Semana de 22 a 28 de agosto de 2022
Nelson Rosas Ribeiro[i]
Na nossa concepção, é a economia a força
determinante do movimento da sociedade. É dela que parte a energia que move
todas as outras esferas que compõem o todo social. Agora assistimos a um
fenômeno que aparentemente contradiz nossa base teórica e do qual se aproveitam
as autoridades do governo. Na campanha política vale tudo e com um dirigente
sem nenhuma moral, dignidade ou escrúpulo como temos hoje, a situação só não
tende para o cômico porque é antes de tudo trágica. O país está sendo levado
por incompetência e fanatismo ideológico a um buraco que precisará de muitos
anos de sensatez e ciência para recuperar os estragos que estão sendo
irresponsavelmente provocados.
E o governo desesperado para reverter a
rejeição que as pesquisas de opinião mostram, não mede esforços para acelerar o
desastre, usando para isto todo tipo de mentiras e falsificação, apropriando-se
mesmo de obras e realizações de outros para as quais em nada contribuiu. Ao
contrário, com sua ação incompetente envidou todos os esforços para impedir e
mesmo destruir o que estava em execução. Veja-se o caso das ações contra a
covid-19 e a aprovação do auxílio emergencial de R$600 contra o qual lutou o
sinistro da Economia Paulo Guedes e só foi aprovado após renhida luta da
oposição no Congresso.
No desespero, diante da derrota eleitoral
iminente, Bolsonaro agora tenta todo tipo de ações para remediar os males que
ajudou a deflagrar na economia, como a fome, a inflação, o desemprego, os
baixos salários, a queda nos investimentos, o déficit fiscal, a crise etc.
Temos assim um bom exemplo da relação
Estado-Economia que mostra a negação de toda a pregação neoliberal feita pelo
sinistro Guedes e sua equipe. No desespero, vale tudo e o liberalismo é
enterrado sem nenhuma explicação ou vergonha. Assistimos o uso do Estado em
função dos interesses políticos mais escusos: ganhar uma eleição por um grupo
que pretende eternizar-se no poder e cujos interesses nada tem a ver com os do
povo e se apoia em uma pregação anticientífica, fanática e clerical e uma ação
incompetente, desonesta e corrupta. Compra-se tudo sem nenhum pudor desde que o
grupo dominante representado por oficiais dos altos escalões das forças
armadas, a família do presidente e seus amigos possam continuar no poder. Nesta
ação desesperada, os recursos derramados, o orçamento secreto, o Auxílio
Emergencial, os subsídios a caminhoneiros e taxistas, o vale gás etc. além de
outras medidas como a antecipação do 13º salário a pensionistas e aposentados,
a liberação do FGTS, a flexibilização das medidas sanitárias que permitiram a
retomada das atividades presenciais, trazem consequências para a economia. Os
resultados, apesar de medíocres, são visíveis nas estatísticas. A queda do
desemprego é um exemplo, apesar dos postos de trabalho criados serem de baixos
salários e a informalidade seja crescente.
A atividade industrial, no entanto, ainda
mostra, no primeiro semestre, um recuo de -2,2%. A indústria de bens de consumo
duráveis, por exemplo, recuou -11,7%. O setor de serviços, porém, deu uma
grande contribuição para a melhora do quadro e foi responsável pelo crescimento
de 0,57% no segundo trimestre, apontado pelo Índice de Atividade Econômica do
Banco Central (IBC Br). Em 12 meses, este índice mostrou um crescimento de
2,18%. O monitor do PIB do Ibre FGV apontou um crescimento de 1,1% no segundo
trimestre.
No entanto, a conta da farra vai estourar em 2023. A irresponsabilidade cobrará seu preço. A política age, a economia reage. Nada se faz impunemente. Segundo a FGV Ibre o preço das bondades significará um rombo de R$439 bilhões ou seja 4,3% do PIB do país. Isto para pagar o furo do teto, a perda de arrecadação, os custos financeiros e outros riscos. Segundo o Boletim Macro, só o Auxílio Emergencial de R$ 600, o reajuste do funcionalismo e a revisão de despesas discricionárias custarão mais de R$ 120 bilhões ou seja 1,2% do PIB. Para piorar, a FGV afirma que o alto nível de incerteza desacelera a economia do país e a economia mundial também se encontra em desaceleração.
[i] Professor
Emérito da UFPB e Vice Coordenador do Progeb – Projeto Globalização e Crise na
Economia Brasileira; nelsonrr39@hotmail.com; (www.progeb.blogspot.com). Colaboraram
os pesquisadores: Guilherme de Paula, Mariana Tavares e Nertan Alves.
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