quinta-feira, 17 de março de 2022

A histeria da guerra e a crise econômica

Semana de 07 a 13 de março 2022

 

Nelson Rosas Ribeiro[i]

           

Na semana passada, mostramos nesta coluna os resultados da economia em 2021. Apesar do crescimento de 4,5% do PIB não há muito o que comemorar. Em relação a 2019 o crescimento foi de 0,5%, ou seja, em dois anos crescemos 0,5%. As perspectivas para 2022 já eram más e a guerra Rússia-Ucrânia piorou muito o cenário

As nossas previsões, feitas em análise anterior, confirmam-se a cada dia. A União Europeia, obediente aos comandos dos EUA, reagiu unida juntamente com a OTAN. Os russos perderam a batalha diplomática. Ninguém discute os antecedentes do conflito, as provocações da OTAN com sua expansão para o oriente e o papel grotesco do comediante promovido a presidente da Ucrânia, a serviço dos americanos. Se dependesse dele, a OTAN deveria ocupar o país e enfrentar o inimigo mesmo com armas atômicas. Que venha o apocalipse agora! Ninguém se preocupa em buscar uma saída para terminar o conflito, mas em derrotar os russos, o que não parece muito viável. Durante a semana assisti várias conferências de professores e especialistas americanos que apontam o seu próprio país como o grande culpado pela deflagração do conflito. Era uma guerra anunciada. Perdida a batalha diplomática a grande mídia encarrega-se do resto. O bandido agressor está identificado, é o mau da fita deve ser apedrejado e exterminado. Enquanto isto não ocorre, quem paga o preço é uma parte do povo ucraniano

Curiosa guerra esta. As notícias falam na contratação de mercenários, na criação de batalhões fascistas internacionais (o batalhão Azov, por exemplo), ou seja, internacionaliza-se a guerra. Ao mesmo tempo o governo ucraniano impede a saída dos homens entre 18 e 60 anos para obrigá-los a lutar. Enquanto os ucranianos são empurrados para a morte o presidente se exibe em discursos patrióticos para os parlamentares do mundo ocidental que, do conforto de suas poltronas e dentro de seus ternos bem talhados, o aplaudem de pé estimulando-o a prosseguir na sua ação criminosa. Não se vê nenhuma proposta que aponte uma saída honrosa e viável para o fim do conflito. A única esperança concentra-se nas reuniões de negociação entre os dois contendores.

O resto do mundo contempla a irresponsabilidade da OTAN, dos EUA e da Rússia enquanto sofre as consequências das sanções econômicas impostas ilegalmente aos russos e a todos pois são unilaterais e não foram discutidas nem aprovadas nas Nações Unidas.

As consequências para a economia mundial são mais que previsíveis. A Rússia é um dos maiores fornecedores de petróleo e de gás do mundo além de trigo e outras commodities agrícolas e minerais. Não é por outra razão que se observa a elevação dos preços destes produtos no mercado mundial. A Rússia também foi banida do sistema financeiro juntamente com os bancos russos. Foram excluídos do sistema SWIFT de compensação restando-lhe trabalhar dentro do sistema por ela criado o SPFS e do sistema chinês CBIBPS. Com isto terá grandes dificuldades de fazer compensações financeiras e dispor de suas reservas internacionais. Por este lado o comércio internacional também será prejudicado. O FMI já alertou para o impacto severo sobre a economia mundial. Os EUA ampliam sua ação pressionando as empresas privadas a suspenderem seus negócios com a Rússia. 200 empresas já se retiraram do país e arcarão com seus prejuízos. Algumas empresas americanas serão prejudicadas, mas o maior sacrifício será pedido as empresas da União Europeia que serão as maiores perdedoras. O curioso, e complicador da análise, é que esta guerra é uma guerra intercapitalista. Diferentemente da segunda guerra mundial, que foi entre dois sistemas opostos, esta é uma guerra entre países capitalistas rivais. Há fatores envolvidos que exigem reflexões mais profundas. Com exceção dos fabricantes de armas todos os demais ramos já estão tendo prejuízos. No caso do Brasil o caos já está sendo instalado. O BC não sabe o que fazer para conter a inflação a não ser elevar ainda mais os juros, o que deve ter feito nesta quarta-feira. A crise expande-se e as previsões para o crescimento do PIB estão sendo rebaixadas e para a inflação, elevadas. Os preços dos combustíveis explodem e tudo está ocorrendo em ano de eleição, quando a aprovação do presidente vai ladeira abaixo. Difíceis tempos para o Bozo.


[i] Professor Emérito da UFPB e Vice Coordenador do Progeb – Projeto Globalização e Crise na Economia Brasileira; nelsonrr39@hotmail.com; (www.progeb.blogspot.com). Colaboraram os pesquisadores: Guilherme de Paula, Mariana Tavares, Roberto Lucas e Alan Henriques Gomes.

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