quarta-feira, 7 de abril de 2021

O troca-troca do Bolsonaro

Semana de 29 de março a 04 de abril de 2021

 

Lucas Milanez de Lima Almeida [i]

 

A semana que passou foi bastante movimentada na Esplanada dos Ministérios. Vimos uma verdadeira dança das cadeiras em seis pastas. Parte das trocas são um aceno para sua frágil base de apoio no Congresso.

Nas Relações Exteriores, apesar de motivada por pressões vindas do Senado Federal, a indicação do novo ministro está longe de ser um nome que siga a tradição da diplomacia brasileira. Até porque Carlos Alberto Franco França é famoso por ser o chefe do Cerimonial do Palácio do Planalto desde os primeiros meses de governo Bolsonaro. Sua experiência na área é longa, pois entre 2011 e 2015 ocupou a posição de assessor neste mesmo Cerimonial. Na diplomacia, nunca chefiou sequer uma embaixada brasileira no exterior. No máximo, ocupou posições em embaixadas na Bolívia, no Paraguai e nos EUA. Por esta falta de experiência, é esperado que o perfil discreto seja engolido pelas pressões vindas da ala ideológica do governo. Leia-se, Eduardo Bolsonaro e Filipe Martins, aquele mesmo que “ajeitou” o paletó com um gesto comum entre racistas.

Na Secretaria de Governo, foi indicada a Deputada Federal Flávia Arruda (PL-DF). Esta também é uma mudança para agradar o Congresso, pois ela é próxima do Presidente da Câmara, Arthur Lira. Porém, a deputada padece do mesmo problema do Chanceler: não tem experiência para o cargo que vai ocupar. A parlamentar iniciou sua vida na carreira política em 2014, quando substituiu o marido preso, José Roberto Arruda, na chapa que concorria ao governo do Distrito Federal. Perdeu aquela eleição. Em 2018, contudo, foi a deputada federal mais votada do DF. Iniciou no cargo em fevereiro de 2019 e, por enquanto, tem poucos feitos de destaque.

As outras quatro trocas de ministros podem se resumir a dois movimentos. O primeiro é do General Luiz Eduardo Ramos, que entrou na Casa Civil para ocupar o vazio deixado pelo General Walter Braga Netto. No caso, Braga Netto virou o novo ministro da Defesa. O segundo movimento foi o que fez Anderson Torres o novo ministro da Justiça, ocupando a pasta deixada pelo Pastor André Mendonça. Isto porque Mendonça foi para a Advocacia Geral da União.

As motivações dessas trocas podem ser reduzidas a uma única: blindar o presidente Bolsonaro e seu clã.

De um lado, a troca na AGU é um arranjo para que o presidente tenha alguém que cumpra seus delírios de ordem jurídica. Essencialmente, faça perseguição de críticos e opositores do governo. De quebra, na Justiça, bota alguém próximo a sua família e que é desafeto de um moribundo opositor: Sérgio Moro. Por isso, mudanças na condução das investigações contra os Bolsonaro devem vir no futuro.

Por outro lado, não era novidade o descontentamento do Presidente com o então Ministro General Fernando Azevedo e Silva. Apesar de ter participado de manifestações antidemocráticas, o ministro nem sempre aderiu ao discurso aloprado de Bolsonaro. O delírio do Presidente, criado a partir de um passado saudoso, sempre foi dar um autogolpe e transformar-se num ditador. Apesar de povoar o Palácio do Planalto de militares, os comandantes das Forças Armadas não demonstraram apoio suficiente, para o gosto do Presidente. Afinal, quem em sã consciência, embarcaria num governo liderado por Bolsonaro? Pior ainda se ele tivesse o poder de executar tudo o que “pensa”. O resultado foi o inédito pedido de demissão simultânea apresentado pelos comandantes do Exército, da Marinha e da Aeronáutica.

Esses acontecimentos políticos da semana passada dão um sinal para a sociedade: Bolsonaro se sente ameaçado por alguma coisa. Será que é com a investigação dos filhos? Será que é com a possibilidade dessa investigação chegar nele? Será que é por conta da flagrante incompetência no enfrentamento da pandemia e das consequências que devem vir no futuro? Será por conta da queda na popularidade? Será pela volta de Lula ao jogo?

O tabuleiro está posto. Agora é ver se a troca de peças mexe no jogo democrático.


[i] Professor do Departamento de Economia da UFPB e Coordenador do PROGEB – Projeto Globalização e Crise na Economia Brasileira. (www.progeb.blogspot.com; lucasmilanez@hotmail.com). Colaboraram os pesquisadores: Ingrid Trindade, Guilherme de Paula e Daniella Alves.

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