Semana de 14 a 20 de junho de 2021
Nelson Rosas Ribeiro[i]
Na Análise da semana passada o Professor
Lucas usou esta metáfora com muita propriedade. Ele se referia à “autonomia” do
Banco Central (BC) e à equipe que o dirige. Há vários estudos que mostram a
existência da “porta giratória” entre a diretoria do BC e o sistema financeiro.
Os mesmos gestores se revezam entre as duas instituições. O economista e
progebiano Eric Gil Dantas publicou trabalhos sobre este intercâmbio.
E a
raposa cuidou muito bem das galinhas. Como previsto, o Copom elevou a taxa
Selic em 0,75%. A taxa subiu de 3,5% para 4,25% e o motivo alegado foi o
combate à inflação, que está saindo do controle e estourando o teto da meta.
Naquela Análise, mostramos, que os fatores que estão causando a inflação atual
não têm qualquer relação com a taxa de juros. O remédio usado pelo Copom para
combater o mal é inócuo. É como a cloroquina contra o covid-19. Mas, é o que
está nos manuais de economia usado nas Faculdades, e seguido como religião pela
atual equipe econômica, os “Chicago boys”. Lá está escrito que a inflação é
provocada pelo excesso de demanda sobre a oferta. Esta pressão faz com que os
preços subam. A solução é, portanto, inibir o consumo e o instrumento de que
dispõe o BC para isto é a taxa de juros. Juros mais altos significa maior lucro
para os especuladores financeiros (o “mercado”). O sistema financeiro bate
palmas e comemora. Eis a raposa tomando conta de seu galinheiro. Mas ela ainda
não está satisfeita e prepara-se para nova ação. O Copom já avisou que novos
aumentos virão e promete um aumento de mais 0,75%, no mínimo, já na próxima
reunião.
Taxa de juros mais altas, porém significa
desestímulo aos investimentos produtivos. A débil recuperação da economia que
se inicia encontrará novas dificuldades para prosseguir, como se não bastassem
as já existentes. É um bom exemplo de política econômica contracíclica.
Não parecem existir dúvidas que no momento
atual a economia tenta iniciar a fase de reanimação. Já está em tempo. Atravessamos
um período bastante longo de crise e depressão e obrigatoriamente deve vir a
fase de reanimação. Isto se a situação fosse normal, submetida a fenômenos
puramente econômicos. O problema é que vivemos na pandemia do covid-19. E, além
disso, temos um governo anormal. Estamos sob a influência de dois fenômenos
extraeconômicos: Covid + Bolsonaro. Esta dupla infernal dificulta não só nossa
análise como a recuperação (já referimos a ação contracíclica do BC). A
política genocida do governo não promove a vacinação em massa na velocidade
necessária, combate as medidas profilática recomendadas internacionalmente
pelas autoridades sanitárias e continua a pregar o uso de medicação que, longe
de contribuir para a cura, agrava a saúde das pessoas. Nem sequer se pode
dormir tranquilo diante das ameaças constantes do troglodita presidente de dar
um golpe e destruir a democracia. Toda vez que abre a boca sai uma ameaça e
sempre com um general ao lado para dar credibilidade à suas bravatas
irresponsáveis.
As vezes os próprios generais saltam para o
campo de batalha e dão sua contribuição. É o caso do general Luís Carlos Gomes
Mattos, presidente do Superior Tribunal Militar, em declarações elogiosas ao
governo, reclamando que não deixam o capitão governar. (esqueceu de acrescentar
“Expulso do exército”).
Enquanto isso, aos trancos e barrancos a
recuperação caminha enfrentando muitas dificuldades. O preço das commodities
continua a subir bem como o dos materiais de construção. Faltam matérias-primas
e outros insumos no mercado graças à desorganização das cadeias produtivas. O
endividamento das empresas atinge 61,7% do PIB. O consumo continua a ser
reprimido pelos 14,8 milhões de desempregados, 6 milhões de desalentados e 33,2
milhões de subutilizados. A massa dos rendimentos cai 6,7%. O Índice de
Miséria, que era de 18,4 pontos em dezembro de 2020, atingiu o pico histórico
de 23,4 pontos, em maio deste ano. O índice de Gini chega ao recorde de 0,674,
a renda per capita cai 11,3% para R$995,00, pela primeira vez abaixo de
R$1000,00. Enquanto isso a inflação continua a comer o salário dos mais pobres
aumentando as desigualdades. Em 12 meses, para os de baixa renda ela é de 8,91%
e para os de alta renda de 6,33%.
E o Bolsonaro quer se reeleger! Vai jogar pedra na lua.
[i] Professor
Emérito da UFPB e Vice-Coordenador do Progeb – Projeto Globalização e Crise na
Economia Brasileira; nelsonrr39@hotmail.com; (www.progeb.blogspot.com). Colaboraram
os pesquisadores: Ingrid Trindade, Guilherme de Paula e Daniella Alves.
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