Semana de 05 a 11 de abril de 2021
Nelson Rosas Ribeiro[i]
As águas continuam correndo na mesma
direção prevista em nossas últimas análises. Agravam-se as situações política,
econômica e sanitária. A pandemia multiplica os contágios, as internações e as
mortes. O sistema de saúde entrou em colapso e estamos à beira do colapso do
sistema funerário. O início da recuperação do final do ano foi abortado com as
novas paralisações das atividades. Na política as pedras no tabuleiro
mexeram-se. O presidente, obrigado a demitir o louco chanceler Ernesto Araújo,
aproveitou a oportunidade para alterar o esquema de segurança tentando proteger-se
e criar melhores condições para o golpe que não lhe sai da cabeça.
Apesar das pressões de parte das forças que
o apoiam, Bolsonaro saiu por aí com sua insensata pregação negacionista. Na
viagem pelo Sul, vociferou em Chapecó e Foz do Iguaçu contra o isolamento
social, o uso da máscara e a vacinação, conclamando a população a ir para a rua
com afirmações do tipo “nossa liberdade vale mais que nossa própria vida”. Mais
uma vez apropriou-se do exército afirmando “nosso exército não vai à rua para manter
o povo dentro de casa”. Não satisfeito manteve a propaganda da cloroquina como
tratamento, usando a África como exemplo da luta contra a pandemia. Mais uma
mentira. Ainda justificou os 350 mil mortos: “Qual país do mundo não morre
gente? Infelizmente morre em qualquer lugar. ”
O discurso seguinte foi em São Paulo, no
jantar na casa do Washington Civel, dono da Cia de Segurança Gocil, que contou
com a presença da nata mais reacionária dos empresários paulistas entre os
quais Flávio Rocha (Riachuelo), David Safra (Banco Safra), Luiz Carlos Trabuco Cappi (Bradesco), André Esteves (BTG Pactual) e o puxador mor Paulo Skaf. A bajulação foi tão indecente
que o jornal Valor Econômico publicou um longo artigo desqualificando a
representação presente e citando outro grupo da burguesia paulista que apoiou a
carta aberta dos economistas, recentemente divulgada.
Em sentido contrário, solidarizando-se com
as posições golpistas de Bolsonaro, manifestou-se o general de pijama Eduardo
José Barbosa, presidente do Clube Militar, entidade que envergonha as forças
armadas com suas descabidas manifestações. Em um desrespeito à constituição, o
general apoiou o alinhamento dos comandos militares com as vontades do governo
instigando a tropa a agir contra governadores e estimulando os atos de insubordinação
das polícias militares. E tudo em defesa das liberdades das pessoas em ir e vir
esquecendo que para a morte só existe o ir. Não há retorno.
No campo econômico os dados mostram que a
situação em 2020 não foi pior graças ao Auxílio Emergencial e aos subsídios
concedidos às empresas. A pandemia teve consequências diversas para os
negócios. Uma pesquisa do Valor Data, com 341 grandes empresas, mostrou que 62%
delas aumentaram suas receitas e só 38% tiveram queda. 67% delas tiveram lucro.
339 estão em boas condições para a retomada com um lucro líquido de R$60
bilhões. Claro que o sucesso foi pago pelos milhares de trabalhadores demitidos
e empresas fechadas. Alguns setores, como o setor produtor de barcos de luxo,
tiveram grande crescimento e as Marinas ficaram lotadas com 690.000
embarcações.
Já no primeiro bimestre de 2021, a situação
se agravou. Em janeiro o IBC-Br, do Banco Central (BC), mostrou um crescimento
da economia de 1,04%. Em fevereiro, a produção industrial teve uma queda de
0,7%. Em março, o Índice de Confiança do Consumidor (ICC) caiu 9,8 pontos e o
Índice de Confiança dos Empresários (ICE) caiu 5,6 pontos. O setor de bens de
capital foi favorecido pela safra recorde que puxou a demanda de máquinas
agrícolas (crescimento de 36,3% no primeiro bimestre) e de caminhões (12,6%),
enquanto a indústria como um todo só cresceu 1,3%.
No mundo há uma unanimidade de que a recuperação econômica só será possível com a vitória sobre a pandemia. Todos clamam pela vacinação, máscara e isolamento social. No Brasil o principal inimigo desta campanha é o próprio presidente, o bode colocado na sala pelo desespero de uma burguesia reacionária e de parte das forças armadas saudosas dos tempos da ditadura. Diante da calamidade atual pergunta-se: Quem agora vai tirar o bode da sala?
[i] Professor
Emérito da UFPB e Vice-Coordenador do Progeb – Projeto Globalização e Crise na
Economia Brasileira; nelsonrr39@hotmail.com; (www.progeb.blogspot.com). Colaboraram
os pesquisadores: Ingrid Trindade, Guilherme de Paula e Daniella Alves.
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