Semana de 30 de agosto a 05 de setembro de 2021
Lucas Milanez de Lima
Almeida [i]
Não
foi hoje que Jair Bolsonaro iniciou sua escalada contra as instituições que
conformam o Estado brasileiro. É fato claro e notório, para os não ruminantes,
que o atual presidente sempre foi um inimigo das instituições democráticas e de
tudo que não se encaixasse na sua engalanada cabeça. Ao longo do seu mandato no Executivo,
piorou seu discurso e passou a ouriçar ainda mais o gado, que se preocupa mais
em “derrubar a Globo-lixo” do que pagar R$ 7,00 na gasolina.
E é
bem isso mesmo. Os aboiados para as manifestações antidemocráticas estão mais
preocupados com as genitálias alheias do que com o preço da carne. A
anticorrupção não pode mais ser reivindicada por eles. Já circulam na internet
as imagens do patriota Queiroz, devidamente fardado com sua camisa da CBF,
sendo tietado por manifestantes em Copacabana. E por falar nisso, quem diria
que a Família Bolsonaro pudesse misturar elementos das estórias de Don
Corleone, do Poderoso Chefão, com as de Tufão, de Avenida Brasil... Nesse
imbróglio familiar, o que interessa do enredo é que o dinheiro público parece
estar sendo desviado para o clã aos montes, antes pela esposa, depois pelo
amigo de longa data.
Como
vemos a toda hora, quanto mais corre o tempo de mandato de Bolsonaro, mais ele
provoca instabilidade no sistema político brasileiro. Dessa forma, ele atrai a
atenção de todos para o que ele quiser. As razões para isso são muitas, mas não
são excludentes. A primeira é que, como foi dito acima, ele é um antidemocrata
por excelência. Já disse que uns 30 mil deveriam ter morrido na ditadura, meta
que ele está perto de decuplicar pela segunda vez através da Pandemia de
Covid-19. A segunda é que, junto com sua ascensão para a elite política,
emergiram também os seus casos mais mesquinhos de apropriação indevida de
salários dos seus assessores. Terceiro, mas não menos importante, Bolsonaro não
entregou (e nem vai entregar) aquilo que prometeu à burguesia na campanha de
2018: uma recuperação econômica onde os ganhos seriam tão elevados que ficaria
para trás a saudade dos anos 2006-2010 (“E o PT? E o Lula?”).
E por
falar nisso, a recuperação econômica está cada vez mais “chocha, capenga,
manca, anêmica, frágil e inconsistente”. Apesar de ter sido dita em outro
contexto, a frase define bem os dados da atividade econômica do segundo
trimestre de 2021. No total, o PIB brasileiro recuou 0,1% em relação ao 1º
trimestre do ano. Pelo lado da produção, os piores resultados vieram do Agropop
(-2,8%) e da Indústria (-0,2%). Já os Serviços cresceram mísero 0,7%,
estagnação que mantém a atividade abaixo do período pré-Pandemia. Pelo lado da
demanda, o Consumo das Famílias não cresceu nem decresceu na comparação entre o
1º e o 2º trimestre de 2021 (também não se recuperou do tombo dado pela
Pandemia). Outro que segue estagnado em um patamar baixo é o Consumo do
Governo, que cresceu apenas 0,7% no 2º trimestre. Caíram também os
Investimentos (-3,6%). A situação só não foi mais trágica porque as Importações
ficaram quase estagnadas (-0,6%) e as Exportações, puxadas pela soja, cresceram
9,4%.
A
lista de agravantes da situação econômica atual é extensa: inflação em alta,
juros em alta, desemprego ainda muito alto, custos dos insumos em alta, tarifa
da energia em alta, disseminação da variante delta em alta, credibilidade da
equipe econômica em baixa, ufa... Não à toa que as instituições que fazem
previsão do PIB estão reajustando para baixo suas estimativas: saiu de 5,22% para
5,15%. É pouco, mas mais do que um número em si, isto sinaliza que a situação
atual está se deteriorando. Inclusive, esse resultado “contamina” as previsões
de crescimento do PIB para 2022, que já foi de 2,5% e hoje é de 1,9%.
Lembram-se quando ficávamos nos perguntado se o que Bolsonaro fazia no começo do mandato era cortina de fumaça? Pois bem, é e não é. O caos é intencional, mas também é resultado involuntário da sua incompetente gestão.
[i] Professor
do Departamento de Economia da UFPB e Coordenador do PROGEB – Projeto
Globalização e Crise na Economia Brasileira. (www.progeb.blogspot.com; lucasmilanez@hotmail.com).
Colaboraram os pesquisadores: Ingrid Trindade, Guilherme de Paula e Daniella
Alves.
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