quinta-feira, 29 de setembro de 2022

Caminhando à beira do abismo

Semana de 19 a 25 de setembro de 2022

 

Nelson Rosas Ribeiro[i]

           

Estamos a poucos dias das eleições. Provavelmente quando esta Análise for publicada elas estarão ocorrendo. É consenso que serão as eleições mais polarizadas e tensas dos últimos anos. O que está em jogo é a própria democracia. Todos os dias as ameaças de golpe são proferidas pela autoridade máxima que deveria zelar pela ordem democrática. Por mais louco que possa parecer, a palavra de ordem de luta armada para a tomada do poder passou a ser da direita que já nele está. Isto significa que o atual sistema político de dominação não é suficiente para garantir o poder da burguesia mais reacionária que está entrando em pânico. É preciso mudar as regras do jogo o que já está sendo feito no dia a dia. O presidente usa o Estado como se fosse sua propriedade particular. Instalações, dinheiro, aviões, veículos, tudo é usado como propriedade privada, diante da passividade dos órgãos e poderes fiscalizadores e controladores. Restou um único poder, o STF que ainda tenta conter os desatinos ilegais. Mais uma vez a sociedade civil torna-se conivente como o golpe em marcha, colaborando com ele e protegendo o candidato autoproclamado ditador. As forças armadas, fiéis a sua tradição de “capitães do mato”, fazem, por enquanto, a retaguarda garantindo com os seus fuzis e canhões as arbitrariedades, corrompida pelos altos cargos conquistados e bons salários.

É neste clima que caminhamos para as eleições sem qualquer garantia que elas serão realizadas. A campanha política está aí, mais grotesca do que de costume, onde a maioria dos candidatos mostram suas caras desavergonhadas prometendo a defesa das mulheres, dos pretos, dos LGBT, da educação, da saúde, da moradia. Todos prometem mais emprego melhores salários, mais saúde, ambulâncias, escolas etc. Ninguém pergunta o que andaram fazendo no passado. Alguns são particularmente cínicos e, embora bolsoninions, escondem seu comprometimento com o atual governo. Ignorantes e desinformados os eleitores votam pela cara e pelas relações pessoais. Não sabem que no atual sistema votando assim, em vez de eleger um amigo poderá estar elegendo seu pior inimigo. A escolha deveria ser antes de tudo pelo partido e não pelas pessoas. Desse modo nenhum voto deveria ser dado a qualquer candidato que pertença a um partido da base do governo. Todos são inimigos. Nada conseguiremos se não mudarmos a composição do parlamento. Fora com as bancadas da bala, do boi e da bíblia.

Vejam os leitores como está difícil falar de conjuntura econômica em tal situação. A democracia está à beira do abismo com a conivência de parte da sociedade civil, dos partidos e dos militares. O povo que o Bolsonaro quer armar é para manter os outros escravizados. As violências estão ocorrendo e devem se intensificar com a proximidade da votação. Tentam criar instabilidade e medo e é para isso que quer armar “o povo”. Torna-se necessário denunciar e resistir. Obrigar os órgãos especializados, e já institucionalmente armados para este fim, a enfrentar a violência e colocar o tal “povo armado” do Bolsonaro no seu devido lugar.

Mas, não satisfeito com as proezas nacionais, o presidente fez questão de nos envergonhar perante as nações do mundo. Não perdeu oportunidades e, no enterro da rainha e na reunião da ONU, aproveitou os discursos para dar demonstração de grosseria e mediocridade e fazer campanha política para seus fanáticos. Mais uma vez servimos de pasto para a crítica mundial e estamos pagando mais um mico pelo mito. Que vergonha!

Na economia temos de comemorar a elevação dos juros pelo mundo todo. Acabaram os tempos de juros negativos. O Fed, Banco Central (BC) dos EUA elevou seus juros para o intervalo entre 3% e 3,5%. O Banco da Suíça subiu de -0,25% para 0,5%. Os BCs da Suécia, Dinamarca e Canadá também elevaram os juros. A onda de elevação de juros é tal que o Banco Mundial alertou para o risco de se conduzir a economia mundial “a uma recessão devastadora” que já está em marcha. Para nossa maior desgraça, a Comissão Europeia aprovou nova decisão proibindo a importação de produtos oriundos de zona de desmatamento: madeira, couros, carnes, chocolate, borracha, café, soja, carvão, e produtos deles derivados. Estamos muito bem.


[i] Professor Emérito da UFPB e Vice Coordenador do Progeb – Projeto Globalização e Crise na Economia Brasileira; nelsonrr39@hotmail.com; (www.progeb.blogspot.com). Colaboraram os pesquisadores: Guilherme de Paula, Mariana Tavares e Nertan Alves.

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quinta-feira, 22 de setembro de 2022

A fatura chegou. Vamos quitar à vista no dia 2?

Semana de 12 a 18 de setembro de 2022

 

Lucas Milanez de Lima Almeida [i]

 

Faltando menos de 15 dias para as Eleições 2022, parece que os únicos que devem/podem mudar sua opção eleitoral são os indecisos e aqueles que seguem com os candidatos daquilo que se tentou chamar de terceira via. Por sua vez, nunca antes na história (recente) desse país um candidato à reeleição presidencial esteve atrás nas pesquisas de intensão de votos num momento tão próximo do pleito. Alguns dados da realidade atual ajudam a entender o porquê.

Na economia, apesar do crescimento verificado no segundo trimestre de 2022, não há perspectivas positivas quanto à sustentabilidade do crescimento do PIB brasileiro até o fim do ano. Dentre os fatores, estão a baixa qualidade dos empregos gerados (muitos informais), a queda na renda real dos trabalhadores (a inflação subindo mais que salários) e os setores que estão puxando o crescimento (serviços e atividades com menor ramificação interna). Para piorar, a economia global já desacelera e deve entrar numa crise ainda maior. O motivo são os aumentos dos juros realizados pelos bancos centrais mundo afora, com o objetivo de combater a inflação.

Falando nisso, outro fator que pesa sobre a opinião pública é a inflação por aqui. Apesar de anunciar ao mundo, na Assembleia Geral da ONU, que o Brasil teve deflação nos dois últimos meses, isto não é sentido por grande parte do eleitorado. E quem sente, sente mais ainda o peso do encarecimento dos alimentos. Segundo estudo do IPEA (link), o aumento no preço dos alimentos contribuiu com quase um terço (32%) da inflação total acumulada no Brasil entre setembro de 2021 e agosto de 2022 (a inflação total registrada foi de 8,73%). Os transportes, incluindo o combustível, contribuíram com 18% para a inflação total. A coisa muda quando se observa a inflação por nível de renda. Para os mais pobres (renda mensal familiar abaixo de R$ 1.726,01), a inflação foi de 9,24%, sendo que os alimentos contribuíram com 42% desse aumento e os transportes, apenas 7%. Para os de maior renda (renda acima de R$ 17.260,14), a inflação foi de 9,11%, sendo que os alimentos contribuíram com 19% e os transportes com 35% desse aumento.

A inflação de alimentos e a péssima qualidade da geração de renda que enfrentamos, por sua vez, terminam trazendo à tona um problema estrutural, mas que às vezes se esconde no Brasil: a insegurança alimentar. Segundo o relatório do II Inquérito Nacional sobre Insegurança Alimentar no Contexto da Pandemia da Covid-19 no Brasil (link), da Rede PENSSAN, o país tem cerca de 125 milhões de pessoas sofrendo algum tipo de insegurança alimentar. Os números são: 60 milhões os que têm preocupações em passar fome no futuro próximo (insegurança leve); 32 milhões os que têm restrições quanto ao acesso de comida para a família (insegurança moderada); e 33 milhões os que enfrentam a falta do que comer (insegurança grave). No recorte regional, o estudo mostra que tanto no Norte, quanto no Nordeste há mais pessoas em insegurança alimentar moderada e grave (somadas) do que pessoas em situação de segurança alimentar (aquelas que têm acesso permanente e suficiente aos alimentos).

Sobre a pauta da moralidade e dos bons costumes, não há nem o que falar. O “imbroxável” já fez diversas declarações que não condizem com os preceitos cristão que tanto diz seguir. Sobre o fim da corrupção, a todo momento surgem acusações e indícios de que não só o “incomível” participou de operações imobiliárias suspeitas, mas toda sua família. Completando o pacote, o “imorrível” foi ao funeral de Elizabeth II no intuito de capitalizar politicamente. Porém, para além dos chiliques do mito, a viagem serviu para mostrar o quão lunáticos são alguns dos seus seguidores. Dentre as frases ditas, em plena Londres, duas se destacaram: “por que você não vai para a Venezuela?”, dita na direção de londrinos que pediam respeito à defunta; e “vocês não são bem-vindos aqui”, proferidas à equipe de jornalistas da Corporação Britânica de Radiodifusão, a estatal BBC.

Pois bem, longe de querer opinar sobre preferências eleitorais, sugiro apenas que o caro leitor reflita: será que o Brasil vai liquidar essa custosa fatura à vista já no dia 2?


[i] Professor do DRI/UFPB e do PPGRI/UEPB; Coordenador do PROGEB. (@progebufpb, www.progeb.blogspot.com; lucasmilanez@hotmail.com). Colaboraram os pesquisadores: Guilherme de Paula, Mariana Tavares e Nertan Gonçalves.

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quinta-feira, 15 de setembro de 2022

Os dois Brasis: a economia está saindo do buraco

Semana de 05 a 11 de setembro de 2022

 

Nelson Rosas Ribeiro[i]

           

Na Análise da semana passada o Prof. Lucas Milanez apresentou os dados do IBGE que mostram que “a economia está saindo do buraco.” Claro que isto foi motivo para o foguetório do governo. Não negando este fato, cabe-nos o papel de trazer algumas explicações. As estatísticas às vezes enganam quando tratadas ideologicamente. Não restam dúvidas que os números mostram uma certa recuperação. Aí estão os dados do crescimento da indústria, dos serviços, do emprego. Foi mal para o consumo do governo e para as exportações.

Para nós os números não surpreenderam. Há algumas semanas chamamos a atenção para o programa de bondades do governo e seu caráter eleitoreiro. O governo que, durante 3 anos nada fez para melhorar a situação do país, de repente, tornou-se bonzinho a ponto de tentar se apropriar dos R$600 do bolsa família que ele combateu e tentou impedir. Lembramos que o sinistro da economia Paulo Guedes, a muito custo, depois de propor a suspensão do contrato de trabalho sem qualquer remuneração, sugeriu um auxílio de R$200. Foi derrotado pelo Congresso.

Já mostramos que a política econômica pode ter grande interferência nos movimentos da economia e o nosso caso é um ótimo exemplo. O presidente, desesperado com os resultados das pesquisas eleitorais, e acossado pelas pressões internacionais que repudiam o golpe de Estado que ele tanto acalenta, deixou cair as propostas neoliberais de austeridade fiscal e abriu os cofres para comprar os eleitores. Que se dane o orçamento e o déficit fiscal. Serão problemas para depois de janeiro, a serem resolvidos pelo próximo governo.  O resultado é o derrame de bilhões de reais na economia o que, sem dúvida, provocou um aumento do consumo, da produção, do emprego, das atividades de modo geral.

É o que estamos assistindo. Mas, como diz o ditado português, “cá se fazem, cá se pagam”. Saudamos a queda no desemprego, mas com novos empregos de baixos salário, precários e informais. A informalidade bate novos recordes e atualmente há 39 milhões e duzentos e noventa e quatro mil trabalhadores informais na população ocupada, sobretudo nos serviços, cerca de 40% desta população. Por outro lado, a resposta da produção, a um aumento do consumo repentino, não é imediata. Como consequência temos um repique da inflação que atinge diferentemente as diversas classes de renda. Para os 10% mais pobres, que ganham entre 1 e 1,5 salários-mínimos, a inflação, em 12 meses até julho, foi de 7,8%, mas, a de alimentos, atingiu 16,19%. No entanto, para os 10% mais ricos, que ganham entre 11,6 e 33 salários-mínimos, a inflação caiu 1,05% e a de alimentos cresceu apenas 1,2%. Embora o “mercado” estime a continuação da queda da inflação, o próprio Banco Central (BC), através de seu presidente, admite que ela vai retornar com força e que o banco vai continuar a subir os juros de referência (a taxa Selic). O próprio presidente teme o fenômeno conhecido como “boca de jacaré” quando as linhas do gráfico que representam os crescimentos da inflação e da economia se afastam. (Ele tem vergonha de chamar isto pelo nome: “estagflação”). Esta elevação da Selic já vem tendo consequências na inadimplência que foi acrescida de 4,6 milhões de pessoas. O total hoje já atinge 66,8 milhões de consumidores. De acordo com a Pesquisa Nacional de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (Peic), da Confederação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), 78% das famílias estão endividadas.

O sufoco da campanha política e as promessas descabidas nela feitas são de tal ordem que poucos prestam atenção nos absurdos que foram enviados ao congresso na Proposta de Lei Orçamentária Anual (PLOA) e na Lei de Diretrizes Orçamentárias.

A partir de dezembro, todas as bondades vão desaparecer e restarão um orçamento inexequível e estourado e uma população desempregada, com baixos salários, inadimplente e faminta. Eis o resultado da economia saindo do buraco do sinistro Guedes e o que restará do outro Brasil para ser administrado pelo vencedor das eleições.


[i] Professor Emérito da UFPB e Vice Coordenador do Progeb – Projeto Globalização e Crise na Economia Brasileira; nelsonrr39@hotmail.com; (www.progeb.blogspot.com). Colaboraram os pesquisadores: Guilherme de Paula, Mariana Tavares e Nertan Alves.

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sábado, 10 de setembro de 2022

Você vê o crescimento do PIB na sua cidade?

Semana de 29 de agosto a 04 de setembro de 2022

 

Lucas Milanez de Lima Almeida [i]

 

Caro leitor, em meio às notícias do aumento da fome no Brasil, saíram os dados sobre o PIB brasileiro no segundo trimestre de 2022. No agregado, o resultado é bom (para o padrão brasileiro recente): na comparação com os três primeiros meses de 2022, o PIB dos meses de abril a junho cresceu 1,2%; na comparação os mesmos meses de 2021, o crescimento foi de 3,2%. Com o resultado já consolidado de todo o primeiro semestre de 2022, se a economia brasileira não crescer mais nada até o fim do ano, mesmo assim crescerá 2,6% sobre o ano passado.

Como tem acontecido desde meados de 2021, os Serviços contribuíram de forma significativa com o crescimento registrado (vale lembrar que essa atividade corresponde à cerca de 70% do PIB brasileiro). Na comparação com o primeiro trimestre de 2022, o PIB dos Serviços subiu 1,3%, no segundo trimestre do ano. Já a Agropecuária cresceu apenas 0,5% no mesmo período. Nesse caso, depois de ter decepcionado em 2021, o crescimento de agora não foi suficiente para retornar aos patamares da produção de 2020.

A atividade industrial, por sua vez, apresentou resultado surpreendente: no agregado, cresceu 2,2% entre o 1º e o 2º trimestre de 2022. Os setores de Eletricidade e gás, água, esgoto, atividades de gestão de resíduos cresceram 3,1%, seguido de Construção civil, com 2,7%, e Indústria extrativa, com 2,2%. Apesar de ter apresentado percentual menor, a Indústria de transformação também cresceu (1,7%). Este último dado é um ponto preocupante, pois este é o setor que reúne a maior parte das atividades de maior intensidade tecnológica, bem como a que aplica maiores valores em pesquisa e desenvolvimento. Além disso, a Indústria de transformação é a que tem maior força para puxar outros setores junto ao seu próprio crescimento (o chamado efeito multiplicador da produção). O ideal é que esta fosse a atividade locomotiva da economia nacional, pois representaria um crescimento mais sólido do país.

Pela ótica do consumo, dois foram os principais contribuintes para o crescimento do PIB entre o 1º e o 2º trimestre de 2022: Investimentos, que cresceram 4,8%; e Consumo das famílias, com subida de 2,6%. Por sua vez, como dados negativos, o Consumo do Governo caiu 0,9% e as Exportações se reduziram em 2,5%. O motivo da piora nas vendas externas, em termos macroeconômicos, vêm de dois fatores principais: a Agropecuária reduziu a quantidade exportada em todos os meses de abril a junho; e a taxa de câmbio caiu de uma média de R$ 5,20, no primeiro trimestre, para R$ 4,95 no segundo, o que reduziu a rentabilidade das exportações, em reais (elas são computadas em dólares).

Pois bem, em que isso altera a vida da maioria da população? De fato, as recentes reduções no desemprego, registradas pelo IBGE, mostram que a economia está saindo do buraco. O problema são os fatores que estão dando este impulso e quais efeitos o crescimento está gerando sobre a economia como um todo.

Por um lado, em busca de melhorar sua posição na disputa eleitoral, o Governo Federal liberou geral um conjunto de estímulos temporários, que vão de crédito e liberação do FGTS à antecipação do 13ª salário e aumento do (novo) Bolsa Família.

Por outro lado, pelo grau de informalidade da força de trabalho no Brasil, que está em torno de 40%, vê-se que a renda do emprego não é das melhores. O emprego informal sempre é instável e vulnerável a pequenos movimentos da economia (tendendo a crescer). Além disso, o setor de serviços, em especial os que estavam “reprimidos” pelo isolamento social, continua sendo o carro chefe do crescimento atual (os serviços também são os que mais empregam informais). Essas atividades, de uma forma geral, não são as que pagam os melhores salários, nem são as mais produtivas.

O que estamos vendo, na verdade, são dois Brasis: um que cresce aos trancos e barrancos, mas garante o saldo final positivo ao crescimento; o outro é aquele que está na nossa cara todo dia, das pessoas em condição de vulnerabilidade e dos trabalhadores precarizados.


[i] Professor do DRI/UFPB e do PPGRI/UEPB; Coordenador do PROGEB. (@progebufpb, www.progeb.blogspot.com; lucasmilanez@hotmail.com). Colaboraram os pesquisadores: Guilherme de Paula, Mariana Tavares e Nertan Gonçalves.

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quinta-feira, 1 de setembro de 2022

A política age, a economia reage

Semana de 22 a 28 de agosto de 2022

 

Nelson Rosas Ribeiro[i]

           

Na nossa concepção, é a economia a força determinante do movimento da sociedade. É dela que parte a energia que move todas as outras esferas que compõem o todo social. Agora assistimos a um fenômeno que aparentemente contradiz nossa base teórica e do qual se aproveitam as autoridades do governo. Na campanha política vale tudo e com um dirigente sem nenhuma moral, dignidade ou escrúpulo como temos hoje, a situação só não tende para o cômico porque é antes de tudo trágica. O país está sendo levado por incompetência e fanatismo ideológico a um buraco que precisará de muitos anos de sensatez e ciência para recuperar os estragos que estão sendo irresponsavelmente provocados.

E o governo desesperado para reverter a rejeição que as pesquisas de opinião mostram, não mede esforços para acelerar o desastre, usando para isto todo tipo de mentiras e falsificação, apropriando-se mesmo de obras e realizações de outros para as quais em nada contribuiu. Ao contrário, com sua ação incompetente envidou todos os esforços para impedir e mesmo destruir o que estava em execução. Veja-se o caso das ações contra a covid-19 e a aprovação do auxílio emergencial de R$600 contra o qual lutou o sinistro da Economia Paulo Guedes e só foi aprovado após renhida luta da oposição no Congresso.

No desespero, diante da derrota eleitoral iminente, Bolsonaro agora tenta todo tipo de ações para remediar os males que ajudou a deflagrar na economia, como a fome, a inflação, o desemprego, os baixos salários, a queda nos investimentos, o déficit fiscal, a crise etc.

Temos assim um bom exemplo da relação Estado-Economia que mostra a negação de toda a pregação neoliberal feita pelo sinistro Guedes e sua equipe. No desespero, vale tudo e o liberalismo é enterrado sem nenhuma explicação ou vergonha. Assistimos o uso do Estado em função dos interesses políticos mais escusos: ganhar uma eleição por um grupo que pretende eternizar-se no poder e cujos interesses nada tem a ver com os do povo e se apoia em uma pregação anticientífica, fanática e clerical e uma ação incompetente, desonesta e corrupta. Compra-se tudo sem nenhum pudor desde que o grupo dominante representado por oficiais dos altos escalões das forças armadas, a família do presidente e seus amigos possam continuar no poder. Nesta ação desesperada, os recursos derramados, o orçamento secreto, o Auxílio Emergencial, os subsídios a caminhoneiros e taxistas, o vale gás etc. além de outras medidas como a antecipação do 13º salário a pensionistas e aposentados, a liberação do FGTS, a flexibilização das medidas sanitárias que permitiram a retomada das atividades presenciais, trazem consequências para a economia. Os resultados, apesar de medíocres, são visíveis nas estatísticas. A queda do desemprego é um exemplo, apesar dos postos de trabalho criados serem de baixos salários e a informalidade seja crescente.

A atividade industrial, no entanto, ainda mostra, no primeiro semestre, um recuo de -2,2%. A indústria de bens de consumo duráveis, por exemplo, recuou -11,7%. O setor de serviços, porém, deu uma grande contribuição para a melhora do quadro e foi responsável pelo crescimento de 0,57% no segundo trimestre, apontado pelo Índice de Atividade Econômica do Banco Central (IBC Br). Em 12 meses, este índice mostrou um crescimento de 2,18%. O monitor do PIB do Ibre FGV apontou um crescimento de 1,1% no segundo trimestre.

No entanto, a conta da farra vai estourar em 2023. A irresponsabilidade cobrará seu preço. A política age, a economia reage. Nada se faz impunemente. Segundo a FGV Ibre o preço das bondades significará um rombo de R$439 bilhões ou seja 4,3% do PIB do país. Isto para pagar o furo do teto, a perda de arrecadação, os custos financeiros e outros riscos. Segundo o Boletim Macro, só o Auxílio Emergencial de R$ 600, o reajuste do funcionalismo e a revisão de despesas discricionárias custarão mais de R$ 120 bilhões ou seja 1,2% do PIB. Para piorar, a FGV afirma que o alto nível de incerteza desacelera a economia do país e a economia mundial também se encontra em desaceleração.


[i] Professor Emérito da UFPB e Vice Coordenador do Progeb – Projeto Globalização e Crise na Economia Brasileira; nelsonrr39@hotmail.com; (www.progeb.blogspot.com). Colaboraram os pesquisadores: Guilherme de Paula, Mariana Tavares e Nertan Alves.

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