Semana de 21 a 27 de março 2022
Nelson Rosas Ribeiro[i]
A Europa está em pânico. A Rússia começou
uma guerra ilegal e perversa. A OTAN e os EUA deflagraram retaliações
igualmente ilegais contra a Rússia e passaram a pressionar todos os países e
empresas para aplicaram as sanções. Agora começam a surgir as constatações que
as sanções não podem ser aplicadas a todos os setores pois os setores da
energia (gás, petróleo, carvão) devem ficar fora. Lembraram que mais da metade
do carvão e do gás e 33% do petróleo consumidos na Alemanha são importados da
Rússia. O presidente da BDI entidade que reúne mais de 100.000 empresas alemãs
declarou que o boicote ao gás russo ameaça destruir a União Europeia (UE). As
consequências previstas são incalculáveis, o danos são enormes, instala-se a
recessão, o desemprego e falências de muitas empresas. Segundo premier alemão
Olaf Scholz o boicote traria a recessão. É o efeito bumerangue.
A Comissão Europeia também está preocupada.
A crise terá um impacto severo com aumento da inflação dos alimentos e da energia.
Os Índices de confiança dos investidores, dos consumidores e dos empresários
estão caindo. A presidente do Banco Central Europeu (BCE) Christine Lagarde
afirmou que o crescimento vai cair, a inflação vai aumentar, principalmente com
os preços dos alimentos e da energia, e o comércio vai se reduzir. Está sendo
promovido um cerco financeiro à Rússia jamais visto, mas esquecendo que ela é
uma grande fornecedora de petróleo, grãos, minérios e fertilizantes, o que
poderá provocar um grande choque de oferta e contribuir para uma ruptura do
sistema global.
A Agência das Nações Unidas para o Comércio
e o Desenvolvimento (Unctad) reduziu sua estimativa para o crescimento do PIB
mundial de 2022, de 3,6% para 2,6%. A Unctad prevê o enfraquecimento da demanda
global, o aumento do endividamento, o surgimento de ondas de choque financeiro,
o aumento da insolvência, recessão, queda no desenvolvimento, aumento nos
preços dos combustíveis e alimentos, enfraquecimento da recuperação dos países
em desenvolvimento. A guerra vai frear a economia mundial.
Ao mesmo tempo cresce o temor de uma crise
alimentar no mundo. Diante das restrições impostas e do perigo que se prepara
para as trocas comerciais cada país toma as medidas para proteger seus mercados
e suas populações. As primeiras medidas tomadas já são de reduzir as
exportações de produtos alimentícios e importar para fazer estoques
estratégicos. Além da Rússia a Ucrânia sempre foi considerada o celeiro do
mundo na exportação de grãos. Teme-se o efeito cascata: grãos – rações – carne.
Alguns países já estão fazendo restrições às exportações. A Indonésia com o
óleo de palma, a Argentina com o óleo e farelo de soja, o Egito com farinha,
lentilha e trigo, a Moldávia e a Sérvia com trigo e açúcar. Os EUA, ainda pouco
afetado pela crise, sente o peso da inflação, que em janeiro atingiu 6,1%. O
presidente do Federal Reserve (Fed), Banco Central americano, já declarou sua
intenção de elevar os juros em 0,5%.
Este é o ambiente internacional que envolve
a nossa débil economia que já vinha começando o ano muito mal. Para janeiro, a
Pesquisa Industrial Mensal Regional (PIM Regional) mostrou queda da produção
industrial em 10 dos 15 locais pesquisados. Em 20 dos 26 ramos o crescimento
foi negativo. O Ibre FGV estima o crescimento do PIB este ano em 0,6%. O BC
propõe um crescimento de 1%, mas o mercado mantém uma média de 0,5%. Os
economistas projetam uma taxa de desemprego de 11% no final do ano com um total
de 12 milhões de desempregados e a Pnad Contínua mostra que o número de desalentados
(os que estão desempregados, mas não procuram emprego) atinge 4,8 milhões ou
seja quase 3% da população em idade para trabalhar.
O que se espera para o país é então:
inflação resistente, juros altos, crescimento baixo, comércio desacelerando,
cadeias de suprimento desorganizadas, incerteza global, aumento do desemprego.
O governo está em pânico. Demitiu o ministro da Educação, o presidente da
Petrobrás, reduz alíquota de impostos, aprova pacote de bondades. É o vale tudo
para as eleições. Na dúvida, mais novas ameaças de golpe caso não seja eleito.
E assim vamos nós aos trancos e barrancos.
[i] Professor
Emérito da UFPB e Vice Coordenador do Progeb – Projeto Globalização e Crise na
Economia Brasileira; nelsonrr39@hotmail.com; (www.progeb.blogspot.com). Colaboraram
os pesquisadores: Guilherme de Paula, Mariana Tavares, Roberto Lucas e Alan
Henriques Gomes.
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