Semana de 12 a 18 de abril de 2021
Lucas Milanez de Lima
Almeida [i]
Sempre
que tratamos da situação atual do Brasil, esta coluna parece estar em um loop
infinito de péssimas perspectivas. De fato, mantendo-se fiel ao verdadeiro
espírito científico, não é possível trazer análises positivas se a realidade do
país está de mal a pior. Negar a realidade não é uma atitude cientificamente
aceitável. Portanto, vamos aos fatos mais recentes.
O
primeiro e mais antigo fato que se escancara é o desastre brasileiro perante a
pandemia de Covid-19. De acordo com os dados do portal “Our World in Data” na
semana de 12 a 18 de abril de 2021 éramos apenas o 63º colocado no ranking de
vacinados por habitante (apesar de o SUS já ter vacinado mais de 30 milhões de
pessoas). Também em comparação com o total da população, pela média da semana
citada, somos o 27º país que mais teve novos casos e o 8º em novas mortes.
Quanto aos testes para Covid-19, sequer temos dados suficientes para entrarmos
no comparativo internacional. Ou seja, alguns desses números poderiam ser
piores, caso a testagem no Brasil fosse séria.
A
situação do Brasil neste quesito parece não ser nada promissora. Antes mesmo de
chegarmos perto de resolver o problema da vacinação através do nosso sistema de
saúde pública, nosso Estado e nossa burguesia já costuram um “fura fila” da
vacinação. Isto deve ocorrer por meio de lei que regulamentará a compra e
aplicação de vacinas de acordo com critérios que contemplem os interesses de
entidades privadas. Não apenas empresas do setor de saúde, mas, pasmem, também
de setores como indústria e comércio. Sobre isso, ficam as recomendações do
site https://www.camarotedavacinanao.org.br
e do vídeo https://www.youtube.com/watch?v=6wWqCnnVmhM.
O
setor de Serviços, por sua vez, surpreendeu positivamente as expectativas.
Esperava-se um crescimento de 1,3% entre janeiro e fevereiro de 2021. Mas a
realidade foi melhor: no total os Serviços cresceram 3,7%. A atividade que mais
cresceu foi Serviços prestados às Famílias, que se elevou em 8,8% no período.
Apesar disso, este crescimento ainda está longe de ser suficiente para superar
os efeitos da pandemia. Nos dois primeiros meses de 2021 os Serviços às
Famílias caíram 40,5% em comparação com janeiro e fevereiro de 2020. No total
do setor de Serviços, nos doze meses encerrados em fevereiro 2021, o volume da
produção era 8,6% menor do que o observado no acumulado dos doze meses
encerrados em fevereiro de 2020.
Isso
mostra que o setor que mais gera riqueza na economia brasileira ainda não
apresentou um crescimento robusto. E as perspectivas para a atividade econômica
a partir de março não são boas, pois foi o momento em que o país entrou na pior
fase da pandemia, até agora. Por isso, é esperado que o crescimento seja
novamente freado.
Para o
trabalhador que recebe o salário mínimo a realidade atual não chega a ser um
desastre, mas também não é boa. O reajuste dado em 2021 foi inferior à inflação
do ano passado. Para muitos, o montante de R$ 2,00 a menos pode não representar
muita coisa. Mas representa, sim! Primeiro, no ano o valor soma R$ 24,00 a
menos na conta do trabalhador, fora 13º e demais direitos que variam com o
salário. Segundo e mais importante: este ato rompe um pacto social onde o
trabalhador não deveria ter seu poder de compra reduzido entre um ano e outro.
Hoje a defasagem é de apenas R$ 2,00. O que garante que amanhã não vai ser R$
4,00? Lei é lei e precisa ser cumprida, viu Bolsonaro!?
Outro tema que traz pouquíssima esperança é o
da tributação. Os EUA estão correndo atrás das empresas que se apoiam nos
benefícios da lei para não pagar tributos. A estimativa é de que seja possível
ampliar a receita com imposto de renda sobre os mais ricos em até US$ 1
trilhão. Enquanto isso no Brasil, já vimos que o governo cogita a tributação de
livros...
Caro leitor, obviamente que a lista das atuais mazelas do Brasil é inumerável. A realidade se impõe a qualquer otimismo. Mas isso não é motivo para desanimo. Pelo contrário. Que os culpados sejam apontados e que paguem pelo que estamos sofrendo.
[i] Professor
do Departamento de Economia da UFPB e Coordenador do PROGEB – Projeto
Globalização e Crise na Economia Brasileira. (www.progeb.blogspot.com; lucasmilanez@hotmail.com).
Colaboraram os pesquisadores: Ingrid Trindade, Guilherme de Paula e Daniella
Alves.
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