Semana de 21 a 27 de dezembro de 2020
Lucas Milanez de Lima
Almeida [i]
A vacinação em massa contra o coronavírus começou,
mas não no Brasil. Até o presente momento, já foram vacinadas 4.665.501 pessoas
pelo mundo (tomaram pelo menos uma dose). No Brasil, nenhuma! Em primeiro lugar
estão os EUA, que vacinaram 2,13 milhões de pessoas. Em seguida vêm China (1
milhão) e Reino Unido (800 mil). Como proporção da população, quem mais vacinou
foram Israel, Bahrein e Reino Unido. Mais de 40 países já iniciaram sua
vacinação, incluindo alguns hermanos latino-americanos. Novamente, no Brasil
ainda nada!
Em análise anterior, destaquei o fato de que a
“tempestade” que enfrentamos no momento é a mesma, mas não temos todos o mesmo
“barco” para enfrentá-la. Como era de se esperar, isto se reflete no acesso que
os países têm à vacina.
Segundo o Duke Global Health Innovation Center, há
estimativas de que apenas em 2023 ou 2024 teremos vacina suficiente para toda a
população do planeta, incluindo o agente imunizante em si e os materiais para
aplicá-lo (seringa, luva, máscara, etc.). Alheios a isso, e buscando garantir o
retorno à normalidade em seus territórios, os governos dos países de alta renda
já compraram mais de 4 bilhões de doses das diversas vacinas desenvolvidas (as
testadas e as que estão em fase de testes). Isto corresponde a cerca de 50% do
total de doses até aqui anunciado. Por exemplo, as doses já compradas pelo
Canadá correspondem a 505% da população do país. No Reino Unido este percentual
é de 290% e no Chile, de 244%. No Brasil, amargamos míseros 46% de doses em
relação ao total da população, incluindo a CoronaVac, desenvolvida em parceria
com o Instituto Butantã.
Quando questionado sobre o início da imunização no
mundo e sobre a inqualificável situação do Brasil, o presidente Jair Bolsonaro
disse: “Ninguém me pressiona para nada”. No dia seguinte, disse que, “caso
exercesse pressões pela vacina, seria acusado de interferência e
irresponsabilidade”. Para finalizar, especialista que é em economia, soltou: “O Brasil tem 210 milhões
de habitantes, um mercado consumidor de qualquer coisa enorme. Os laboratórios
não tinham que estar interessados em vender para a gente?”. O presidente acha o
quê, que as inúmeras frases defecadas ao longo de 2020 seriam o meio mais
eficaz de combater a pandemia?
Não é nenhuma novidade que o Brasil está muito longe
de resolver seus problemas quanto a Covid-19, sejam os da saúde ou da economia.
A esta altura do campeonato é difícil dizer se a situação atual é resultado de
uma absoluta incompetência na gestão federal ou é algo piorado pelo
terraplanismo nas diversas dimensões da realidade: ciência, saúde, economia,
meio ambiente, assistência, etc. O que parece ser é um mix dos dois, uma
incapacidade de compreender a realidade que é agravada pela cegueira
ideológica.
Não são poucos os eleitores de Bolsonaro que, desde
meados de 2019, se arrependeram de votar nele. Por sua vez, para rever sua
opinião, outros precisaram passar por este que é o pior capítulo da nossa
história recente. O último famoso a manifestar seu (agora) desapreço foi Pedro
Bial, que em seu programa chamou Bolsonaro de “desgovernante”, “acéfalo” e
“delirante”.
É ruim ver que só em situações extremas alguns
compreendem o mal que fizeram ao votar em Bolsonaro. Mas é como dizem: antes
tarde do que mais tarde ainda... Só espero que quando as próximas eleições
chegarem, ao ver um candidato imbecil, não pensem que ele servirá para presidir
a nossa República. Era óbvio que não poderíamos estar em situação diferente com
esta liderança do Executivo.
Aquela que é a única solução para os problemas
sanitários e econômicos, a vacinação em massa, está longe de se resolver. Não
por uma questão de falta de recursos, como nos países de baixa renda. É graças
à gestão Bolsonaro. Na verdade, não a ele, mas aos eleitores dele, arrependidos
ou não.
Ah, quase me esquecia. Desejo ao caro leitor uma boa virada, sem aglomeração...
[i] Professor
do Departamento de Economia da UFPB e Coordenador do PROGEB – Projeto
Globalização e Crise na Economia Brasileira. (www.progeb.blogspot.com; lucasmilanez@hotmail.com).
Colaboraram os pesquisadores: Ingrid Trindade, Guilherme de Paula, Monik H.
Pinto e Daniella Alves.
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