quarta-feira, 21 de dezembro de 2022

As dificuldades de 2023

Semana de 12 a 18 de dezembro de 2022

 

Nelson Rosas Ribeiro[i]

           

Os atos de vandalismo e a baderna provocada em Brasília pelas hordas de bolsomínions enfurecidos pela prisão do farsante pastor-cacique Serere, ainda ressoam, enquanto os caminhões de mudança discretamente continuam a trabalhar no palácio da Alvorada. Mas os fanáticos ainda esperam mais 72 horas pois o “mito” vai ressurgir das profundezas dos infernos com o seu prometido golpe. O delírio continua a ser alimentado pelo próprio presidente com suas declarações e pela conivência de autoridades policiais e militares que facilitam o apoio aos acampamentos nas áreas dos quarteis do exército que se transformaram em covís de marginais. Triste papel dos comandantes destes quarteis que se tornaram coiteiros de bandidos. Até quando estes abusos serão tolerados sem que os responsáveis sejam punidos?

A tensão aumenta com a aproximação do dia da posse do novo presidente, diante das ameaças de atentados para impedi-la, o que parece não preocupar os eleitos, pois as nomeações dos futuros ministros e auxiliares continuam a ocorrer a cada dia como se nada de extraordinário estivesse ocorrendo. À medida em que os nomes são divulgados, os ânimos vão se acalmando com os esperneios previsíveis. As questões econômicas são as que provocam os maiores ataques de pelanca do tal “mercado”, acompanhados pelo coro de muitos analistas partidários da austeridade fiscal a todo custo e cupinchas dos setores mais reacionários da burguesia. Até esquecem os desmandos do governo Bolsonaro com os estouros do teto, os atos eleitoreiros de última hora e a farsa de orçamento aprovado, irresponsável e irrealizável.

Enquanto isso, Bolsonaro se despede assinando atos administrativos de última hora, tentando aproveitar os momentos finais para nomear seus cupinchas que ficarão desempregados e complementar seus planos de destruição do país. Como ele mesmo afirmou, o que ele sabe fazer é matar, foi isto que aprendeu como oficial de artilharia. E foi tão mau aluno que o Exército não o quis. Mas, o pouco que aprendeu foi suficiente para matar, não apenas pessoas (só na pandemia mais de 600.000), mas um país. A destruição que o seu governo causou levará muito tempo para ser reparada. O novo governo enfrentará um primeiro ano infernal pois as bombas econômicas de efeito retardado deixadas por ele já começaram a estourar.

Com efeito, como temos demonstrado, a desaceleração da economia continua em marcha. O próprio Banco Central (BC), em seu relatório de inflação de dezembro, prevê que em 2023 o PIB crescerá apenas 1%, a indústria terá crescimento zero e os serviços 0,9%. Só a agricultura terá crescimento (7%), mas a Formação Bruta de Capital Fixo, indicador dos investimentos, crescerá apenas 0,3%. O BC atribui tudo isto à taxa de juros real elevada que, já no último trimestre do ano atual, chegou a 7,8%. O BC divulgou ainda o Índice de Atividade Econômica do Banco Central (IBC-Br), considerado indicador antecedente do crescimento do PIB. Este Índice mostrou uma desaceleração de -0,05%, em outubro. Lembremos que, em setembro, indicou um crescimento de apenas 0,05%. Se considerarmos a grande possibilidade de agravamento da situação internacional, a inflação pode piorar e levar o BC a aumentar ainda mais a taxa Selic o que agrava a desaceleração. O orçamento fantasma e as irresponsabilidades eleitoreiras do governo Bolsonaro podem provocar um agravamento da dívida pública o que criará maiores dificuldades no primeiro ano do novo governo. Uma situação difícil a ser enfrentada.

A economia já emite sinais negativos que permitem prever o que se aproxima. A Pesquisa Mensal de Serviços (PMS) do IBGE, mostrou uma queda de -0,6% no volume de serviços em outubro. Três das cinco atividades recuaram, com destaque para os Transportes (-1,8%) e serviços prestados às famílias (-1,5%). Estes dados levam os analistas e a própria FGV Ibre a prever uma desaceleração geral no quarto trimestre deste ano. Aqui nesta coluna temos seguidamente alertado para estes fenômenos que agravam as nossas próprias dificuldades. Eis o que nos espera em 2023.


[i] Professor Emérito da UFPB e Vice Coordenador do Progeb – Projeto Globalização e Crise na Economia Brasileira; nelsonrr39@hotmail.com; (www.progeb.blogspot.com). Colaboraram os pesquisadores: Guilherme de Paula, Mariana Tavares e Nertan Alves.

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