Semana de 28 de novembro a 04 de
dezembro de 2022
Nelson Rosas Ribeiro[i]
Em análises anteriores falamos nos tempos
difíceis que se avizinham. Eles estão chegando. À medida em que as comissões
vão avançando nos trabalhos da transição, os números vão sendo revelados em sua
crueza. A irresponsabilidade da dupla Bozo-Guedes é muito maior que o
imaginado. Não há dinheiro nem para terminar o atual ano. Agora querem que na
PEC da transição sejam incluídos alguns milhões para pagar despesas de 2022.
Enquanto os bloqueios continuam nas estradas, o governo continua bloqueando
verbas para os ministérios criando um verdadeiro caos na Educação e na Saúde. A
fúria é de tal ordem que até as verbas do orçamento secreto foram bloqueadas
causando revolta entre os deputados do “centrão”. A cada dia o tamanho do rombo
aumenta. O orçamento que foi apresentado pelo sinistro Guedes é uma farsa e não
pode ser executado.
No Congresso, as conspirações avançam a
pleno vapor. As eleições para as presidências das duas casas, que deveriam
ocorrer no próximo ano, já estão em marcha e tudo indica que a equipe de Lula
vai encaminhar sua posição de apoio à reeleição dos atuais presidentes. As
alternativas são ainda piores. Como se previa o adesismo ao novo governo é
descarado. Os partidos e deputados do Centrão estão à venda. Todos querem
aderir em busca de favores e empregos. Aspiram até a ministérios já disputados
pelos partidos que apoiaram a eleição do Lula. É um grande saco de gatos e é de
se esperar que o presidente eleito, com sua grande experiência, saiba navegar
neste mar revolto.
Se na política as coisas estão confusas na
economia a situação não é melhor. A lenta recuperação que se anunciava perde
cada vez mais o fôlego, como já havíamos previsto. Os fatores que a
impulsionaram perdem força: a recuperação pós-pandemia, o esgotamento da
poupança das famílias, a alta dos juros com a Selic elevada aumentando a
inadimplência, o dólar forte, os juros externos mais altos, o crescimento
global fraco, o estímulo da farra das medidas eleitoreiras do governo, a
desaceleração dos serviços e da construção civil, o crescimento do emprego etc.
Indicador disto é a queda da confiança do consumidor. O Índice de Confiança do
Consumidor (ICC), calculado pela Fundação Getúlio Vargas (FGV), apresentou uma
queda de 3,3 pontos em novembro. Em outubro, a inadimplência das companhias
aumentou 8,5%. Do total inadimplente, 53% corresponderam a empresas dos
serviços, 38% do comércio e 8% da indústria, segundo dados da Serasa. 89% dos
inadimplentes são micro e pequenas empresas.
No terceiro trimestre a economia desacelerou. A agricultura decresceu
-0,9%, a indústria extrativa -0,12%. O crescimento do PIB foi salvo pelos
serviços que cresceram 1,1%, pelos investimentos que cresceram 2,8% e pela
construção civil com um crescimento de 1,1%. A indústria de transformação
contribuiu apenas com 0,12%.
A taxa de desemprego caiu para 8,3%, em
outubro, com redução da informalidade, mas os analistas afirmam que esta
tendência não se manterá. O que é mais preocupante é que um estudo da
Organização Internacional do Trabalho (OIT) mostrou que a erosão dos salários
no Brasil, entre janeiro e junho do ano em curso, foi de -6,9%. Considerando
que em 2021 a redução dos salários foi de -7% e em 2020 de -4,9%, no período
2020-2022, a massa salarial caiu -18,8%. Isto mostra o tamanho do esmagamento
da demanda que obrigatoriamente deve refletir-se no crescimento do PIB.
Apesar dos avanços na transição a instabilidade continua a perturbar a retomada da normalidade pós-eleição. Há mesmo uma dualidade de poder. Continuam as ocupações de estradas e as concentrações em frente aos quarteis com apelos para a intervenção militar “contra o comunismo”, o que é tolerado pelos comandantes. Continuam os apelos para impedir pelas armas a posse do novo presidente, diante da passividade das autoridades. Só de vez em quando, por ordem direta do STF, alguma medida é tomada. Fica evidente o caráter reacionário das Forças Armadas, totalmente contaminadas pelo bolsonarismo, situação que precisa urgentemente ter um fim. Para a garantia do futuro urge que os criminosos sejam punidos. Não pode haver anistia para estes crimes.
[i] Professor
Emérito da UFPB e Vice Coordenador do Progeb – Projeto Globalização e Crise na
Economia Brasileira; nelsonrr39@hotmail.com; (www.progeb.blogspot.com). Colaboraram
os pesquisadores: Guilherme de Paula, Mariana Tavares e Nertan Alves.
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