quarta-feira, 9 de março de 2022

Em meio à guerra, o PIB brasileiro de 2021

Semana de 28 de fevereiro a 06 de março de 2022

 

Lucas Milanez de Lima Almeida [i]

 

Não sem razão, os noticiários têm destacado intensamente os fatos ligados à guerra entre Rússia e Ucrânia. Muito se fala, também, nas consequências que o conflito trará para nós brasileiros: falta de alguns insumos e inflação ainda mais elevada. Já está se falando em novo aumento no preço dos combustíveis e tudo.

Mas, no meio de tanta informação, o caro leitor pode não ter acompanhado uma notícia muito relevante, sobre como se comportou o PIB brasileiro no ano passado.

Ao longo de 2021, o Brasil conseguiu produzir 4,6% mais bens e serviços do que havia produzido em 2020, ano do início da pandemia. Já em relação ao ano de 2019, antes da pandemia, o PIB de 2021 cresceu cerca de 0,5%. Este crescimento, porém, não significa que todos os setores voltaram de vento em popa.

Alguns serviços, como “Informação e Comunicação” e “Transportes e Armazenagem”, realmente estão em situação bem melhor do que antes da pandemia. Eles cresceram, respectivamente, 12,8% e 9,8% na comparação entre dezembro de 2021 e fevereiro de 2020. Já os serviços “Profissionais e Administrativos” e os “Prestados às famílias” ficaram 0,2% e 11,2% abaixo do patamar pré-pandemia, respectivamente.

No Comércio, apenas os produtos farmacêuticos, material de construção e mercados/alimentação e bebidas conseguiram superar, em dezembro de 2021, o nível visto em fevereiro de 2020. Ainda estão em baixa o comércio de automóveis, tecidos, combustíveis, equipamentos de informática e de escritório, móveis e eletrodomésticos.

Quando o assunto é produção industrial, apenas 9 atividades superaram, em 2021, o patamar anterior à pandemia. Entre eles está o setor de “Máquinas e Equipamentos”, que em dezembro de 2021 produziu 16,5% mais do que em fevereiro de 2020. No que se refere aos indicadores negativos, destaca-se a produção de veículos, que ainda foi 3,4% menor, na mesma comparação.

Por fim, a agropecuária reduziu sua produção, entre 2020 e 2021, em 0,2%. As intempéries climáticas foram responsáveis pela queda, fazendo chover demais em alguns lugares e de menos em outros. Além disso, as proteínas produzidas no Brasil sofreram embargos no mercado internacional.

Pelo lado da demanda, todos os componentes do PIB se elevaram: consumo das famílias (3,6%), gastos do governo (2%), investimentos (17,2%), exportação (5,8%) e importação (12,4%). Apesar do crescimento, apenas os investimentos e as importações fecharam o quarto trimestre de 2021 com valor superior ao observado no último trimestre de 2019. O restante fechou abaixo do período pré-pandemia.

Esses foram os fatos que precederam o ano em que estamos. A atividade econômica, no dado agregado, no geral, melhorou. Mas essa melhora quantitativa está longe de se traduzir em melhora qualitativa. Para além do que já foi dito, do elevado desemprego e do alto grau de informalidade das ocupações, quando comparado com outros países, nosso crescimento em 2021 não foi lá essas coisas. Numa lista feita pela agência Austin Rating, o crescimento do Brasil ficou em 21º de uma lista de 34 países. Uma das consequências é que fomos ultrapassados pela Austrália e caímos uma posição no ranque das maiores economias do mundo, ficando em 13º lugar.

Voltando ao começo da análise, retomando as consequências da guerra sobre o Brasil, o que podemos esperar das medidas a serem adotadas pelo Ministro da Economia e pelo Presidente do Banco Central? A depender deles, nada muito diferente do que já se faz, a não ser que traga resultado eleitoral. De um lado, não há nenhuma proposta sistêmica de recuperação da economia (fora as privatizações). Do outro, podemos esperar novos aumentos na taxa Selic. Na verdade, já está sendo previsto pelo mercado financeiro que a Selic chegue a 13,5%, ainda em 2022.

É, caro leitor, era difícil imaginar que com Bolsonaro na presidência estaríamos nessa desgraça atual. Na verdade, não, tava na cara. Agora, marchemos até outubro.


[i] Professor do Departamento de Relações Internacionais da UFPB e Coordenador do PROGEB – Projeto Globalização e Crise na Economia Brasileira. (www.progeb.blogspot.com; lucasmilanez@hotmail.com). Colaboraram os pesquisadores: Guilherme de Paula e Alan Gomes.

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