Semana de 13 a 19 de setembro de 2021
Lucas Milanez de Lima
Almeida [i]
Como
vimos em análises passadas, as expectativas de crescimento da economia
brasileira para 2021 e 2022 estão se deteriorando semana a semana. Alguns
órgãos oficiais, inclusive, passaram o mês de setembro revisando suas
projeções. O motivo é que o momento do Brasil e do Mundo, sobretudo da China,
não estão nada tranquilos e muito menos favoráveis. Vejamos.
Segundo
o Boletim Focus do Banco Central, que reúne as projeções de diversas
instituições do “mercado”, agosto passado foi o mês de 2021 mais otimista quanto
às expectativas de crescimento do PIB brasileiro este ano. Naquele momento
esperava-se um crescimento de 5,3%. Porém, ao longo de setembro o “mercado” foi
revendo suas projeções e, hoje, já está em 5% de elevação no PIB (mas estamos
bem melhor do que as expectativas do início do ano, que esperavam aumento de
3,5%). Outra variável que também teve suas expetativas pioradas foi a conta de
transações correntes, que registra, sobretudo, as transações de bens, serviços
e rendas entre o Brasil e o resto do mundo. De uma projeção de equilíbrio,
agora espera-se que o saldo das transações correntes feche 2021 no vermelho, em
US$ -2,0 bilhões. Por sua vez, as projeções do saldo de investimento
estrangeiro direto vêm se reduzindo paulatinamente desde junho, reduzindo-se em
cerca US$ 10 bilhões até o presente mês de setembro.
De uma
forma geral, analisar projeções é arriscado, pois elas podem não se
concretizar. Contudo, faltam pouco mais de três meses para o fim do ano. Isto
significa que quase tudo que tinha para acontecer na economia já aconteceu. Por
isso mesmo as projeções vão sendo refeitas e se aproximando da realidade. E
isso é que é interessante de se observar: o processo de ajuste do que se
esperava no passado quanto ao que iria ocorrer no futuro. De uma maneira geral,
as expectativas iniciais mostram o “clima” àquela época e, de certa forma, qual
a disposição dos tomadores de decisão em investir, produzir, comprar, vender...
Se as coisas seguem como o esperado (o que é pouco provável e raramente
acontece), expectativa e realidade coincidem e as projeções foram corretas.
Caso contrário, as projeções são refeitas e adaptadas, como dito acima.
O
ponto de partida é a criação de cenários-base, que trazem as principais
expectativas: as reformas que provavelmente serão feitas, como o governo
pretende realizar seus gastos e obter suas receitas, como anda o cenário
externo... A partir daí estima-se qual deve ser o comportamento da economia. O
problema é que são muitos os fatores que podem “atrapalhar” os cálculos daqueles
que tentam prever o futuro com alguma exatidão. Atualmente, a pandemia ainda é
a grande vilã. Afinal, como se organizar cadeias produtivas (globais ou mesmo
nacionais) no meio de um abre e fecha causado pelas variantes da Covid-19? Por
sua vez, claro, nunca foi segredo que o presidente Jair Bolsonaro e sua equipe
econômica sempre deram sua (enorme) contribuição para a desestabilização da
economia brasileira.
O mais
esperado nos primeiros meses de 2021 era o desenrolar da vacinação. O início
foi lento, mas depois acelerou e parecia que conseguiríamos vacinar num ritmo
forte. Ledo engano. Como tem mostrado a CPI da Pandemia no Senado, muitos eram
os fatores obscuros que atuavam para travar o processo. Tanto que atualmente a
vacinação anda de lado em muitas cidades. Outro fator que decepcionou os
analistas foi a bagunça orçamentária, em especial as tentativas de pagar o novo
Bolsa Família e de não pagar os precatórios. Sem falar nas Medidas Provisórias
que caducaram no Congresso Nacional.
A cereja no bolo foi o acirramento da tensão institucional ao longo do ano, tema tratado há duas semanas nessa mesma coluna. De toda forma, no fundo, os ataques à democracia serviram também para desestabilizar o clima de bonança que se instalou no meio do ano. Por esse e pelo cenário internacional, eu não projetaria uma melhora significativa até o final do ano. Em outras palavras, veremos a realidade impor-se sobre as projeções ainda otimistas para o país.
[i] Professor
do Departamento de Economia da UFPB e Coordenador do PROGEB – Projeto
Globalização e Crise na Economia Brasileira. (www.progeb.blogspot.com; lucasmilanez@hotmail.com).
Colaboraram os pesquisadores: Ingrid Trindade, Guilherme de Paula e Daniella
Alves.
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