe dos pesadelos” do sinistro Paulo Guedes (o da Economia), a dar pulos histéricos de euforia. “O sinal de recuperação cíclica é evidente, o Brasil está decolando de novo”, declarou o sinistro. O curioso é ele usar o conceito “recuperação cíclica”. Então o movimento cíclico da economia existe? Ele referiu a retomada dos serviços com o fim do distanciamento social, ignorando a segunda onda e a burrice ideológica do pançudo da Saúde que dificulta a vacinação. Afirmou ainda que vai retirar os estímulos fiscais, acabar o Auxílio Emergencial e chamou de “negacionista” os que negam a chamada “recuperação em V”.          O tosco presidente, mesmo sendo analfabeto, seguiu os conselhos do seu “posto Ipiranga” e fez coro com o tal “V”, e considerando os dados da recuperação como “fantásticos”. Aproveitou a oportunidade para acrescentar que vai privatizar a Eletrobrás.

Com efeito, estão sendo anunciados bons números, na economia, para o terceiro trimestre. O PIB cresceu 7,7% (o mercado esperava 8,8%). O consumo das famílias cresceu 7,6%, o do governo 3,5%. A Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF) cresceu 11%, o setor de máquinas 52%, o PIB industrial 14,8% (No segundo trimestre havia caído -13%) e a construção civil 5,6% (abaixo do esperado). A Indústria e o Comércio foram os motores da recuperação.

Mas há outros números não tão favoráveis. As empresas da construção civil tiveram uma queda de -7,9% e o setor vinha caindo desde o 1º trimestre de 2015, daí a decepção com o crescimento observado de 5,6% agora. O PIB industrial havia caído 13% no segundo trimestre e, portanto, o crescimento atual não repôs as perdas. Além disso a queda do PIB do segundo trimestre foi corrigida de -12,7% para -14,1%.

O desemprego continua a atingir 14,4% com 13,8 milhões de desempregados. A indústria vinha em expansão, mas a taxas decrescentes: junho 9,6%, julho 8,6%, agosto 3,4%, setembro 2,8% e outubro 1,1%. Os bens intermediários, em outubro caíram -0,2% e os duráveis e não duráveis cresceram apenas 0,1%. Das 26 atividades analisadas pelo IBGE, 11 recuaram, entre as quais alimentos, -2,8% e extrativos, -2,4%.

Outro dado preocupante foi o IPCA, índice de preços que mede a inflação. O Banco Central (BC) projeta para 2021 o IPCA de 3,4%, mas já há estimativas de valores maiores que 4%. Os preços têm sido impulsionados pelos alimentos e pelos preços administrados que tinham aumento de zero e passaram a subir 2,5%. A energia é o grande vilão além do gás e dos combustíveis. Mais algumas matérias primas aumentam a pressão. O minério de ferro teve a maior elevação em 6 anos subindo 12% bem como o petróleo 27%. A Companhia Siderúrgica Nacional (CSN) elevou o preço do aço em 12% para os aços planos e longos, mas para o setor automotivo o aumento foi entre 30% e 35%.

O BC mostra-se preocupado com a aceleração dos preços, mas acredita que o repique vai passar. O pior é que todos os analistas reconhecem que a epidemia é deflacionária. Estamos, portanto, mais uma vez, na contramão.

Para 2021 o panorama mostra o crescimento das incertezas. Aliás, isto já é visto no Indicador da Incerteza da Economia (IIE-Br) calculado pela FGV que subiu 2 pontos de outubro para novembro. As causas apontadas são a pandemia e o equilíbrio fiscal.

Mas o problema não para aí. A comissão do FMI que analisou o Brasil entre setembro e outubro recomendou, em seu relatório, cautela na retirada dos estímulos pois a recuperação da economia é frágil. Segundo o FMI, o Brasil está entre as “10% retomadas mais fracas no mundo nos últimos 50 anos”. Daí a necessidade de cautela.

Mas a equipe econômica, cega pela sua fidelidade à crença fanática no equilíbrio fiscal, promete acabar com os estímulos. Para muitos analistas a situação é instável, pois a segunda onda do covid-19, com o fim do Auxílio Emergencial e a inflação farão cair o consumo e aumentar o desemprego. E enquanto a Amazônia tem o maior desmatamento em 12 anos, o clã Bolsonaro ameaça os dois países mais poderosos do mundo: os EUA com pólvora e o gigante chinês com sanções comerciais. Os que escaparem do covid-19 verão o resultado da ousadia e da recuperação em “V”.


[i] Professor Emérito da UFPB e Vice-Coordenador do Progeb – Projeto Globalização e Crise na Economia Brasileira; nelsonrr39@hotmail.com; (www.progeb.blogspot.com). Colaboraram os pesquisadores: Daniella Alves, Guilherme de Paula, Ingrid Trindade e Monik H. Pinto.

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