quinta-feira, 16 de setembro de 2021

Dia da baderna: a montanha pariu um rato

Semana de 06 a 12 de setembro de 2021

 

Nelson Rosas Ribeiro[i]

           

Passou o 7 de setembro da baderna. Apesar de todos os gastos da quadrilha e apoiadores e de todas as ameaças, bravatas e conclamações tudo correu na normalidade possível. Algumas violências, tentativas de invadir a praça dos três poderes em Brasília, bloqueio de algumas estradas, choros e ranger de dentes, mas o golpe não ocorreu. Foi patético o delírio de um caminhoneiro chorando de emoção porque o presidente havia decretado estado de sítio, fake recebido em seu grupo de WhatsApp.

Houve uma considerável mobilização no Rio, São Paulo e Brasília, uma tentativa de invasão do STF, contida pela polícia e acabou. As PMs não se sublevaram, a GLO não resultou, os caminhoneiros não bloquearam o país. Voltaram todos para casa, alguns renitentes outros chorosos e desiludidos. Ficaram os discursos do Bolsonaro carregados de ataques feitos às instituições e ministros e as declarações de que não mais reconheceria as decisões do Ministro Alexandre de Morais do STF, a quem chama de canalha.

No “day after” veio a rebordosa. O ministro Fux, presidente do STF bateu pesado: Bolsonaro incorreu em crime de responsabilidade. Luís Barroso presidente do TSE também foi duro. Pacheco, presidente do Senado criticou levemente os ataques feitos e o Arthur Lira, presidente da Câmara, apesar de condenar os excessos, contemporizou. O Procurador Geral da República (PGR) Augusto Aras achou tudo normal.

O presidente pisou feio na bola com seus ataques e provocações. Surgiram muitas condenações entre empresários, partidos e organizações e aumentou a vulnerabilidade de Bolsonaro ao impeachment diante das manifestações de parlamentares de diferentes tendências. Aí entrou em cena a turma de bombeiros. O ex-presidente Michel Temer foi chamado às pressas, e veio de jatinho de São Paulo, a convite do presidente. Reuniu-se uma força tarefa com Ciro Nogueira (casa civil), Flávia Arruda (secretaria do governo) Arthur Lira (presidente da Câmara) Osvaldo Pacheco (presidente do Senado), Gilmar Mendes e Dias Toffoli do STF. Temer apresentou uma carta que foi discutida com Bolsonaro e assinada por ele: “Declaração à Nação”.  Nela, tudo que foi dito nos discursos foi anulado e a culpa foi lançada nos arroubos do momento. O presidente afirmou que “nunca tive a intenção de agredir quaisquer dos poderes”. Na presença dos demais, com intermediação de Temer, falou por telefone com Alexandre de Morais tecendo elogios e retirando o que disse.

 A paz foi restabelecida: Alexandre de Moraes fica, o STF continua intacto e respeitado, o TSE continua com a urna eletrônica, o voto impresso é esquecido, o presidente respeitará as outras instituições e o impeachment é mantido na gaveta. Bolsonaro gravou um áudio ordenando que os caminhoneiros liberassem as estradas, reforçado por vídeo de outros ministros no mesmo sentido. Acabou o golpe.

Mas, com todo este barulho como fica a economia? Já falamos anteriormente que no caso atual, a análise de conjuntura torna-se muito difícil por ter de considerar fatores não econômicos, mas que interferem na economia. Citamos o coronavirus e o governo Bolsonaro. Com a vacinação, o coronavirus está sendo lentamente controlado e as restrições estão pouco a pouco sendo levantadas. O resultado já está sendo sentido na recuperação dos serviços, do turismo e do comércio com algum reflexo no emprego. A falta de vacina e a teimosia de alguns fanáticos criam alguma dificuldade. Trágica surpresa. O “doidão” ataca com todas suas forças. As consequências do “golpe” foram imediatas: Bolsa cai, dólar sobe, preços disparam, investimentos fogem, os mercados desabam, os empresários se decepcionam, as reformas param.  A situação já se vinha deteriorando com a desaceleração da produção. O PIB no segundo trimestre decresceu -0,1% e para ao terceiro o Ibre/FGV prevê nova queda de -0,1%. A produção industrial caiu -1,3% em julho e -0,2% no segundo trimestre. O rendimento médio caiu -3% e o rendimento real -0,6%. As instituições financeiras já estimam entre 0,5% e 1% o PIB para 2022. Se juntamos a isto a inflação disparando e a crise hídrica temos um quadro assustador para a “pátria amada Brasil”. Eis o resultado da política econômica do sinistro da economia Paulo Guedes!


[i] Professor Emérito da UFPB e Vice-Coordenador do Progeb – Projeto Globalização e Crise na Economia Brasileira; nelsonrr39@hotmail.com; (www.progeb.blogspot.com). Colaboraram os pesquisadores: Ingrid Trindade, Guilherme de Paula e Daniella Alves.

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