Semana de 18 a 24 de outubro de 2021
Nelson Rosas Ribeiro[i]
Depois da lição do Professor Lucas na
Análise da semana passada voltemos aos problemas da conjuntura. É sempre bom
lembrar características essenciais do sistema capitalista pois isto nos permite
derrubar algumas pseudoverdades que costumam encher os jornais e TVs, como a
conversa do “desenvolvimento sustentável”, meta absurda e impossível de ser
atingida no capitalismo. Na busca do maior lucro possível o capital procura
sempre reproduzir suas relações de produção, ou seja, os trabalhadores
assalariados têm que se reproduzir para que o sistema exista, mas não podem
ganhar salários tão elevados que os permita ultrapassar sua condição de
assalariados eternos. Esta conversa de “empreendedorismo” é completamente
furada, é vender ilusões.
Para falar de conjuntura esta semana,
recomendamos a leitura da nossa Análise de 15 dias atrás. Tudo que lá está
escrito é completamente atual, com alguns agravantes. O desespero da quadrilha
Bolsonaro tornou-se ainda maior com a divulgação do relatório da CPI do Senado
sobre a covid-19. São escândalos e horrores o que ali está revelado. O pior é
que, se os processos forem abertos e julgados, o Bolsonaro poderá pegar no
mínimo 78 anos de prisão. A família está em pânico e o chefe tentará de tudo para
não perder o mandato. Mas, a saída via golpe se tornou pouco provável, pois
parece que as Forças Armadas criaram vergonha na cara por apoiar um aspirante a
capitão já expulso do exército. Só mesmo as crias da ditadura militar, como o
general Heleno, poderiam concordar com isto e acobertar toda a corrupção que
envolve o governo. Resta, portanto, a reeleição e para isto é preciso recuperar
a economia para ganhar os eleitores.
O relatório da CPI revelou, porém, o
escândalo. São 70 indiciados entre os quais, além do próprio presidente, estão
seus 3 filhos, 4 ministros, 2 ex-ministros, 6 deputados, 3 assessores do
presidente, 1 pastor e 4 empresários. Entre os deputados estão os da tropa de
choque: Ricardo Barros, porta-voz do governo na câmara, Eduardo Bolsonaro, Bia
Kicis, Carla Zambelli, Osmar Terra, Carlos Jody. Os empresários apontados são
Luciano Hang, Carlos Wizard, Mauro Tolentino e Otávio Fakhoury.
Esperamos agora os desdobramentos e as
pressões sobre as autoridades que têm a obrigação de dar continuidade ao
processo.
Todo este tumulto provoca fortes
instabilidades nas decisões dos agentes econômicos. A imagem do Brasil no
exterior está mais suja que pau de galinheiro. Não satisfeito, o presidente
abriu a boca para vomitar mais absurdos tentando associar a vacina contra a
covid com a AIDS. Mais ruido! O desespero de Bolsonaro para ganhar as eleições
levou aos desatinos mais recentes. As propostas de aumento das despesas furando
o teto dos gastos, com o Auxílio Brasil de R$400 (com 100 fora do teto), mais o
auxílio diesel, mais orçamento secreto para comprar deputados. O próprio Guedes
passou a defender o abandono dos limites do teto de gastos, já abalado com o
calote dos precatórios pregado na PEC em tramitação.
Claro que o “mercado” reagiu de imediato. O
dólar disparou subindo 1,6% para R$5,644 e o Ibovespa caiu 3,28% em um só dia.
A própria “equipe dos pesadelos” desmoronou com a demissão de 4 secretários:
Bruno Funchal (Tesouro e Orçamento), Jeferson Bittencourt (Tesouro), Gildenora
Dantas (adjunta do Tesouro e Orçamento) e Rafael Araújo (adjunto do Tesouro).
Mas o rombo no orçamento ainda não está coberto. Foi preciso ainda alterar a
forma do cálculo do teto de gastos: em vez de julho a julho passou a ser usado
o indicador de dezembro a dezembro por refletir uma taxa de inflação maior.
Descrédito total do Guedes e do governo
junto ao mercado. Guedes está pendurado na brocha. O posto Ipiranga só não se
demite porque está ganhando muito dinheiro. É a raposa tomando conta do
galinheiro. Seus milhões de dólares de sua off Shore crescem a cada dia graças
a suas ministeriais decisões para não falar das comissões e propinas que
eventualmente possam cair no cofre.
Enquanto isso a economia afunda e a
inflação dispara. Como diria o jornalista “Em se tratando do atual governo, o
que está ruim pode sempre piorar”. E vai!
[i] Professor Emérito da UFPB e Vice Coordenador do Progeb – Projeto Globalização e Crise na Economia Brasileira; nelsonrr39@hotmail.com; (www.progeb.blogspot.com). Colaboraram os pesquisadores: Ana Isadora, Alan Henrique, Carolina Nantua, Daniella Alves, Eduardo Silva, Guilherme de Paula, Mariana Tavares, Maria Cecília, Nertan Alves, João Carlos e Roberto Costa.
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