Semana de 12 a 18 de setembro de 2022
Lucas Milanez de Lima
Almeida [i]
Faltando
menos de 15 dias para as Eleições 2022, parece que os únicos que devem/podem
mudar sua opção eleitoral são os indecisos e aqueles que seguem com os candidatos
daquilo que se tentou chamar de terceira via. Por sua vez, nunca antes na
história (recente) desse país um candidato à reeleição presidencial esteve
atrás nas pesquisas de intensão de votos num momento tão próximo do pleito.
Alguns dados da realidade atual ajudam a entender o porquê.
Na
economia, apesar do crescimento verificado no segundo trimestre de 2022, não há
perspectivas positivas quanto à sustentabilidade do crescimento do PIB
brasileiro até o fim do ano. Dentre os fatores, estão a baixa qualidade dos
empregos gerados (muitos informais), a queda na renda real dos trabalhadores (a
inflação subindo mais que salários) e os setores que estão puxando o
crescimento (serviços e atividades com menor ramificação interna). Para piorar,
a economia global já desacelera e deve entrar numa crise ainda maior. O motivo
são os aumentos dos juros realizados pelos bancos centrais mundo afora, com o
objetivo de combater a inflação.
Falando
nisso, outro fator que pesa sobre a opinião pública é a inflação por aqui.
Apesar de anunciar ao mundo, na Assembleia Geral da ONU, que o Brasil teve
deflação nos dois últimos meses, isto não é sentido por grande parte do
eleitorado. E quem sente, sente mais ainda o peso do encarecimento dos
alimentos. Segundo estudo do IPEA (link), o aumento no preço dos alimentos
contribuiu com quase um terço (32%) da inflação total acumulada no Brasil entre
setembro de 2021 e agosto de 2022 (a inflação total registrada foi de 8,73%).
Os transportes, incluindo o combustível, contribuíram com 18% para a inflação
total. A coisa muda quando se observa a inflação por nível de renda. Para os
mais pobres (renda mensal familiar abaixo de R$ 1.726,01), a inflação foi de
9,24%, sendo que os alimentos contribuíram com 42% desse aumento e os
transportes, apenas 7%. Para os de maior renda (renda acima de R$ 17.260,14), a
inflação foi de 9,11%, sendo que os alimentos contribuíram com 19% e os
transportes com 35% desse aumento.
A
inflação de alimentos e a péssima qualidade da geração de renda que
enfrentamos, por sua vez, terminam trazendo à tona um problema estrutural, mas
que às vezes se esconde no Brasil: a insegurança alimentar. Segundo o relatório
do II Inquérito Nacional sobre Insegurança Alimentar no Contexto da Pandemia da
Covid-19 no Brasil (link), da Rede PENSSAN, o país tem cerca
de 125 milhões de pessoas sofrendo algum tipo de insegurança alimentar. Os
números são: 60 milhões os que têm preocupações em passar fome no futuro
próximo (insegurança leve); 32 milhões os que têm restrições quanto ao acesso
de comida para a família (insegurança moderada); e 33 milhões os que enfrentam
a falta do que comer (insegurança grave). No recorte regional, o estudo mostra
que tanto no Norte, quanto no Nordeste há mais pessoas em insegurança alimentar
moderada e grave (somadas) do que pessoas em situação de segurança alimentar
(aquelas que têm acesso permanente e suficiente aos alimentos).
Sobre
a pauta da moralidade e dos bons costumes, não há nem o que falar. O
“imbroxável” já fez diversas declarações que não condizem com os preceitos
cristão que tanto diz seguir. Sobre o fim da corrupção, a todo momento surgem
acusações e indícios de que não só o “incomível” participou de operações
imobiliárias suspeitas, mas toda sua família. Completando o pacote, o
“imorrível” foi ao funeral de Elizabeth II no intuito de capitalizar
politicamente. Porém, para além dos chiliques do mito, a viagem serviu para
mostrar o quão lunáticos são alguns dos seus seguidores. Dentre as frases
ditas, em plena Londres, duas se destacaram: “por que você não vai para a
Venezuela?”, dita na direção de londrinos que pediam respeito à defunta; e
“vocês não são bem-vindos aqui”, proferidas à equipe de jornalistas da
Corporação Britânica de Radiodifusão, a estatal BBC.
Pois bem, longe de querer opinar sobre preferências eleitorais, sugiro apenas que o caro leitor reflita: será que o Brasil vai liquidar essa custosa fatura à vista já no dia 2?
[i] Professor
do DRI/UFPB e do PPGRI/UEPB; Coordenador do PROGEB. (@progebufpb, www.progeb.blogspot.com; lucasmilanez@hotmail.com).
Colaboraram os pesquisadores: Guilherme de Paula, Mariana Tavares e Nertan
Gonçalves.
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