quarta-feira, 2 de junho de 2021

Uma amostra do que vem em 2022

Semana de 24 a 30 de maio de 2021

 

Lucas Milanez de Lima Almeida [i]

 

Quem me dera que na presente coluna só precisássemos falar de economia! Poderíamos avaliar o que, de fato, representa termos um 1º trimestre de 2021 melhor do que as previsões iniciais, quando o PIB cresceu 1,2% em relação ao 4º trimestre de 2020 (assunto que será detalhado na semana que vem). Deveríamos estar analisando o fato de que o dado positivo está assentado em um isolamento social mal feito e que o outro subproduto disto foi a subida da devastadora segunda onda da pandemia no Brasil.

Outros dados econômicos que poderíamos analisar são os recordes negativos do desemprego nos três primeiros meses de 2021: o desemprego no Brasil atingiu 14,8 milhões de pessoas; a mão de obra subutilizada passou dos 33 milhões de brasileiros; a taxa de informalidade do trabalho foi de 39,6%; a massa de rendimento do trabalho caiu 6,7% em relação ao 1º trimestre de 2020. No âmbito do orçamento do governo federal, há dados que precisam ser esclarecidos: por que o “Orçamento das Ações de Combate à COVID-19” caiu de R$ 524 bilhões (total gasto em 2020) para R$ 95 bilhões (previsto para 2021)? Por que em meio a uma grave crise econômica e sanitária, o governo federal resolveu fazer o maior superávit primário para o período de janeiro a abril desde 2012, ao “economizar” R$ 41 bilhões nos quatro primeiros meses de 2021? Outro tema que entrou no radar semana passada foi o possível apagão que o Brasil pode sofrer no segundo semestre de 2021, devido aos reservatórios de água estarem quase tão vazios quanto em 2001. Neste ano o brasileiro precisou racionar energia até em suas casas.

Como vemos, há do que se falar sobre a atividade econômica... Contudo, precisamos tratar de outro assunto: a formação de um exército paralelo que pode causar muitos transtornos em 2022.

Como regra, no Brasil, todo ano par é ano de eleição. Ano que vem teremos o pleito para presidente. Pois bem, alguém consegue imaginar Bolsonaro entregando a faixa presidencial a outro presidente em janeiro de 2023 (quando inicia um novo mandato presidencial)? Alguém consegue imaginar Bolsonaro entregando a faixa ao Lula, que segundo as pesquisas de hoje, ganharia a disputa?

Sobre essa troca de presidentes, os mais otimistas dizem que poderia se repetir aqui no Brasil o que ocorreu nos EUA, na troca de Trump por Biden: o presidente substituído não comparecer à cerimônia de posse. Porém, outro fato ocorrido por lá é mais provável de aparecer por aqui: a invasão ao Congresso. Para piorar, a versão brasileira, como toda dublagem de filme, com certeza será bem pior que a versão original.

O motivo disto é que uma parte não desprezível das pessoas que trabalham nas forças de segurança pública e militares apoiam ideologicamente o presidente Bolsonaro. Para ficar apenas em eventos ocorridos na semana passada, temos o caso do professor que foi preso por tornar público (através de um faixa no capô do seu carro) o que é uma conclusão dos brasileiros de sã consciência: Bolsonaro é genocida!

Outro evento, ainda mais simbólico da existência de milícias ideológicas dentro das polícias estaduais, foi o ataque gratuito feito por PMs de Pernambuco no final das manifestações de 29 de maio, que pediam comida no prato, vacina no braço e fora Bolsonaro! Os vídeos não deixam qualquer suspeita da intenção dos envolvidos: dar uma amostra aos “esquerdistas” do que os aguarda se ousarem enfrentar o Capitão com pedidos absurdos como estes.

Por fim, vale lembrar que Bolsonaro proibiu o Ministério da Defesa e o Comando do Exército de emitirem nota oficial sobre a participação do general Pazuello em ato político-partidário no Rio de Janeiro. Isso abre brecha para outros milicos repetirem o ato.

O ano que vem não será fácil para nossa frágil democracia. Certamente Bolsonaro colocará suas milícias nas ruas para reprimir a oposição. Para isso, usará formal e informalmente o poder estatal. Ou alguém ainda tem dúvidas? Diante disso, nos cabe a tarefa de engrossar o caldo e entorná-lo sobre ele, o mais rápido possível.


[i] Professor do Departamento de Economia da UFPB e Coordenador do PROGEB – Projeto Globalização e Crise na Economia Brasileira. (www.progeb.blogspot.com; lucasmilanez@hotmail.com). Colaboraram os pesquisadores: Ingrid Trindade, Guilherme de Paula e Daniella Alves.

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