Semana de 24 a 30 de maio de 2021
Lucas Milanez de Lima
Almeida [i]
Quem
me dera que na presente coluna só precisássemos falar de economia! Poderíamos avaliar
o que, de fato, representa termos um 1º trimestre de 2021 melhor do que as
previsões iniciais, quando o PIB cresceu 1,2% em relação ao 4º trimestre de
2020 (assunto que será detalhado na semana que vem). Deveríamos estar
analisando o fato de que o dado positivo está assentado em um isolamento social
mal feito e que o outro subproduto disto foi a subida da devastadora segunda
onda da pandemia no Brasil.
Outros
dados econômicos que poderíamos analisar são os recordes negativos do
desemprego nos três primeiros meses de 2021: o desemprego no Brasil atingiu
14,8 milhões de pessoas; a mão de obra subutilizada passou dos 33 milhões de
brasileiros; a taxa de informalidade do trabalho foi de 39,6%; a massa de
rendimento do trabalho caiu 6,7% em relação ao 1º trimestre de 2020. No âmbito
do orçamento do governo federal, há dados que precisam ser esclarecidos: por
que o “Orçamento das Ações de Combate à COVID-19” caiu de R$ 524 bilhões (total
gasto em 2020) para R$ 95 bilhões (previsto para 2021)? Por que em meio a uma
grave crise econômica e sanitária, o governo federal resolveu fazer o maior
superávit primário para o período de janeiro a abril desde 2012, ao “economizar”
R$ 41 bilhões nos quatro primeiros meses de 2021? Outro tema que entrou no
radar semana passada foi o possível apagão que o Brasil pode sofrer no segundo
semestre de 2021, devido aos reservatórios de água estarem quase tão vazios
quanto em 2001. Neste ano o brasileiro precisou racionar energia até em suas
casas.
Como
vemos, há do que se falar sobre a atividade econômica... Contudo, precisamos
tratar de outro assunto: a formação de um exército paralelo que pode causar
muitos transtornos em 2022.
Como regra,
no Brasil, todo ano par é ano de eleição. Ano que vem teremos o pleito para
presidente. Pois bem, alguém consegue imaginar Bolsonaro entregando a faixa
presidencial a outro presidente em janeiro de 2023 (quando inicia um novo
mandato presidencial)? Alguém consegue imaginar Bolsonaro entregando a faixa ao
Lula, que segundo as pesquisas de hoje, ganharia a disputa?
Sobre
essa troca de presidentes, os mais otimistas dizem que poderia se repetir aqui
no Brasil o que ocorreu nos EUA, na troca de Trump por Biden: o presidente
substituído não comparecer à cerimônia de posse. Porém, outro fato ocorrido por
lá é mais provável de aparecer por aqui: a invasão ao Congresso. Para piorar, a
versão brasileira, como toda dublagem de filme, com certeza será bem pior que a
versão original.
O
motivo disto é que uma parte não desprezível das pessoas que trabalham nas
forças de segurança pública e militares apoiam ideologicamente o presidente
Bolsonaro. Para ficar apenas em eventos ocorridos na semana passada, temos o
caso do professor que foi preso por tornar público (através de um faixa no capô
do seu carro) o que é uma conclusão dos brasileiros de sã consciência:
Bolsonaro é genocida!
Outro
evento, ainda mais simbólico da existência de milícias ideológicas dentro das
polícias estaduais, foi o ataque gratuito feito por PMs de Pernambuco no final
das manifestações de 29 de maio, que pediam comida no prato, vacina no braço e
fora Bolsonaro! Os vídeos não deixam qualquer suspeita da intenção dos
envolvidos: dar uma amostra aos “esquerdistas” do que os aguarda se ousarem
enfrentar o Capitão com pedidos absurdos como estes.
Por
fim, vale lembrar que Bolsonaro proibiu o Ministério da Defesa e o Comando do
Exército de emitirem nota oficial sobre a participação do general Pazuello em
ato político-partidário no Rio de Janeiro. Isso abre brecha para outros milicos
repetirem o ato.
O ano que vem não será fácil para nossa frágil democracia. Certamente Bolsonaro colocará suas milícias nas ruas para reprimir a oposição. Para isso, usará formal e informalmente o poder estatal. Ou alguém ainda tem dúvidas? Diante disso, nos cabe a tarefa de engrossar o caldo e entorná-lo sobre ele, o mais rápido possível.
[i] Professor
do Departamento de Economia da UFPB e Coordenador do PROGEB – Projeto
Globalização e Crise na Economia Brasileira. (www.progeb.blogspot.com; lucasmilanez@hotmail.com).
Colaboraram os pesquisadores: Ingrid Trindade, Guilherme de Paula e Daniella
Alves.
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