sexta-feira, 24 de março de 2023

PIB x BC: a batalha pela vida

Semana de 13 a 19 de março de 2023

 

Lucas Milanez de Lima Almeida [i]

 

Há duas semanas saíram os números do PIB brasileiro para 2022. Como vimos, o crescimento de 2,9% não foi ruim (comparando-se com nosso histórico recente). Porém, estamos muito longe do ideal. Nesta análise vou abordar pontos que não foram levantados naquele momento.

Como já foi dito em análises passadas, o capitalismo é um sistema que cria condições para que o crescimento econômico alterne entre momentos de maior ou menor intensidade da produção, do emprego, dos salários, do lucro etc. Isso já foi comprovado por diversos trabalhos científicos. Este fenômeno é chamado de ciclo econômico e está dividido em quatro fases: crise, depressão (ou fundo do poço), reanimação e auge. A economia mundial iniciou sua última crise entre 2018 e 2019. Mas logo em seguida veio a Pandemia de Covid-19, que “atrapalhou” a plena manifestação desta crise. Chegados a vacina e o fim das regras rígidas de isolamento social, a economia “voltou” à normalidade. Assim, a destruição de capitais em excesso, interrompida pela ajuda dos Estados durante a Pandemia, voltou a atacar em meados de 2022. Como tem sido a característica das últimas crises desde os anos 1990, este retorno tem como gatilho a quebra de instituições financeiras no principal centro dinâmico do sistema capitalista: os EUA. Por sua vez, como um país integrado (de forma dependente) à economia mundial, é inevitável ao Brasil sofrer com o retorno desta crise.

É nesse contexto que um crescimento de 2,9% é bom, porque está acima da média brasileira nos anos anteriores à Pandemia. Mas também é ruim, porque o Brasil cresceu menos do que a maior parte dos países relevantes no mundo. Soma-se a isso o fato de que o pior ainda está por vir. Por isso mesmo (por estarmos em meio a uma crise) as medidas eleitoreiras adotadas por Bolsonaro em 2022 tiveram um fraco resultado de médio/longo prazo. Foram “eficientes” apenas enquanto estavam vigentes. Em condições favoráveis (quando não estamos no meio de uma crise), os estímulos (mesmo que pontuais) tendem a se propagar no tempo. Isto acontece através dos chamados efeitos multiplicadores: quando aumenta a renda, aumenta o consumo, que aumenta a produção, que aumenta o emprego, que aumenta a renda, que aumenta o consumo...

É nesse contexto que se trava a batalha entre o democraticamente-eleito Presidente da República, Lula, e o indicado-por-Bolsonaro Presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto (neto em uma longa linhagem de banqueiros notórios da história brasileira, sendo seu avô um dos pilares da política econômica do início da Ditadura Militar). Como temos visto nos noticiários, o BC está mantendo uma política de juros elevados, ao ponto de termos a maior taxa real de juros do mundo. Porém, isto tem como resultado imediato a desaceleração da atividade econômica. Dentre outros, o motivo é que, pelo lado do crédito, tomar dinheiro emprestado fica (ainda) mais caro. Com isso, empresas e consumidores retraem seu consumo e isso esfria a produção, a renda etc. Pelo lado do custo de oportunidade, quem tem dinheiro disponível tende a colocar seu dinheiro em aplicações referenciadas na taxa Selic, que paga mais e com menor risco em relação a muitos investimentos produtivos. Ou seja, a atual política monetária contribui para aprofundar os efeitos da atual crise econômica, o que vai de encontro ao projeto político aprovado pela maioria da população brasileira nas Eleições de 2022.

Sem adentrar na discussão sobre esse “erro” que o BC tem cometido há algum tempo, coisa que fiz em outra análise (link), apenas duas coisas podem justificar a atual política de juros: o objetivo do BC ou é manter a renda de uma pequena parcela da população, os famosos rentistas; ou é piorar a situação das empresas que já estão sofrendo com a crise atual. Por mais perversa que pareça, esta última opção traz um resultado positivo para alguém: quando entram em falência, as empresas (como a Americanas, para citar só um exemplo) são engolidas por outras gigantes. Saem ganhando quem tem capital para comprar a massa falida. Seria muito maquiavelismo pensar nessa hipótese, mas é a realidade. Em outra ocasião voltamos a este assunto.


[i] Professor do DRI/UFPB, PPGCPRI/UFPB e PPGRI/UEPB. Coordenador do PROGEB (@progebufpb, www.progeb.blogspot.com; lucasmilanez@hotmail.com). Colaboraram os pesquisadores: Guilherme de Paula, Cecília Fernandes e Nertan Gonçalves.

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