Semana de 29 de agosto a 04 de setembro de 2022
Lucas Milanez de Lima
Almeida [i]
Caro
leitor, em meio às notícias do aumento da fome no Brasil, saíram os dados sobre
o PIB brasileiro no segundo trimestre de 2022. No agregado, o resultado é bom
(para o padrão brasileiro recente): na comparação com os três primeiros meses
de 2022, o PIB dos meses de abril a junho cresceu 1,2%; na comparação os mesmos
meses de 2021, o crescimento foi de 3,2%. Com o resultado já consolidado de
todo o primeiro semestre de 2022, se a economia brasileira não crescer mais
nada até o fim do ano, mesmo assim crescerá 2,6% sobre o ano passado.
Como
tem acontecido desde meados de 2021, os Serviços contribuíram de forma
significativa com o crescimento registrado (vale lembrar que essa atividade
corresponde à cerca de 70% do PIB brasileiro). Na comparação com o primeiro
trimestre de 2022, o PIB dos Serviços subiu 1,3%, no segundo trimestre do ano.
Já a Agropecuária cresceu apenas 0,5% no mesmo período. Nesse caso, depois de
ter decepcionado em 2021, o crescimento de agora não foi suficiente para
retornar aos patamares da produção de 2020.
A
atividade industrial, por sua vez, apresentou resultado surpreendente: no
agregado, cresceu 2,2% entre o 1º e o 2º trimestre de 2022. Os setores de
Eletricidade e gás, água, esgoto, atividades de gestão de resíduos cresceram
3,1%, seguido de Construção civil, com 2,7%, e Indústria extrativa, com 2,2%.
Apesar de ter apresentado percentual menor, a Indústria de transformação também
cresceu (1,7%). Este último dado é um ponto preocupante, pois este é o setor
que reúne a maior parte das atividades de maior intensidade tecnológica, bem
como a que aplica maiores valores em pesquisa e desenvolvimento. Além disso, a
Indústria de transformação é a que tem maior força para puxar outros setores
junto ao seu próprio crescimento (o chamado efeito multiplicador da produção).
O ideal é que esta fosse a atividade locomotiva da economia nacional, pois
representaria um crescimento mais sólido do país.
Pela
ótica do consumo, dois foram os principais contribuintes para o crescimento do
PIB entre o 1º e o 2º trimestre de 2022: Investimentos, que cresceram 4,8%; e
Consumo das famílias, com subida de 2,6%. Por sua vez, como dados negativos, o
Consumo do Governo caiu 0,9% e as Exportações se reduziram em 2,5%. O motivo da
piora nas vendas externas, em termos macroeconômicos, vêm de dois fatores
principais: a Agropecuária reduziu a quantidade exportada em todos os meses de
abril a junho; e a taxa de câmbio caiu de uma média de R$ 5,20, no primeiro
trimestre, para R$ 4,95 no segundo, o que reduziu a rentabilidade das
exportações, em reais (elas são computadas em dólares).
Pois
bem, em que isso altera a vida da maioria da população? De fato, as recentes
reduções no desemprego, registradas pelo IBGE, mostram que a economia está
saindo do buraco. O problema são os fatores que estão dando este impulso e
quais efeitos o crescimento está gerando sobre a economia como um todo.
Por um
lado, em busca de melhorar sua posição na disputa eleitoral, o Governo Federal
liberou geral um conjunto de estímulos temporários, que vão de crédito e
liberação do FGTS à antecipação do 13ª salário e aumento do (novo) Bolsa
Família.
Por
outro lado, pelo grau de informalidade da força de trabalho no Brasil, que está
em torno de 40%, vê-se que a renda do emprego não é das melhores. O emprego
informal sempre é instável e vulnerável a pequenos movimentos da economia
(tendendo a crescer). Além disso, o setor de serviços, em especial os que
estavam “reprimidos” pelo isolamento social, continua sendo o carro chefe do
crescimento atual (os serviços também são os que mais empregam informais).
Essas atividades, de uma forma geral, não são as que pagam os melhores
salários, nem são as mais produtivas.
O que estamos vendo, na verdade, são dois Brasis: um que cresce aos trancos e barrancos, mas garante o saldo final positivo ao crescimento; o outro é aquele que está na nossa cara todo dia, das pessoas em condição de vulnerabilidade e dos trabalhadores precarizados.
[i] Professor
do DRI/UFPB e do PPGRI/UEPB; Coordenador do PROGEB. (@progebufpb, www.progeb.blogspot.com; lucasmilanez@hotmail.com).
Colaboraram os pesquisadores: Guilherme de Paula, Mariana Tavares e Nertan
Gonçalves.
Acho que seria interessante acompanhar o endividamento das famílias; segundo a CNC (Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo), 78% das famílias brasileiras estão endividadas e estão agora recebendo benefícios temporários eleitoreiros do governo Bolsonaro (PL), e claro isso ocasiona um aumento significativo nos seus gastos momentaneamente.
ResponderExcluirTodavia, o capital extra sendo disponibilizado agora foi simplesmente um adiantamento daquilo que as pessoas receberiam no futuro; e mesmo as famílias beneficiadas pelo Auxílio Brasil estão vendo o seu poder de compra sendo cada vez mais corroído pela inflação alta (sendo controlado momentaneamente pela Petrobrás, que não está seguindo os preços internacionais do petróleo. Lógico, outra medida eleitoreira efêmera que não pode durar, porque o mercado quer os maiores dividendos possíveis e recusa-se a levar e consideração a sustentabilidade do seu investimento no longo prazo e quaisquer fatores derivados disso que afetem a sociedade) influenciando significativamente nos custos da comida.
Então, creio que o aumento fugaz do consumo das famílias logo (próximos 6 ou 12 meses) volte a ter uma queda e o endividamento dos indivíduos continuará crescendo. Acompanhar esse fator talvez seja o ponto vital para entender que mesmo com um crescimento bom do PIB em 2022, isso não significa uma melhora estrutural na economia. Outro motivo para o pessimismo foi excelentemente apontado pelo artigo: a precarização do trabalho apenas cresceu, e num mundo impregnado com incertezas e riscos (ex.: pandemias e acidentes de trânsito), a população pobre, principalmente, que se encontrar em instantes nas quais não pode trabalhar se endividará ainda mais.
Espero que os demais setores da economia consigam carrega-la mesmo com o endividamento grande da população, mas chegará uma hora que o banco não emprestará mais o dinheiro e o Estado provavelmente não vai ser capaz (tanto política como financeiramente) de manter o poder de compra dado com o auxílio. Desejo estar errado, mas a economia brasileira não aparenta ter surpresas agradáveis em seu futuro, e quem mais sofrerá serão os pobres.