Semana de 20 a 26 de setembro de 2021
Nelson Rosas Ribeiro[i]
Parece que o presidente não se cansa de
causar vergonha. Sempre nos surpreende por mais trágico que seja o quadro
traçado. Desta vez a vergonha foi internacional, para todo o mundo ver. Mas,
com sua limitada cabeça, o capitão só via em sua frente o gado que o venera. Os
cerca de 20% que ele espera fidelizar para conseguir chegar ao segundo turno
das eleições do próximo ano. Foi para este público que ele falou expondo o país
a um ridículo global. Sem vacina, fato publicamente declarado, teve seus
movimentos tolhidos, obrigado a atos prosaicos como comer pizza em pé, em plena
rua. E para completar despediu-se com 4 membros de sua delegação contaminados
com o covid-19 entre os quais o próprio ministro da saúde, obrigado a ficar em
quarentena forçada, famoso por ter sido filmado fazendo gestos obscenos para um
grupo de pessoas que o estava vaiando. Foi um espetáculo completo. Isso sem
falar no discurso com mentiras, dados falsos e declarações vergonhosas. Que
desastre!
Este foi o grande acontecimento da semana.
Internacionalmente, a cena foi ocupada pela
China. O problema da crise energética que nos atinge também se espalha pela
Europa e pelo mundo. A China não está escapando. Com sua matriz energética
fortemente dependente do carvão (70%), encontra-se em sérias dificuldades. A
queda da oferta e o aumento da demanda elevou os preços a níveis muito altos e
o produto não está disponível no mercado no volume necessário. Não só a
produção doméstica foi reduzida, como resultado da pandemia e da nova política
ambiental do país, como a oferta mundial caiu com a redução da produção na
Austrália e Indonésia por razões climáticas. A crise energética chinesa poderá
ter sérias consequências para a economia mundial e em particular para os
emergentes e o Brasil.
Mas, por outro motivo a China ocupou as
manchetes. O gigante do setor imobiliário chinês e segunda maior do país, a
Evergrande Real Estate informou as dificuldades de saudar seus compromissos com
os credores. De imediato isto significa US$125 bilhões, mas o débito total atinge
US$300 bilhões. Em caixa a empresa apenas declarou dispor de US$15 bilhões. O
pânico espalhou-se por todo o mundo e as bolsas de valores despencaram
acompanhando a rotação do planeta. Claro que a nossa Bovespa também despencou.
Intensificou-se o debate e a preocupação com o fantasma da crise do Leman
Brothers nos EUA que arrastou tudo. Os analistas, porém, acreditam que o efeito
não trará as mesmas consequências pelo poder que tem o estado chinês em
intervir e controlar o estouro. Espera-se que Pequim aproveitará a situação
para dar uma lição aos especuladores imobiliários do país que estavam
desagradando o presidente. No entanto, o quadro é agravado pela crise
energética, pelas dificuldades em controlar a pandemia, e pela desorganização
das cadeias produtivas globais e do comércio mundial.
A situação tem preocupado várias
organizações internacionais como a Organização para a Cooperação e o
Desenvolvimento (OCDE). Laurence Boone, economista chefe desta organização
alertou para a desaceleração da recuperação mundial, a situação da China e o
surgimento da inflação. Destacou ainda a elevação dos preços dos transportes,
das commodities que se propagam pelos custos de produção. Alertou para a
moderação na adoção de políticas de restrição monetária para o combate à
inflação. Em relação ao Brasil a OCDE considera que o motor da recuperação será
o setor externo e mostrou preocupação com a política de contenção da inflação
feita pelo BC elevando as taxas da Selic de 5,25% para 6,25% e declarando que
fará nova elevação de 1% na próxima reunião.
E enquanto a FGV Agro afirma que a produção
agroindustrial voltou a cair em julho, e o Ipea prevê que a produção
agropecuária crescerá apenas 1,2% no ano, uma pesquisa do Ipec apontou que a
rejeição ao governo Bolsonaro chega a 53%, a desaprovação é de 68% e 69% não
confiam no governo. 53% consideram ruim ou péssimo e apenas 22% bom ou ótimo.
Se as eleições fossem agora Lula ganharia no primeiro turno.
Com a economia em dificuldades, sem golpe e com esta rejeição ... está mal.
[i] Professor
Emérito da UFPB e Vice-Coordenador do Progeb – Projeto Globalização e Crise na
Economia Brasileira; nelsonrr39@hotmail.com; (www.progeb.blogspot.com). Colaboraram
os pesquisadores: Ingrid Trindade, Guilherme de Paula e Daniella Alves.
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