Semana de 21 a 27 de fevereiro 2022
Nelson Rosas Ribeiro[i]
Temos falado nesta coluna que nossas
análises se baseiam em teorias científicas que nos permitem traçar linhas de
evolução futura para a economia. Para isto acompanhamos os dados estatísticos
que as entidades oficiais publicam. Geralmente tomamos como base os
acontecimentos da semana imediatamente anterior. Também falamos aqui sobre a
política econômica que pode interferir nos movimentos da economia acelerando-os
ou retardando sua ação, mas nunca conseguindo abolir as leis que os regem. Além
disso alertamos para outros fatores externos à economia que igualmente poderiam
ter influência no andamento dos fenômenos econômicos. Durante várias análises
discutimos um destes elementos que estava causando grandes alterações no
comportamento da economia mundial e local: o coronavírus. Este elemento da
natureza provocou profundas perturbações desorganizando as cadeias produtivas,
o comércio mundial, os diferentes mercados, a agricultura, os serviços, a
atividade extrativa, a indústria etc.
À duras penas, graças ao avanço da
ciência que conseguiu produzir em tempo recorde e implementar uma vacinação em
massa das populações, conseguimos um certo controle sobre a pandemia e aos
poucos a economia mundial vinha retomando o seu caminho natural que era a
recuperação, depois de tanta destruição.
Mas a vida nos reserva muitas
surpresas. Desta vez é a política que vem atropelar a economia: a invasão da
Ucrânia pelas tropas da Rússia. Nestas circunstâncias torna-se muito difícil
fazer análise de conjuntura pois a guerra não está prevista em nenhum manual de
economia ou é objeto de tratamento de nenhuma teoria econômica. Estamos mesmo
vivendo um período excepcional altamente perturbado. A guerra que mal começou
já apresenta seus efeitos e certamente eles serão catastróficos. No momento o
mais importante não é saber quem é o culpado, mas como interrompê-la no mais
curto prazo o que não parece ser a preocupação nem do invasor nem dos demais
países da comunidade das nações com algumas exceções naturalmente. A histeria
espalha-se e envenena toda a imprensa e os órgãos de comunicação. A imagem do
agressor é conhecida e estampada em toda parte bem como o agredido. A luta de
David e Golias. É natural que todos tendam para o lado do coitadinho David
covardemente agredido pelo monstro Golias. Certamente não é possível deixar de
condenar a agressão feita pela Rússia.
Está claro quem é o mocinho e o bandido. E aí o resto é o massacre da
mídia. Poucas pessoas param para pensar nos fatos que se escondem por trás do
conflito e o papel que nele desempenham os Estados Unidos e a União Europeia
que juntos armaram o golpe que derrubou o governo ucraniano e inventaram um
palhaço estúpido para colocar no lugar de presidente e funcionar como um
fantoche a cumprir com suas ordens.
Agora estamos entalados com uma
guerra dentro da Europa. E os belicistas da OTAN, que deveria ter sido
dissolvida depois da dissolução da União Soviética, a rangerem os dentes de
satisfação por empurrarem suas armas nas mãos dos outros e curtirem o sangue
derramado para a satisfação de seus interesses.
O primeiro grande efeito da guerra
já não se pode evitar. A economia mundial mergulhará novamente na fase de
crise. A produção, o comércio, a comunicação, tudo será desorganizado, o
desemprego aumentará, a inflação, a fome, milhares de refugiados. Isto já é
inevitável. Os gananciosos capitalistas europeus e americanos, porém, podem
considerar como certa a redução de seus lucros (exceto os fabricantes de armas,
claro).
As sanções impostas à Rússia terão consequências para todos e particularmente para os europeus que continuam a servir de capachos dos americanos. No Brasil, também não escaparemos. A subida dos preços do petróleo, das commodities, da energia dará grande impulso à inflação que já nos perturba. O dólar continuará a desvalorizar-se ampliando a inflação. A falta de fertilizantes prejudicará a agricultura. O desemprego vai aumentar. E comecemos a torcer para que as coisas não saiam do controle e a guerra se mantenha nos níveis convencionais. Os russos já ameaçaram com a mudança de patamar. Não está para brincadeira. O risco é todos virarmos churrasco.
[i] Professor Emérito da UFPB e Vice Coordenador do Progeb – Projeto Globalização e Crise na Economia Brasileira; nelsonrr39@hotmail.com; (www.progeb.blogspot.com). Colaboraram os pesquisadores: Guilherme de Paula, Maria Neres Fernandes, Mariana Tavares e Nertan Gonçalves.
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