Semana de 04 a 10 de outubro de 2021
Nelson Rosas Ribeiro[i]
O presidente anda calado. Como um vira lata
sarnento ronda as latas de lixo e os esgotos a procura da próxima podridão para
saciar sua fome de destruição. É só o que ele sabe fazer liderando o seu bando
de fanáticos. Como ele mesmo declarou “sou especialista em matar”. Mas não só
matar pessoas. Matar a natureza, a economia, a cultura, a saúde, a educação, as
florestas, o meio ambiente, tudo enfim. Até os símbolos nacionais foram
profanados. Hoje, com patriotismo, lembramos a atualidade das palavras de
Castro Alves ao referir-se à bandeira nacional: “Antes te houvessem roto na
batalha, que servires a um povo de mortalha...”. Que fatores teriam concorrido
para colocar no governo tal monstro? A humanidade já conheceu situações
semelhantes que levaram ratos medíocres como Hitler e Mussolini ao poder. E
todos conhecemos as consequências. A situação atual exige muito estudo e
reflexão. Onde erramos e como corrigir os erros? Certamente há fatores
internos, externos e tecnológicos cuja discussão ultrapassa os limites desta
coluna.
Mas o que terá levado o cão hidrófobo a
deixar de ladrar?
Destaco aqui dois tipos de fatores. Ele
precisa ser reeleito sob pena de ir para a prisão junto com a família. É
desesperador. As pesquisas mostram que toda vez que ele abre a boca aumenta a
rejeição e a avaliação negativa. Já ultrapassam os 60%. Seus assessores
lembraram o efeito “facada” que lhe deu a vitória, pelo silêncio, nas eleições
passadas. O homem tem de ficar calado ou corre o risco de não ir para o segundo
turno. Será que aguenta? Ou vão inventar nova facada? Há uma outra razão ligada
a esta. Ele descobriu que mesmo sendo “comandante em chefe” das forças armadas
nada comanda se não der ordens razoáveis. É de lembrar a figura do reizinho do
“Pequeno Príncipe” que nunca era desobedecido porque só dava ordens razoáveis.
Ele não pode dar um golpe pois não será obedecido pelos militares. Terrível
descoberta. Resta um caminho: a reeleição.
Mas, a cada dia que passa torna-se mais
difícil. A economia caminha para o desastre. A tão propalada recuperação em V
(de voo da galinha) do sinistro Guedes vira K ou boca de jacaré: rico para cima
e pobre para baixo. Até o próprio Guedes não confia na sua gestão. Guarda seus
milhões de dólares em uma offshore. O crédito está mais caro comandado pelo
Banco Central (BC) que continua a elevar a taxa de referência Selic, atualmente
em 6,25%, mas com tendência de subir o que for necessário para “conter” a
inflação, podendo chegar a 10% no fim do ano. Tudo de acordo com a ideologia do
BC. A taxa de desemprego, apesar de uma pequena queda, se mantém em dois
dígitos 13,7%, mas, há 14,1 milhões sem trabalho, dos postos criados 66,8% são
de emprego informal, há 7,73 milhões de pessoas trabalhando menos horas e
25,172 milhões de trabalhadores por conta própria. As estimativas de
crescimento do PIB são rebaixadas por todas as consultorias, e segundo o Banco
Mundial será inferior à média da América Latina. O varejo restrito teve, em
agosto, em relação a julho, a terceira maior queda da história (3,1%) e o
varejo ampliado caiu 2,5%. É preciso juntar a isto a crise energética e a
inflação que se mantém em alta, sem controle.
Do exterior não temos boas notícias. A
recuperação em marcha mostra fortes sinais de desaceleração agravados pelo
crescimento da inflação e pela crise energética que agora se expande para os
Estados Unidos, Índia e China. Em todos os casos o problema é a falta de
combustíveis fósseis, principalmente carvão e gás natural. Na Índia o carvão é
responsável por 70% da energia produzida. O petróleo atinge os US$80, a maior
cotação em 3 anos e o gás tem o mais alto preço em 7 anos. Os portos estão
congestionados, as cadeias de abastecimento rompidas, há escassez de mão de
obra, e a inflação se expande para os alimentos. O índice de preços de
alimentos da FAO subiu 1,2% em setembro.
Somando-se a desmoralização do Brasil em
todos os fóruns internacionais o ambiente externo tanto para a reeleição como
para o golpe está muito adverso.
Pobre presidente! É mesmo muito difícil governar!
[i] Professor
Emérito da UFPB e Vice-Coordenador do Progeb – Projeto Globalização e Crise na
Economia Brasileira; nelsonrr39@hotmail.com; (www.progeb.blogspot.com). Colaboraram
os pesquisadores: Ingrid Trindade, Guilherme de Paula e Daniella Alves.
0 comentários:
Postar um comentário