quinta-feira, 1 de setembro de 2022

A política age, a economia reage

Semana de 22 a 28 de agosto de 2022

 

Nelson Rosas Ribeiro[i]

           

Na nossa concepção, é a economia a força determinante do movimento da sociedade. É dela que parte a energia que move todas as outras esferas que compõem o todo social. Agora assistimos a um fenômeno que aparentemente contradiz nossa base teórica e do qual se aproveitam as autoridades do governo. Na campanha política vale tudo e com um dirigente sem nenhuma moral, dignidade ou escrúpulo como temos hoje, a situação só não tende para o cômico porque é antes de tudo trágica. O país está sendo levado por incompetência e fanatismo ideológico a um buraco que precisará de muitos anos de sensatez e ciência para recuperar os estragos que estão sendo irresponsavelmente provocados.

E o governo desesperado para reverter a rejeição que as pesquisas de opinião mostram, não mede esforços para acelerar o desastre, usando para isto todo tipo de mentiras e falsificação, apropriando-se mesmo de obras e realizações de outros para as quais em nada contribuiu. Ao contrário, com sua ação incompetente envidou todos os esforços para impedir e mesmo destruir o que estava em execução. Veja-se o caso das ações contra a covid-19 e a aprovação do auxílio emergencial de R$600 contra o qual lutou o sinistro da Economia Paulo Guedes e só foi aprovado após renhida luta da oposição no Congresso.

No desespero, diante da derrota eleitoral iminente, Bolsonaro agora tenta todo tipo de ações para remediar os males que ajudou a deflagrar na economia, como a fome, a inflação, o desemprego, os baixos salários, a queda nos investimentos, o déficit fiscal, a crise etc.

Temos assim um bom exemplo da relação Estado-Economia que mostra a negação de toda a pregação neoliberal feita pelo sinistro Guedes e sua equipe. No desespero, vale tudo e o liberalismo é enterrado sem nenhuma explicação ou vergonha. Assistimos o uso do Estado em função dos interesses políticos mais escusos: ganhar uma eleição por um grupo que pretende eternizar-se no poder e cujos interesses nada tem a ver com os do povo e se apoia em uma pregação anticientífica, fanática e clerical e uma ação incompetente, desonesta e corrupta. Compra-se tudo sem nenhum pudor desde que o grupo dominante representado por oficiais dos altos escalões das forças armadas, a família do presidente e seus amigos possam continuar no poder. Nesta ação desesperada, os recursos derramados, o orçamento secreto, o Auxílio Emergencial, os subsídios a caminhoneiros e taxistas, o vale gás etc. além de outras medidas como a antecipação do 13º salário a pensionistas e aposentados, a liberação do FGTS, a flexibilização das medidas sanitárias que permitiram a retomada das atividades presenciais, trazem consequências para a economia. Os resultados, apesar de medíocres, são visíveis nas estatísticas. A queda do desemprego é um exemplo, apesar dos postos de trabalho criados serem de baixos salários e a informalidade seja crescente.

A atividade industrial, no entanto, ainda mostra, no primeiro semestre, um recuo de -2,2%. A indústria de bens de consumo duráveis, por exemplo, recuou -11,7%. O setor de serviços, porém, deu uma grande contribuição para a melhora do quadro e foi responsável pelo crescimento de 0,57% no segundo trimestre, apontado pelo Índice de Atividade Econômica do Banco Central (IBC Br). Em 12 meses, este índice mostrou um crescimento de 2,18%. O monitor do PIB do Ibre FGV apontou um crescimento de 1,1% no segundo trimestre.

No entanto, a conta da farra vai estourar em 2023. A irresponsabilidade cobrará seu preço. A política age, a economia reage. Nada se faz impunemente. Segundo a FGV Ibre o preço das bondades significará um rombo de R$439 bilhões ou seja 4,3% do PIB do país. Isto para pagar o furo do teto, a perda de arrecadação, os custos financeiros e outros riscos. Segundo o Boletim Macro, só o Auxílio Emergencial de R$ 600, o reajuste do funcionalismo e a revisão de despesas discricionárias custarão mais de R$ 120 bilhões ou seja 1,2% do PIB. Para piorar, a FGV afirma que o alto nível de incerteza desacelera a economia do país e a economia mundial também se encontra em desaceleração.


[i] Professor Emérito da UFPB e Vice Coordenador do Progeb – Projeto Globalização e Crise na Economia Brasileira; nelsonrr39@hotmail.com; (www.progeb.blogspot.com). Colaboraram os pesquisadores: Guilherme de Paula, Mariana Tavares e Nertan Alves.

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