Semana de 05 a 11 de setembro de 2022
Nelson Rosas Ribeiro[i]
Na Análise da semana passada o Prof. Lucas
Milanez apresentou os dados do IBGE que mostram que “a economia está saindo do
buraco.” Claro que isto foi motivo para o foguetório do governo. Não negando
este fato, cabe-nos o papel de trazer algumas explicações. As estatísticas às
vezes enganam quando tratadas ideologicamente. Não restam dúvidas que os
números mostram uma certa recuperação. Aí estão os dados do crescimento da
indústria, dos serviços, do emprego. Foi mal para o consumo do governo e para
as exportações.
Para nós os números não surpreenderam. Há
algumas semanas chamamos a atenção para o programa de bondades do governo e seu
caráter eleitoreiro. O governo que, durante 3 anos nada fez para melhorar a
situação do país, de repente, tornou-se bonzinho a ponto de tentar se apropriar
dos R$600 do bolsa família que ele combateu e tentou impedir. Lembramos que o
sinistro da economia Paulo Guedes, a muito custo, depois de propor a suspensão
do contrato de trabalho sem qualquer remuneração, sugeriu um auxílio de R$200.
Foi derrotado pelo Congresso.
Já mostramos que a política econômica pode
ter grande interferência nos movimentos da economia e o nosso caso é um ótimo
exemplo. O presidente, desesperado com os resultados das pesquisas eleitorais,
e acossado pelas pressões internacionais que repudiam o golpe de Estado que ele
tanto acalenta, deixou cair as propostas neoliberais de austeridade fiscal e
abriu os cofres para comprar os eleitores. Que se dane o orçamento e o déficit
fiscal. Serão problemas para depois de janeiro, a serem resolvidos pelo próximo
governo. O resultado é o derrame de
bilhões de reais na economia o que, sem dúvida, provocou um aumento do consumo,
da produção, do emprego, das atividades de modo geral.
É o que estamos assistindo. Mas, como diz o
ditado português, “cá se fazem, cá se pagam”. Saudamos a queda no desemprego,
mas com novos empregos de baixos salário, precários e informais. A
informalidade bate novos recordes e atualmente há 39 milhões e duzentos e
noventa e quatro mil trabalhadores informais na população ocupada, sobretudo
nos serviços, cerca de 40% desta população. Por outro lado, a resposta da
produção, a um aumento do consumo repentino, não é imediata. Como consequência
temos um repique da inflação que atinge diferentemente as diversas classes de
renda. Para os 10% mais pobres, que ganham entre 1 e 1,5 salários-mínimos, a
inflação, em 12 meses até julho, foi de 7,8%, mas, a de alimentos, atingiu
16,19%. No entanto, para os 10% mais ricos, que ganham entre 11,6 e 33
salários-mínimos, a inflação caiu 1,05% e a de alimentos cresceu apenas 1,2%.
Embora o “mercado” estime a continuação da queda da inflação, o próprio Banco
Central (BC), através de seu presidente, admite que ela vai retornar com força
e que o banco vai continuar a subir os juros de referência (a taxa Selic). O
próprio presidente teme o fenômeno conhecido como “boca de jacaré” quando as
linhas do gráfico que representam os crescimentos da inflação e da economia se
afastam. (Ele tem vergonha de chamar isto pelo nome: “estagflação”). Esta
elevação da Selic já vem tendo consequências na inadimplência que foi acrescida
de 4,6 milhões de pessoas. O total hoje já atinge 66,8 milhões de consumidores.
De acordo com a Pesquisa Nacional de Endividamento e Inadimplência do
Consumidor (Peic), da Confederação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo
(CNC), 78% das famílias estão endividadas.
O sufoco da campanha política e as
promessas descabidas nela feitas são de tal ordem que poucos prestam atenção
nos absurdos que foram enviados ao congresso na Proposta de Lei Orçamentária
Anual (PLOA) e na Lei de Diretrizes Orçamentárias.
A partir de dezembro, todas as bondades vão desaparecer e restarão um orçamento inexequível e estourado e uma população desempregada, com baixos salários, inadimplente e faminta. Eis o resultado da economia saindo do buraco do sinistro Guedes e o que restará do outro Brasil para ser administrado pelo vencedor das eleições.
[i] Professor
Emérito da UFPB e Vice Coordenador do Progeb – Projeto Globalização e Crise na
Economia Brasileira; nelsonrr39@hotmail.com; (www.progeb.blogspot.com). Colaboraram
os pesquisadores: Guilherme de Paula, Mariana Tavares e Nertan Alves.
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