quinta-feira, 30 de setembro de 2021

Vergonha na Assembleia Geral da ONU

Semana de 20 a 26 de setembro de 2021

 

Nelson Rosas Ribeiro[i]

           

Parece que o presidente não se cansa de causar vergonha. Sempre nos surpreende por mais trágico que seja o quadro traçado. Desta vez a vergonha foi internacional, para todo o mundo ver. Mas, com sua limitada cabeça, o capitão só via em sua frente o gado que o venera. Os cerca de 20% que ele espera fidelizar para conseguir chegar ao segundo turno das eleições do próximo ano. Foi para este público que ele falou expondo o país a um ridículo global. Sem vacina, fato publicamente declarado, teve seus movimentos tolhidos, obrigado a atos prosaicos como comer pizza em pé, em plena rua. E para completar despediu-se com 4 membros de sua delegação contaminados com o covid-19 entre os quais o próprio ministro da saúde, obrigado a ficar em quarentena forçada, famoso por ter sido filmado fazendo gestos obscenos para um grupo de pessoas que o estava vaiando. Foi um espetáculo completo. Isso sem falar no discurso com mentiras, dados falsos e declarações vergonhosas. Que desastre!

Este foi o grande acontecimento da semana.

Internacionalmente, a cena foi ocupada pela China. O problema da crise energética que nos atinge também se espalha pela Europa e pelo mundo. A China não está escapando. Com sua matriz energética fortemente dependente do carvão (70%), encontra-se em sérias dificuldades. A queda da oferta e o aumento da demanda elevou os preços a níveis muito altos e o produto não está disponível no mercado no volume necessário. Não só a produção doméstica foi reduzida, como resultado da pandemia e da nova política ambiental do país, como a oferta mundial caiu com a redução da produção na Austrália e Indonésia por razões climáticas. A crise energética chinesa poderá ter sérias consequências para a economia mundial e em particular para os emergentes e o Brasil.

Mas, por outro motivo a China ocupou as manchetes. O gigante do setor imobiliário chinês e segunda maior do país, a Evergrande Real Estate informou as dificuldades de saudar seus compromissos com os credores. De imediato isto significa US$125 bilhões, mas o débito total atinge US$300 bilhões. Em caixa a empresa apenas declarou dispor de US$15 bilhões. O pânico espalhou-se por todo o mundo e as bolsas de valores despencaram acompanhando a rotação do planeta. Claro que a nossa Bovespa também despencou. Intensificou-se o debate e a preocupação com o fantasma da crise do Leman Brothers nos EUA que arrastou tudo. Os analistas, porém, acreditam que o efeito não trará as mesmas consequências pelo poder que tem o estado chinês em intervir e controlar o estouro. Espera-se que Pequim aproveitará a situação para dar uma lição aos especuladores imobiliários do país que estavam desagradando o presidente. No entanto, o quadro é agravado pela crise energética, pelas dificuldades em controlar a pandemia, e pela desorganização das cadeias produtivas globais e do comércio mundial.

A situação tem preocupado várias organizações internacionais como a Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento (OCDE). Laurence Boone, economista chefe desta organização alertou para a desaceleração da recuperação mundial, a situação da China e o surgimento da inflação. Destacou ainda a elevação dos preços dos transportes, das commodities que se propagam pelos custos de produção. Alertou para a moderação na adoção de políticas de restrição monetária para o combate à inflação. Em relação ao Brasil a OCDE considera que o motor da recuperação será o setor externo e mostrou preocupação com a política de contenção da inflação feita pelo BC elevando as taxas da Selic de 5,25% para 6,25% e declarando que fará nova elevação de 1% na próxima reunião.

E enquanto a FGV Agro afirma que a produção agroindustrial voltou a cair em julho, e o Ipea prevê que a produção agropecuária crescerá apenas 1,2% no ano, uma pesquisa do Ipec apontou que a rejeição ao governo Bolsonaro chega a 53%, a desaprovação é de 68% e 69% não confiam no governo. 53% consideram ruim ou péssimo e apenas 22% bom ou ótimo. Se as eleições fossem agora Lula ganharia no primeiro turno.

Com a economia em dificuldades, sem golpe e com esta rejeição ... está mal.


[i] Professor Emérito da UFPB e Vice-Coordenador do Progeb – Projeto Globalização e Crise na Economia Brasileira; nelsonrr39@hotmail.com; (www.progeb.blogspot.com). Colaboraram os pesquisadores: Ingrid Trindade, Guilherme de Paula e Daniella Alves.

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