Semana de 22 a 28 de março de 2021
Nelson Rosas Ribeiro[i]
A preocupação com a situação do país, tanto
econômica quanto sanitária, levou um grupo de empresários, banqueiros,
economistas e personalidades políticas a lançar uma carta manifesto à nação. Em
termos duros levantaram críticas quanto à forma como o combate à pandemia tem
sido conduzido no país, principalmente pelo dirigente máximo, a “liderança que
combate o combate à pandemia”. A carta logo no título afirma que “O país exige
respeito”. Pedem maior empenho no combate ao coronavirus e defendem a vacinação
em massa, o distanciamento social, o uso de máscaras e uma coordenação
nacional.
A carta expressa o crescimento no país da
consciência que, sem combate à pandemia, se tona muito difícil a recuperação
econômica, o que vem sendo afirmado pelas organizações internacionais. Com
efeito, em um evento organizado pela Organização Mundial do Comércio (OMC) foi
unânime o reconhecimento que o melhor estímulo à recuperação é a vacinação. A
diretora-gerente do Fundo Monetário Internacional (FMI), Kristalina Georgieva
defendeu a erradicação do covid-19 em todo o planeta e para isto “é preciso
gastar”. O diretor geral da Organização Mundial da Saúde (OMS) Tedros Adhanom
afirmou que saúde e economia são integradas. David Malpass, presidente do Banco
Mundial (BM) considerou que sem o combate à pandemia a redução do PIB será uma
catástrofe. Para o secretário geral da Organização para a Cooperação e
Desenvolvimento Econômico (OCDE) Angel Guria a pandemia é um retrocesso no
desenvolvimento. O FMI já se antecipou e liberou US$ 650 bilhões para ajuda aos
países mais necessitados.
No Brasil, diante da inoperância do governo
central, os governadores e prefeitos vem tomando as iniciativas e decretando as
medidas de restrição ao deslocamento das pessoas e isolamento social, o que tem
irritado o presidente e seus fanáticos seguidores. Em algumas cidades e estados
foram até aprovados auxílios emergenciais.
A segunda onda tem criado situações de
catástrofe em alguns lugares e o sistema de saúde já entrou em ruptura. A falta
de vacinas impede a aceleração da vacinação.
Com isto a situação econômica tende ao
agravamento diante da junção de vários fatores: pandemia, desajuste fiscal,
aumento dos preços das matérias primas e da inflação, depreciação cambial,
concentração de renda, desemprego, aumento do risco, desconfiança e incerteza.
Para agravar a situação o orçamento aprovado, por erros na sua preparação,
mostra-se inexequível.
Na tentativa de conter a propagação da
covid-19 várias montadoras começaram a parar as linhas de montagem. A
Volkswagen Caminhões e Ônibus de Rezende parou. A Renault em São José dos
Pinhais, no Paraná também. A Scania no ABC paulista para até 5 de abril. A
Volvo em Curitiba reduziu em 70% a produção de caminhões. Também param a Nissan
em Rezende e a Mercedes-Benz em São Bernardo.
A situação social se agrava. O Ibre/FGV
mostrou que em 2020 o endividamento das famílias havia chegado a 56,4%. Para
2021 esta situação tende a piorar como o desemprego que deverá chegar a 15,6%.
Isto tem afetado as expectativas de consumidores e empresários. Na prévia da FGV,
o Índice de Confiança do Empresário (ICE) caiu 5 pontos e o Índice de Confiança
do Consumidor (ICC) caiu 7,8 pontos.
A segunda onda tem se mostrado mais
violenta quanto ao número de infetados e de mortos que já ultrapassa os
300.000. Enquanto isso o presidente comemora seu aniversário ameaçando com
golpe de Estado e intervenção contra os governadores usando o Exército e seus
bandos armados, ameaças que não foram apoiadas pelas Forças Armadas e
provocaram fortes pronunciamentos dos parlamentares.
O aumento das tensões tem provocado desentendimentos dentro do governo e os pronunciamentos do ministro das relações exteriores criaram uma situação insustentável que obrigou o presidente a demiti-lo. Tudo indica que outras cabeças rolarão. Possivelmente a próxima semana será cheia de surpresas. Vamos aguardar.
[i] Professor
Emérito da UFPB e Vice-Coordenador do Progeb – Projeto Globalização e Crise na
Economia Brasileira; nelsonrr39@hotmail.com; (www.progeb.blogspot.com). Colaboraram
os pesquisadores: Ingrid Trindade, Guilherme de Paula e Daniella Alves.
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