quinta-feira, 10 de junho de 2021

“É hora de partir”

Semana de 31de maio a 06 de junho de 2021

 

Nelson Rosas Ribeiro[i]

           

Como dissemos na semana passada, é muito difícil continuar falando de economia e conjuntura quando temos um demente no governo a promover ações completamente desatinadas. E o mais incrível é que tal demente aí foi colocado pelo voto popular manipulado por ações irracionais, dirigidas e alimentadas pela elite econômica do país, pelos partidos políticos de direita e centro e pelos oficiais das forças armadas. Convém lembrar que estas forças armadas expulsaram de suas fileiras o tenente processado exatamente pelas suas ações desequilibradas, incompatíveis com o posto de oficial. O psicopata foi carinhosamente requentado e tolerado enquanto, durante mais de 20 anos, como deputado, proferiu os maiores impropérios racistas, machistas, homofóbicos e defendeu abertamente a tortura e a ditadura. Estava sendo preparado pela elite dominante para o caso de uma necessidade, que finalmente surgiu. (Há outros exemplos semelhantes no mundo).

E aí temos a monstruosidade, o bode na sala. Ninguém quer assumir a paternidade pelo desastre. A personalidade psicopata e doentia encontrou o seu momento de glória. (Há casos semelhantes no mundo). E aqui estamos nós a suportá-lo.

Não há mais adjetivos a usar para qualificar o presidente. O escândalo tornou-se internacional. O brasil virou o bufão da corte mundial e seria muito divertido se não fosse tão trágico.

Nesta semana o jornal “The Economist”, uma das publicações mais respeitadas do mundo, dedicou uma reportagem inteira sobre o fenômeno, com direito à capa, estampando a estátua do Cristo Redentor entubado. É deste artigo a frase que serve de título a presente Análise. Depois de uma longa exposição sobre a situação do país, onde são apontados os problemas nacionais como a estagnação, a destruição da Amazônia, a política ambiental, a regressão social, o desemprego, o atraso nas vacinas, a explosão da pandemia etc., o jornal conclui que “A prioridade mais urgente é se livrar dele”.

O artigo assanhou as hostes bolsomínias que, com sua costumeira ignorância, traduziu erradamente parte do texto onde se falava em derrotar o governo nas eleições por “liquidar o governo”. Passaram a afirmar que o Economist pregava o assassinato de Bolsonaro. 

Enquanto isso o presidente se prepara para ficar a qualquer custo no trono. O caso da punição ao general Pazuello é mais um bom exemplo. Diante de sua intervenção direta, ao afirmar que uma punição ao Pazuello seria tomada como afronta pessoal a ele, “comandante em chefe” das forças armadas, o general Paulo Sérgio Nogueira de Oliveira, comandante do exército, para não ser demitido, acovardou-se. Mandou arquivar o processo. Bolsonaro além disso, nomeou o general Pazuello como secretário de Estudos Estratégicos, na secretaria de Assuntos Estratégicos. Bolsonaro “está pagando pra ver” e, por enquanto, continua cooptando o exército já corrompido pelos altos salários e nomeações para cargos civis. Ao mesmo tempo, continua a aumentar seu controle sobre as polícias militares tentando criar um comando paralelo ao dos governadores, além de continuar a armar seu bando de milicianos que ele chama de seu exército. Fica o alerta. Estamos caminhando a passos largos para uma saída autoritária. Por mais louca que seja a ideia de um golpe militar ela continua a comandar a cabeça do louco. Nada mais próprio.

Com um ruído destes, vejam como é difícil falar de economia. E era importante fazê-lo pois esta semana o IBGE divulgou o resultado do PIB no primeiro trimestre: crescimento de 1,2%, comparado ao trimestre anterior, o quarto de 2020. Foi o bastante para o sinistro da economia Paulo Guedes sair por aí aos foguetórios. Claro que 1,2% é crescimento. Mas este número não é o bastante para soltar foguetes. Há outros números. A primeira constatação, que o Guedes não referiu, é que para este resultado positivo concorreu o agronegócio com crescimento de 5,7%, graças ao boom das commodities. Lembremos também 14,8 milhões de desempregados, 6 milhões de desalentados e 33,2 milhões de subempregados, além de 460 mil mortos pela covid-19. Voltaremos a comentar o crescimento do PIB.


[i] Professor Emérito da UFPB e Vice-Coordenador do Progeb – Projeto Globalização e Crise na Economia Brasileira; nelsonrr39@hotmail.com; (www.progeb.blogspot.com). Colaboraram os pesquisadores: Ingrid Trindade, Guilherme de Paula e Daniella Alves.

Share:

0 comentários:

Postar um comentário

Novidades

Recent Posts Widget

Postagens mais visitadas

Arquivo do blog