Semana de 05 a 11 de dezembro de 2022
Lucas Milanez de Lima
Almeida [i]
Por
motivos distintos e difusos, frações da sociedade brasileira têm sofrido com os
últimos acontecimentos da última semana. Não poderia deixar de registrar a dor
de ver a seleção levar um gol de contra-ataque, aos 116 minutos de um jogo de
futebol e em plenas quartas de final de Copa do Mundo. A equipe toda falhou
naquele momento. Essa, talvez, seja a dor mais disseminada no país.
Porém,
três dias depois da eliminação, pudemos comemorar a diplomação de mais um
presidente democraticamente eleito. Assim, com esse terceiro mandato, Lula
constrói um verdadeiro triplex na cabeça dos bolsonaristas. E aqui vale
ressaltar o empenho do atual presidente do TSE, Alexandre de Moraes, para
garantir que a democracia fosse respeitada. O meu eu, de 12 maio de 2016, dia
da sua nomeação como ministro do STF, jamais pensou que Moraes seria um
“paladino da justiça” em 2022.
Isto,
no entanto, despertou choro e ranger de dentes em uma parte dos brasileiros. Neste
mesmo dia da diplomação de Lula, viu-se um rebanho de bolsominions desgarrados
botando terror em Brasília. O motivo é curioso, pois envolve mais um personagem
caricato do multiverso bolsonarista: um indígena cacique-pastor-missionário. O
Serere Xavante foi preso, dentre outras coisas, por incitar e liderar atos
criminosos contra Lula e contra a democracia. Para piorar, depois do
quebra-quebra, dos incêndios e da baderna, ninguém foi preso em flagrante. A
suspeita é de conivência de parte das forças policiais com os manifestantes.
Por
sua vez, o sentimento de medo, ao qual me refiro no título da análise, já vem
sendo tratado há algumas semanas: o medo do “mercado”. Na medida em que avançam
as tratativas e indicações dos futuros ministros do governo Lula, avançam
também as “análises” e opiniões de que as coisas já estão no caminho errado.
Não é difícil encontrar nos grandes portais ligados ao setor financeiro as
notícias que decretam o futuro desastre brasileiro.
Baseados
em teorias que respeitam pouco a realidade e os fatos, tais “analistas”
projetam para o futuro aquilo que vivemos hoje, como se nada ou pouca coisa
pudesse mudar ao longo do tempo. É como se o fraco crescimento econômico de
hoje fosse perdurar e, com isso, não fosse possível pagar os gastos e os
investimentos pretendidos pelo novo governo. Mas, como é bem sabido por
qualquer economista que tenha estudado bons manuais de macroeconomia, os
investimentos governamentais tem um forte efeito de retroalimentar a atividade
econômica. Com isso se gera mais renda. Com mais renda há maior arrecadação de
tributos. Daí viria a receita para quitar os investimentos.
Mas,
não se poderia esperar outra coisa dos analistas do “mercado”. Esses são os
mesmos que sempre defendem o nosso papel tradicional no sistema econômico
mundial, de país subordinado. Na cabeça deles é assim: façamos o mais fácil
(economia baseada em produtos primários) e deixemos o difícil para os outros
(economia de maior complexidade tecnológica). Para eles a economia e o
orçamento público estão ótimos da maneira como se encontram hoje, pois sempre
saem ganhando. Querer aumentar a dívida pública é um pecado, mais ainda se o
objetivo é dar dinheiro aos pobres ou investir em infraestrutura, educação,
ciência e tecnologia. O dinheiro público tem que ir para a gestão da dívida,
aliás, a única cifra do orçamento para a qual não se discute um ajuste ou
sacrifício.
É na
flexibilização dessas exigências do “mercado” que está a esperança de dias
melhores para o Brasil e os brasileiros. Como estamos vendo, o futuro governo
já está a governar. Além de conseguir aprovar no Senado uma PEC para aumentar
os gastos em 2023, a equipe de transição conseguiu dinheiro para Bolsonaro e
Paulo Guedes pagarem as contas de 2022. Não fosse isso muitos serviços públicos
iriam parar, literalmente.
Mas, como destacamos nas últimas análises, o “mercado” é muito duro na queda. A chance de dobrá-lo sem sequelas é (quase) zero. Por isso, que o novo governo toque seus projetos, doa em quem doer. Mas deixo claro, também estaremos aqui pra fiscalizar...
[i] Professor
do DRI/UFPB e do PPGRI/UEPB; Coordenador do PROGEB. (@progebufpb, www.progeb.blogspot.com; lucasmilanez@hotmail.com).
Colaboraram os pesquisadores: Guilherme de Paula, Mariana Tavares e Nertan
Gonçalves.
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