Semana de 07 a 13 de junho de 2021
Lucas Milanez de Lima
Almeida [i]
Em
março de 2021 publicamos aqui nesta coluna uma análise de conjuntura intitulada
“Mistério no Banco Central”. Você pode acessá-la clicando aqui. Na ocasião, apresentamos algumas
das principais lições dos Manuais de Economia sobre como o Banco Central (BC)
pode controlar a inflação através da taxa básica de juros. No Brasil, essa taxa
é a Selic. Pois bem, é hora de falar de inflação de novo, mais precisamente, da
reunião do órgão do BC que decide a taxa básica de juros brasileira. No exato
momento em que escrevo este texto, acontece, também, a reunião do Copom. A
previsão de quase todos é de que haverá um aumento de 0,75 pontos na Selic,
fazendo ela sair dos atuais 3,5% para 4,25%. Os que discordam disso acham que a
taxa sobe ainda mais...
Na análise
de março, diante do cenário ainda turbulento, levantei a hipótese de que a
subida dos juros decidida naquele mês era uma ação que buscava influenciar as
expectativas do “mercado” sobre os preços. Pouco tinha a ver com os canais que
afetam a demanda agregada: crédito, ativos ou juros. Também foi levantada a
hipótese de que aquela elevação nos juros teria pouca contribuição na redução
da taxa de câmbio, via entrada de investimento estrangeiro: os especuladores
não olham apenas os juros ao colocar dinheiro em um país. O Brasil, como o
mundo inteiro também sabe, apresenta uma instabilidade sistêmica: economia,
política, saúde, meio ambiente...
De
fato, hoje, a inflação é um dos grandes problemas econômicos e sociais do
Brasil. Apesar do PIB ter crescido mais do que o esperado (1,2% no primeiro
trimestre de 2021), não significa que aumentou a renda de todos os brasileiros.
Pelo contrário. Graças à inflação, a renda real média efetivamente recebida por
cada pessoa dos domicílios brasileiros, caiu 10% no mesmo período.
O IPCA
(Índice de Preços ao Consumidor Amplo) fechou maio com um crescimento jamais
visto em 25 anos: subiu 0,83% no mês, com destaque para Habitação (+1,78%),
Artigos de residência (+1,25%) e Transportes (+1,15%). Parece pouco, mas no
acumulado de doze meses, a inflação está em 8,06%. Um dos elementos que está
causando isto é a elevação do preço das commodities que o Brasil exporta, pois
o movimento dos preços no mercado mundial puxa os preços internos na mesma
direção. O índice de cotação das commodities brasileiras, calculado pelo BC,
mostra que houve um aumento de 48,9% nos preços nos últimos 12 meses até maio.
O preço dos produtos agrícolas cresceu 37,9%, o dos metais subiu 63,8% e o dos
combustíveis fósseis 78,9%.
Um
terceiro elemento agravante da atual situação do Brasil (e do mundo) é que
alguns setores estão enfrentando sérios problemas para adquirir insumos, como
microprocessadores, polímeros, metais e celulose. O grande motivo é a
desorganização das cadeias produtivas nacionais e globais, resultado da
pandemia de Covid-19. Naturalmente, a falta dos insumos também influencia no
aumento dos preços. E olhe que um quarto agravante se avizinha: o encarecimento
da energia por falta de chuvas...
Agora,
retornemos ao chamado “canal das expectativas” para controle da inflação.
Resumidamente, ele funciona assim: o BC consulta o “mercado”, ou seja, um
seleto grupo de instituições financeiras, sobre o que eles acham que vai
acontecer com a inflação no futuro, por exemplo. Se a expectativa é de alta dos
preços, o BC deve demonstrar força hoje e tomar medidas para conter a inflação
que o “mercado” acha que vai ter amanhã (de uma forma geral, isto significa que
a taxa de juros deve subir). Assim, o BC estaria dando um dos sinais da sua
credibilidade. Sem meias palavras: o “canal das expectativas” é um mecanismo
onde um seleto grupo de instituições financeiras influenciam o BC a elevar a
taxa básica de juros, um dos índices que servem para remunerar as próprias
instituições financeiras... Não parece uma raposa tomando conta do galinheiro?
Pois bem, se o Copom elevar novamente os juros, diante do cenário no qual os determinantes da inflação estão além da influência da autoridade monetária, revela-se o mistério da atuação do nosso BC independente: atender os interesses do “mercado”. Eu quero é novidade...
[i] Professor
do Departamento de Economia da UFPB e Coordenador do PROGEB – Projeto
Globalização e Crise na Economia Brasileira. (www.progeb.blogspot.com; lucasmilanez@hotmail.com).
Colaboraram os pesquisadores: Ingrid Trindade, Guilherme de Paula e Daniella
Alves.
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