sábado, 5 de março de 2022

Conjuntura econômica de guerra

Semana de 21 a 27 de fevereiro 2022

 

Nelson Rosas Ribeiro[i]

Temos falado nesta coluna que nossas análises se baseiam em teorias científicas que nos permitem traçar linhas de evolução futura para a economia. Para isto acompanhamos os dados estatísticos que as entidades oficiais publicam. Geralmente tomamos como base os acontecimentos da semana imediatamente anterior. Também falamos aqui sobre a política econômica que pode interferir nos movimentos da economia acelerando-os ou retardando sua ação, mas nunca conseguindo abolir as leis que os regem. Além disso alertamos para outros fatores externos à economia que igualmente poderiam ter influência no andamento dos fenômenos econômicos. Durante várias análises discutimos um destes elementos que estava causando grandes alterações no comportamento da economia mundial e local: o coronavírus. Este elemento da natureza provocou profundas perturbações desorganizando as cadeias produtivas, o comércio mundial, os diferentes mercados, a agricultura, os serviços, a atividade extrativa, a indústria etc.

À duras penas, graças ao avanço da ciência que conseguiu produzir em tempo recorde e implementar uma vacinação em massa das populações, conseguimos um certo controle sobre a pandemia e aos poucos a economia mundial vinha retomando o seu caminho natural que era a recuperação, depois de tanta destruição.

Mas a vida nos reserva muitas surpresas. Desta vez é a política que vem atropelar a economia: a invasão da Ucrânia pelas tropas da Rússia. Nestas circunstâncias torna-se muito difícil fazer análise de conjuntura pois a guerra não está prevista em nenhum manual de economia ou é objeto de tratamento de nenhuma teoria econômica. Estamos mesmo vivendo um período excepcional altamente perturbado. A guerra que mal começou já apresenta seus efeitos e certamente eles serão catastróficos. No momento o mais importante não é saber quem é o culpado, mas como interrompê-la no mais curto prazo o que não parece ser a preocupação nem do invasor nem dos demais países da comunidade das nações com algumas exceções naturalmente. A histeria espalha-se e envenena toda a imprensa e os órgãos de comunicação. A imagem do agressor é conhecida e estampada em toda parte bem como o agredido. A luta de David e Golias. É natural que todos tendam para o lado do coitadinho David covardemente agredido pelo monstro Golias. Certamente não é possível deixar de condenar a agressão feita pela Rússia.  Está claro quem é o mocinho e o bandido. E aí o resto é o massacre da mídia. Poucas pessoas param para pensar nos fatos que se escondem por trás do conflito e o papel que nele desempenham os Estados Unidos e a União Europeia que juntos armaram o golpe que derrubou o governo ucraniano e inventaram um palhaço estúpido para colocar no lugar de presidente e funcionar como um fantoche a cumprir com suas ordens.

Agora estamos entalados com uma guerra dentro da Europa. E os belicistas da OTAN, que deveria ter sido dissolvida depois da dissolução da União Soviética, a rangerem os dentes de satisfação por empurrarem suas armas nas mãos dos outros e curtirem o sangue derramado para a satisfação de seus interesses.

O primeiro grande efeito da guerra já não se pode evitar. A economia mundial mergulhará novamente na fase de crise. A produção, o comércio, a comunicação, tudo será desorganizado, o desemprego aumentará, a inflação, a fome, milhares de refugiados. Isto já é inevitável. Os gananciosos capitalistas europeus e americanos, porém, podem considerar como certa a redução de seus lucros (exceto os fabricantes de armas, claro).

As sanções impostas à Rússia terão consequências para todos e particularmente para os europeus que continuam a servir de capachos dos americanos. No Brasil, também não escaparemos. A subida dos preços do petróleo, das commodities, da energia dará grande impulso à inflação que já nos perturba. O dólar continuará a desvalorizar-se ampliando a inflação. A falta de fertilizantes prejudicará a agricultura. O desemprego vai aumentar. E comecemos a torcer para que as coisas não saiam do controle e a guerra se mantenha nos níveis convencionais. Os russos já ameaçaram com a mudança de patamar. Não está para brincadeira. O risco é todos virarmos churrasco.


[i] Professor Emérito da UFPB e Vice Coordenador do Progeb – Projeto Globalização e Crise na Economia Brasileira; nelsonrr39@hotmail.com; (www.progeb.blogspot.com). Colaboraram os pesquisadores: Guilherme de Paula, Maria Neres Fernandes, Mariana Tavares e Nertan Gonçalves.

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