Semana de 29 de março a 04 de abril de 2021
Lucas Milanez de Lima
Almeida [i]
A
semana que passou foi bastante movimentada na Esplanada dos Ministérios. Vimos
uma verdadeira dança das cadeiras em seis pastas. Parte das trocas são um aceno
para sua frágil base de apoio no Congresso.
Nas
Relações Exteriores, apesar de motivada por pressões vindas do Senado Federal,
a indicação do novo ministro está longe de ser um nome que siga a tradição da
diplomacia brasileira. Até porque Carlos Alberto Franco França é famoso por ser
o chefe do Cerimonial do Palácio do Planalto desde os primeiros meses de
governo Bolsonaro. Sua experiência na área é longa, pois entre 2011 e 2015
ocupou a posição de assessor neste mesmo Cerimonial. Na diplomacia, nunca
chefiou sequer uma embaixada brasileira no exterior. No máximo, ocupou posições
em embaixadas na Bolívia, no Paraguai e nos EUA. Por esta falta de experiência,
é esperado que o perfil discreto seja engolido pelas pressões vindas da ala
ideológica do governo. Leia-se, Eduardo Bolsonaro e Filipe Martins, aquele
mesmo que “ajeitou” o paletó com um gesto comum entre racistas.
Na
Secretaria de Governo, foi indicada a Deputada Federal Flávia Arruda (PL-DF).
Esta também é uma mudança para agradar o Congresso, pois ela é próxima do
Presidente da Câmara, Arthur Lira. Porém, a deputada padece do mesmo problema
do Chanceler: não tem experiência para o cargo que vai ocupar. A parlamentar
iniciou sua vida na carreira política em 2014, quando substituiu o marido
preso, José Roberto Arruda, na chapa que concorria ao governo do Distrito
Federal. Perdeu aquela eleição. Em 2018, contudo, foi a deputada federal mais
votada do DF. Iniciou no cargo em fevereiro de 2019 e, por enquanto, tem poucos
feitos de destaque.
As
outras quatro trocas de ministros podem se resumir a dois movimentos. O
primeiro é do General Luiz Eduardo Ramos, que entrou na Casa Civil para ocupar
o vazio deixado pelo General Walter Braga Netto. No caso, Braga Netto virou o
novo ministro da Defesa. O segundo movimento foi o que fez Anderson Torres o
novo ministro da Justiça, ocupando a pasta deixada pelo Pastor André Mendonça.
Isto porque Mendonça foi para a Advocacia Geral da União.
As
motivações dessas trocas podem ser reduzidas a uma única: blindar o presidente
Bolsonaro e seu clã.
De um
lado, a troca na AGU é um arranjo para que o presidente tenha alguém que cumpra
seus delírios de ordem jurídica. Essencialmente, faça perseguição de críticos e
opositores do governo. De quebra, na Justiça, bota alguém próximo a sua família
e que é desafeto de um moribundo opositor: Sérgio Moro. Por isso, mudanças na
condução das investigações contra os Bolsonaro devem vir no futuro.
Por
outro lado, não era novidade o descontentamento do Presidente com o então
Ministro General Fernando Azevedo e Silva. Apesar de ter participado de
manifestações antidemocráticas, o ministro nem sempre aderiu ao discurso
aloprado de Bolsonaro. O delírio do Presidente, criado a partir de um passado
saudoso, sempre foi dar um autogolpe e transformar-se num ditador. Apesar de
povoar o Palácio do Planalto de militares, os comandantes das Forças Armadas
não demonstraram apoio suficiente, para o gosto do Presidente. Afinal, quem em
sã consciência, embarcaria num governo liderado por Bolsonaro? Pior ainda se
ele tivesse o poder de executar tudo o que “pensa”. O resultado foi o inédito
pedido de demissão simultânea apresentado pelos comandantes do Exército, da
Marinha e da Aeronáutica.
Esses
acontecimentos políticos da semana passada dão um sinal para a sociedade:
Bolsonaro se sente ameaçado por alguma coisa. Será que é com a investigação dos
filhos? Será que é com a possibilidade dessa investigação chegar nele? Será que
é por conta da flagrante incompetência no enfrentamento da pandemia e das
consequências que devem vir no futuro? Será por conta da queda na popularidade?
Será pela volta de Lula ao jogo?
O tabuleiro está posto. Agora é ver se a troca de peças mexe no jogo democrático.
[i] Professor
do Departamento de Economia da UFPB e Coordenador do PROGEB – Projeto
Globalização e Crise na Economia Brasileira. (www.progeb.blogspot.com; lucasmilanez@hotmail.com).
Colaboraram os pesquisadores: Ingrid Trindade, Guilherme de Paula e Daniella
Alves.
0 comentários:
Postar um comentário