Semana de 31de maio a 06 de junho de
2021
Nelson Rosas Ribeiro[i]
Como dissemos na semana passada, é muito
difícil continuar falando de economia e conjuntura quando temos um demente no
governo a promover ações completamente desatinadas. E o mais incrível é que tal
demente aí foi colocado pelo voto popular manipulado por ações irracionais,
dirigidas e alimentadas pela elite econômica do país, pelos partidos políticos
de direita e centro e pelos oficiais das forças armadas. Convém lembrar que
estas forças armadas expulsaram de suas fileiras o tenente processado
exatamente pelas suas ações desequilibradas, incompatíveis com o posto de
oficial. O psicopata foi carinhosamente requentado e tolerado enquanto, durante
mais de 20 anos, como deputado, proferiu os maiores impropérios racistas,
machistas, homofóbicos e defendeu abertamente a tortura e a ditadura. Estava
sendo preparado pela elite dominante para o caso de uma necessidade, que
finalmente surgiu. (Há outros exemplos semelhantes no mundo).
E aí temos a monstruosidade, o bode na
sala. Ninguém quer assumir a paternidade pelo desastre. A personalidade
psicopata e doentia encontrou o seu momento de glória. (Há casos semelhantes no
mundo). E aqui estamos nós a suportá-lo.
Não há mais adjetivos a usar para
qualificar o presidente. O escândalo tornou-se internacional. O brasil virou o
bufão da corte mundial e seria muito divertido se não fosse tão trágico.
Nesta semana o jornal “The Economist”, uma
das publicações mais respeitadas do mundo, dedicou uma reportagem inteira sobre
o fenômeno, com direito à capa, estampando a estátua do Cristo Redentor
entubado. É deste artigo a frase que serve de título a presente Análise. Depois
de uma longa exposição sobre a situação do país, onde são apontados os
problemas nacionais como a estagnação, a destruição da Amazônia, a política
ambiental, a regressão social, o desemprego, o atraso nas vacinas, a explosão
da pandemia etc., o jornal conclui que “A prioridade mais urgente é se livrar
dele”.
O artigo assanhou as hostes bolsomínias
que, com sua costumeira ignorância, traduziu erradamente parte do texto onde se
falava em derrotar o governo nas eleições por “liquidar o governo”. Passaram a
afirmar que o Economist pregava o assassinato de Bolsonaro.
Enquanto isso o presidente se prepara para
ficar a qualquer custo no trono. O caso da punição ao general Pazuello é mais
um bom exemplo. Diante de sua intervenção direta, ao afirmar que uma punição ao
Pazuello seria tomada como afronta pessoal a ele, “comandante em chefe” das
forças armadas, o general Paulo Sérgio Nogueira de Oliveira, comandante do
exército, para não ser demitido, acovardou-se. Mandou arquivar o processo.
Bolsonaro além disso, nomeou o general Pazuello como secretário de Estudos
Estratégicos, na secretaria de Assuntos Estratégicos. Bolsonaro “está pagando
pra ver” e, por enquanto, continua cooptando o exército já corrompido pelos
altos salários e nomeações para cargos civis. Ao mesmo tempo, continua a
aumentar seu controle sobre as polícias militares tentando criar um comando
paralelo ao dos governadores, além de continuar a armar seu bando de milicianos
que ele chama de seu exército. Fica o alerta. Estamos caminhando a passos
largos para uma saída autoritária. Por mais louca que seja a ideia de um golpe
militar ela continua a comandar a cabeça do louco. Nada mais próprio.
Com um ruído destes, vejam como é difícil falar de economia. E era importante fazê-lo pois esta semana o IBGE divulgou o resultado do PIB no primeiro trimestre: crescimento de 1,2%, comparado ao trimestre anterior, o quarto de 2020. Foi o bastante para o sinistro da economia Paulo Guedes sair por aí aos foguetórios. Claro que 1,2% é crescimento. Mas este número não é o bastante para soltar foguetes. Há outros números. A primeira constatação, que o Guedes não referiu, é que para este resultado positivo concorreu o agronegócio com crescimento de 5,7%, graças ao boom das commodities. Lembremos também 14,8 milhões de desempregados, 6 milhões de desalentados e 33,2 milhões de subempregados, além de 460 mil mortos pela covid-19. Voltaremos a comentar o crescimento do PIB.
[i] Professor
Emérito da UFPB e Vice-Coordenador do Progeb – Projeto Globalização e Crise na
Economia Brasileira; nelsonrr39@hotmail.com; (www.progeb.blogspot.com). Colaboraram
os pesquisadores: Ingrid Trindade, Guilherme de Paula e Daniella Alves.
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