quinta-feira, 1 de abril de 2021

Combate ao covid-19 recupera a economia

Semana de 22 a 28 de março de 2021

 

Nelson Rosas Ribeiro[i]

           

A preocupação com a situação do país, tanto econômica quanto sanitária, levou um grupo de empresários, banqueiros, economistas e personalidades políticas a lançar uma carta manifesto à nação. Em termos duros levantaram críticas quanto à forma como o combate à pandemia tem sido conduzido no país, principalmente pelo dirigente máximo, a “liderança que combate o combate à pandemia”. A carta logo no título afirma que “O país exige respeito”. Pedem maior empenho no combate ao coronavirus e defendem a vacinação em massa, o distanciamento social, o uso de máscaras e uma coordenação nacional.

A carta expressa o crescimento no país da consciência que, sem combate à pandemia, se tona muito difícil a recuperação econômica, o que vem sendo afirmado pelas organizações internacionais. Com efeito, em um evento organizado pela Organização Mundial do Comércio (OMC) foi unânime o reconhecimento que o melhor estímulo à recuperação é a vacinação. A diretora-gerente do Fundo Monetário Internacional (FMI), Kristalina Georgieva defendeu a erradicação do covid-19 em todo o planeta e para isto “é preciso gastar”. O diretor geral da Organização Mundial da Saúde (OMS) Tedros Adhanom afirmou que saúde e economia são integradas. David Malpass, presidente do Banco Mundial (BM) considerou que sem o combate à pandemia a redução do PIB será uma catástrofe. Para o secretário geral da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) Angel Guria a pandemia é um retrocesso no desenvolvimento. O FMI já se antecipou e liberou US$ 650 bilhões para ajuda aos países mais necessitados.

No Brasil, diante da inoperância do governo central, os governadores e prefeitos vem tomando as iniciativas e decretando as medidas de restrição ao deslocamento das pessoas e isolamento social, o que tem irritado o presidente e seus fanáticos seguidores. Em algumas cidades e estados foram até aprovados auxílios emergenciais.

A segunda onda tem criado situações de catástrofe em alguns lugares e o sistema de saúde já entrou em ruptura. A falta de vacinas impede a aceleração da vacinação.

Com isto a situação econômica tende ao agravamento diante da junção de vários fatores: pandemia, desajuste fiscal, aumento dos preços das matérias primas e da inflação, depreciação cambial, concentração de renda, desemprego, aumento do risco, desconfiança e incerteza. Para agravar a situação o orçamento aprovado, por erros na sua preparação, mostra-se inexequível.

Na tentativa de conter a propagação da covid-19 várias montadoras começaram a parar as linhas de montagem. A Volkswagen Caminhões e Ônibus de Rezende parou. A Renault em São José dos Pinhais, no Paraná também. A Scania no ABC paulista para até 5 de abril. A Volvo em Curitiba reduziu em 70% a produção de caminhões. Também param a Nissan em Rezende e a Mercedes-Benz em São Bernardo.

A situação social se agrava. O Ibre/FGV mostrou que em 2020 o endividamento das famílias havia chegado a 56,4%. Para 2021 esta situação tende a piorar como o desemprego que deverá chegar a 15,6%. Isto tem afetado as expectativas de consumidores e empresários. Na prévia da FGV, o Índice de Confiança do Empresário (ICE) caiu 5 pontos e o Índice de Confiança do Consumidor (ICC) caiu 7,8 pontos.

A segunda onda tem se mostrado mais violenta quanto ao número de infetados e de mortos que já ultrapassa os 300.000. Enquanto isso o presidente comemora seu aniversário ameaçando com golpe de Estado e intervenção contra os governadores usando o Exército e seus bandos armados, ameaças que não foram apoiadas pelas Forças Armadas e provocaram fortes pronunciamentos dos parlamentares.

O aumento das tensões tem provocado desentendimentos dentro do governo e os pronunciamentos do ministro das relações exteriores criaram uma situação insustentável que obrigou o presidente a demiti-lo. Tudo indica que outras cabeças rolarão. Possivelmente a próxima semana será cheia de surpresas. Vamos aguardar.


[i] Professor Emérito da UFPB e Vice-Coordenador do Progeb – Projeto Globalização e Crise na Economia Brasileira; nelsonrr39@hotmail.com; (www.progeb.blogspot.com). Colaboraram os pesquisadores: Ingrid Trindade, Guilherme de Paula e Daniella Alves.

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