Semana de 19 a 25 de setembro de 2022
Nelson Rosas Ribeiro[i]
Estamos a poucos dias das eleições.
Provavelmente quando esta Análise for publicada elas estarão ocorrendo. É
consenso que serão as eleições mais polarizadas e tensas dos últimos anos. O
que está em jogo é a própria democracia. Todos os dias as ameaças de golpe são
proferidas pela autoridade máxima que deveria zelar pela ordem democrática. Por
mais louco que possa parecer, a palavra de ordem de luta armada para a tomada
do poder passou a ser da direita que já nele está. Isto significa que o atual
sistema político de dominação não é suficiente para garantir o poder da
burguesia mais reacionária que está entrando em pânico. É preciso mudar as
regras do jogo o que já está sendo feito no dia a dia. O presidente usa o
Estado como se fosse sua propriedade particular. Instalações, dinheiro, aviões,
veículos, tudo é usado como propriedade privada, diante da passividade dos
órgãos e poderes fiscalizadores e controladores. Restou um único poder, o STF
que ainda tenta conter os desatinos ilegais. Mais uma vez a sociedade civil
torna-se conivente como o golpe em marcha, colaborando com ele e protegendo o
candidato autoproclamado ditador. As forças armadas, fiéis a sua tradição de
“capitães do mato”, fazem, por enquanto, a retaguarda garantindo com os seus
fuzis e canhões as arbitrariedades, corrompida pelos altos cargos conquistados
e bons salários.
É neste clima que caminhamos para as
eleições sem qualquer garantia que elas serão realizadas. A campanha política
está aí, mais grotesca do que de costume, onde a maioria dos candidatos mostram
suas caras desavergonhadas prometendo a defesa das mulheres, dos pretos, dos
LGBT, da educação, da saúde, da moradia. Todos prometem mais emprego melhores
salários, mais saúde, ambulâncias, escolas etc. Ninguém pergunta o que andaram
fazendo no passado. Alguns são particularmente cínicos e, embora bolsoninions,
escondem seu comprometimento com o atual governo. Ignorantes e desinformados os
eleitores votam pela cara e pelas relações pessoais. Não sabem que no atual
sistema votando assim, em vez de eleger um amigo poderá estar elegendo seu pior
inimigo. A escolha deveria ser antes de tudo pelo partido e não pelas pessoas.
Desse modo nenhum voto deveria ser dado a qualquer candidato que pertença a um
partido da base do governo. Todos são inimigos. Nada conseguiremos se não
mudarmos a composição do parlamento. Fora com as bancadas da bala, do boi e da
bíblia.
Vejam os leitores como está difícil falar
de conjuntura econômica em tal situação. A democracia está à beira do abismo
com a conivência de parte da sociedade civil, dos partidos e dos militares. O
povo que o Bolsonaro quer armar é para manter os outros escravizados. As
violências estão ocorrendo e devem se intensificar com a proximidade da
votação. Tentam criar instabilidade e medo e é para isso que quer armar “o
povo”. Torna-se necessário denunciar e resistir. Obrigar os órgãos
especializados, e já institucionalmente armados para este fim, a enfrentar a
violência e colocar o tal “povo armado” do Bolsonaro no seu devido lugar.
Mas, não satisfeito com as proezas
nacionais, o presidente fez questão de nos envergonhar perante as nações do
mundo. Não perdeu oportunidades e, no enterro da rainha e na reunião da ONU,
aproveitou os discursos para dar demonstração de grosseria e mediocridade e
fazer campanha política para seus fanáticos. Mais uma vez servimos de pasto
para a crítica mundial e estamos pagando mais um mico pelo mito. Que vergonha!
Na economia temos de comemorar a elevação dos juros pelo mundo todo. Acabaram os tempos de juros negativos. O Fed, Banco Central (BC) dos EUA elevou seus juros para o intervalo entre 3% e 3,5%. O Banco da Suíça subiu de -0,25% para 0,5%. Os BCs da Suécia, Dinamarca e Canadá também elevaram os juros. A onda de elevação de juros é tal que o Banco Mundial alertou para o risco de se conduzir a economia mundial “a uma recessão devastadora” que já está em marcha. Para nossa maior desgraça, a Comissão Europeia aprovou nova decisão proibindo a importação de produtos oriundos de zona de desmatamento: madeira, couros, carnes, chocolate, borracha, café, soja, carvão, e produtos deles derivados. Estamos muito bem.
[i] Professor
Emérito da UFPB e Vice Coordenador do Progeb – Projeto Globalização e Crise na
Economia Brasileira; nelsonrr39@hotmail.com; (www.progeb.blogspot.com). Colaboraram
os pesquisadores: Guilherme de Paula, Mariana Tavares e Nertan Alves.
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